16 Fevereiro 2024
Na madrugada de 7 de fevereiro, cerca de 15 judeus atravessam a Cidade Velha de Jerusalém para rezar no Monte do Templo. O terceiro local mais sagrado do Islã, que o chama de Haram al-Sharif (Nobre Santuário), foi construído exatamente onde ficava o antigo templo de Jerusalém, o lugar mais sagrado para os judeus.
A reportagem é de Alix Champlon, publicada por La Croix International, 12-02-2024. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O grupo foi escoltado pela polícia israelense, que está presente para conter possíveis confrontos com os palestinos. E por uma boa razão: as visitas regulares desses judeus violam o frágil status quo concluído em 1967. Concede aos não muçulmanos horários de visita definidos e os proíbe de rezar no Monte do Templo, Har HaBayit em hebraico.
Ao mesmo tempo, a presença do pequeno grupo no Monte do Templo desafia as regras do Grão-Rabinato de Israel, que não permite que os judeus se aproximem do “Santo dos Santos” no Monte do Templo. No entanto, a Associação Har HaBayit, que organiza essas idas e vindas, busca um propósito que vai além dessas considerações. Pois, ao reivindicarem esse espaço sagrado, seus membros acreditam que estão trabalhando para a construção do terceiro templo (depois que o segundo foi destruído pelos romanos no ano 70), que, segundo eles, deverá preparar o caminho do Messias.
Har HaBayit não está sozinho no esforço de “acelerar a vinda do Messias”. Desde a anexação da Cidade Velha de Jerusalém em 1967, o pensamento messiânico do rabino Abraham Yitzhak Ha Cohen Kook, conhecido como Rav Kook, mesclando religião e sionismo, impulsionou a criação de diversas associações. Assim, o Temple Institute dedica-se desde 1987 à reconstrução de canções, tradições e utensílios perdidos após a destruição do templo, enquanto a associação Boneh Israel (“Construindo Israel”) dedica-se à importação de novilhas vermelhas do Texas. Gado esse cujo sacrifício seria indispensável aos sacerdotes do futuro terceiro templo.
Embora sejam uma minoria, essas associações estão registrando um desenvolvimento significativo. Financiadas por redes cristãs evangélicas estadunidenses, elas receberam apoio nos últimos dois anos dos proponentes do sionismo religioso que pertencem ao governo de Benjamin Netanyahu.
Contudo, o sionismo religioso e o messianismo não se sobrepõem inteiramente. Assim, nem todos os sionistas religiosos são messianistas e, inversamente, o messianismo é muito mais diversificado em Israel. Se a espera do Messias continua marcando a liturgia e a história talmúdicas, “hoje, a espera de um Messias personalizado é encontrada apenas em alguns círculos judaicos ortodoxos da comunidade hassídica”, explica Mireille Hadas-Lebel, historiadora do judaísmo antigo.
O messianismo é hoje um termo genérico que designa antes a esperança de uma era de redenção e de paz, ou mesmo de uma nova humanidade. Em essência, hoje existem “tantos tipos de messianismo quantos judeus”, diz a historiadora.
“Na tradição judaica, o messianismo se realiza em duas etapas”, especifica Roberta Collu-Moran, pesquisadora de antropologia das sociedades judaicas contemporâneas do Institut Catholique de Paris.
A primeira etapa é a “reunião dos exilados em suas terras”, isto é, dos judeus nas terras bíblicas. Isso deve ser completado pelo “sucesso da moralidade no mundo e pelo retorno espiritual de Israel”. Isso levará à segunda etapa, a construção do terceiro templo em Jerusalém. Essas etapas, mencionadas no livro de Ezequiel, fornecem a base ideológica para o sionismo religioso de hoje.
Mas persiste um desacordo: o fim do exílio deveria ser concretizado pelas pessoas ou por Deus? Nesse ponto, os círculos ortodoxos hassídicos diferem dos princípios sionistas dos séculos XIX e XX. Se para eles os judeus devem regressar a Israel, não cabe aos humanos intervir.
No entanto, foi um rabino ortodoxo hassídico, “Rav Kook”, quem reviveu a ideia de um messianismo “territorial” no início do século XX. Ele viu Theodor Herzl (1860-1904), que foi um dos primeiros a defender um Estado nacional para os judeus, como um “pré-Messias”. Rav Kook incentivou o retorno dos judeus a Israel e, após sua morte em 1935, seus ensinamentos ganharam força à medida que o Estado de Israel foi sendo construído.
Cada avanço era percebido como um sinal divino, sendo a anexação de Jerusalém Oriental por Israel em 1967 um ponto de virada para esse movimento. Assim, ao obter seus recursos do messianismo judaico, o sionismo religioso tem gradualmente tomado precedência sobre o ideal sionista secular dos pioneiros socialistas de Israel.
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Quem são os judeus que querem apressar a vinda do Messias em Israel? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU