01 Novembro 2023
O Sínodo, entendido como assembleia, acabou. Mas certamente não termina o caminho sinodal que agora, depois de quatro semanas de intenso trabalho no Vaticano, a publicação do Relatório de síntese no sábado à noite e a Missa final do Papa no domingo de manhã, regressa às Igrejas particulares para mais um trecho de estrada. Aquele que levará à nova assembleia sinodal em outubro de 2024.
A reportagem é de Mimmo Muolo, publicada por Avvenire, 31-10-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Contudo, adquirimos duas certezas a partir das quais podemos recomeçar. Por um lado, uma Igreja – como disse Francisco na homilia final – dócil à ação do Espírito Santo (verdadeiro protagonista do Sínodo) e, portanto, “serva de todos, serva dos últimos”. Uma Igreja “que nunca exige um atestado de ‘boa conduta’, mas acolhe, serve, ama” e tem constantemente as portas abertas, configurando-se como um “porto de misericórdia”. E por outro lado, a segunda certeza, o próprio Relatório de síntese, que apesar de ser um documento interlocutório, ainda assim oferece uma visão global dos pontos de acordo e daqueles sobre os quais ainda será preciso trabalhar, que apareceram durante o encontro sinodal recém-concluído.
As palavras pronunciadas pelo Pontífice no domingo são de alguma maneira indicativas do rumo a seguir. Com paciência, mas ao mesmo tempo com confiança. “Talvez tenhamos realmente muitas boas ideias para reformar a Igreja – disse na homilia proferida na Basílica de São Pedro – mas lembremo-nos: adorar a Deus e amar os irmãos com o seu amor, essa é a grande e perene reforma. Ser uma Igreja adoradora e uma Igreja de serviço, que lava os pés da humanidade ferida, acompanha o caminho dos frágeis, dos fracos e dos descartados, e vai com ternura ao encontro dos mais pobres.
E aqui o pensamento do Papa foi “para aqueles que são vítimas das atrocidades da guerra; para o sofrimento dos migrantes, para a dor oculta de quem se encontra sozinho e em condições de pobreza; para aqueles que estão esmagados pelos fardos da vida; para aqueles que não têm mais lágrimas, para aqueles que não têm voz”. E “penso – acrescentou – quantas vezes, por trás de belas palavras e promessas persuasivas, se favorecem formas de exploração ou nada se faz para evitá-las”. É uma pena, um grave pecado. O mesmo estilo de confiança, proximidade com os pobres e paciência na espera dos resultados deverá agora ser adotado para a continuação do Sínodo.
“Hoje não vemos o fruto completo desse processo – advertiu o Papa – mas com clarividência podemos olhar para o horizonte que se descortina diante de nós: o Senhor nos guiará e ajudará a ser uma Igreja mais sinodal e mais missionária, que adora a Deus e serve as mulheres e os homens do nosso tempo, saindo para levar a todos a alegria consoladora do Evangelho”.
Tudo isso se reflete nas 40 páginas do Relatório de síntese. Um documento dividido em três partes que aborda todos os temas que surgiram durante as quatro semanas de trabalho. Mulheres e leigos, sacerdócio e diaconato, ministério e magistério, paz e clima, pobres e migrantes, ecumenismo e identidade, novas linguagens e estruturas renovadas, antigas e novas missões (também digitais). Mas acima de tudo a escuta de todos e de cada um. Também daqueles – e teve vários – que não estão alinhados com algumas das questões enfrentadas. Os parágrafos (todos aprovados por maioria de pelo menos dois terços) que receberam menos de 300 votos são os três pontos que abordam a questão do diaconato feminino, um parágrafo que diz respeito à oportunidade de incluir presbíteros que deixaram o ministério num serviço pastoral que valorize a sua formação e experiência, e outro parágrafo que fala sobre a celibato sacerdotal, onde se especifica que alguns perguntam se a sua conveniência teológica deveria necessariamente se traduzir em uma obrigação disciplinar na Igreja latina. Pouco mais de 300 votos recebeu o ponto que se refere a algumas questões, como aquelas relativas à identidade de gênero e orientação sexual (a sigla LGBTQ+ não é mencionada na Síntese, embora tenha aparecido no Instrumentum laboris). Importante a ressalva que não se deve clericalizar os leigos. Ao mesmo tempo que há uma exortação para um empenho da Igreja tanto pela “denúncia pública das injustiças” perpetradas por indivíduos, governos, empresas, quanto para o empenho ativo na política, associações, sindicatos, movimentos populares (4 g). Sem deixar de lado a ação consolidada da Igreja nos campos da educação, saúde e assistência social. Em última análise, o rosto da Igreja Sinodal coincide com aquele da Igreja em missão. Em saída porque aberta a todos.
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“Graças ao Sínodo um novo horizonte”. O Papa pede um olhar clarividente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU