“O Papa, a Santa Sé, falei disso com todos e todos estão muito preocupados e consternados com o que aconteceu e como aconteceu, uma tragédia horrível, tão de repente...”. O novo cardeal Pierbattista Pizzaballa, patriarca de Jerusalém, deixou o Sínodo no Vaticano e acaba de regressar à Cidade Santa. “É a Jerusalém típica dos períodos de guerra. Deserta, quase paralisada. Sente-se medo, ressentimento, raiva. Na cidade, as relações cotidianas entre judeus e árabes são em geral bastante tranquilas. Agora cada um fica em seu canto”.
A entrevista é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 11-10-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Que problemas o senhor está enfrentando agora, Eminência?
Bem, existem vários. Em Gaza temos cerca de mil cristãos, católicos e de outras confissões, não fazemos diferença. Quase todos estão reunidos no complexo da igreja da Sagrada Família, lá também funciona uma escola. As famílias, as pessoas ficam juntas e assim se apoiam. O mesmo acontece em todas as comunidades cristãs, em Belém, em Ramallah, em Israel. Claro que há muita tensão. Gaza está sitiada, todas as passagens entre a Palestina e Israel estão fechadas.
A embaixada israelense acusou numa nota de "imoral ambiguidade linguística" a carta dos “Patriarcas e chefes das Igrejas de Jerusalém” porque não mencionava o Hamas...
Lemos isso, mas não é o momento de criar polêmicas com o ministério. Entendemos totalmente o estado de espírito, a consternação e a raiva pelo horror e pela barbárie que foram vistos nos últimos dias. Parece-me uma nota excessiva no tom e no conteúdo, mas neste momento queremos construir relações, olhar para frente.
A execução de crianças nos kibutzim, as mulheres sequestradas, estupradas e mortas. No ataque do Hamas viu-se algo que vai muito além das violências do passado...
Concordo, por isso falo de consternação e até incredulidade. É uma novidade assombrosa e absoluta que não poderá não deixar consequências claras nas relações. Já faltava confiança entre as duas populações e agora será ainda mais difícil reconstruir uma possível relação. Acrescento, para evitar confusão, que a nossa condenação por aquelas atrocidades é total, incondicional.
É um ponto sem volta?
Não sei, espero e acredito que não, porque penso que os dois povos estejam destinados a chegar a um acordo com a existência do outro. O Hamas não é o povo palestino. Essa situação traz de volta à agenda a questão palestina, negligenciada nos últimos tempos. Até que seja dada ao povo palestino uma perspectiva de serenidade, independência e paz, não haverá estabilidade.
Como sair disso?
É preciso esperar que as armas se calem, essa é a primeira coisa. Depois haverá muito trabalho em nível político e religioso, para pelo menos abrir canais de comunicação. Os tempos serão longos, o que está acontecendo criou um ódio, uma desconfiança profunda que não desaparecerá da noite para o dia. Vai demorar muito tempo. Sem um mínimo de comunicação, porém, não há perspectiva. Mas agora é o momento da dor.
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“Consternação por uma tragédia horrível. A nossa condenação incondicional”. Entrevista com Pierbattista Pizzaballa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU