16 Agosto 2023
Quando Cynthia Bailey Manns recebeu uma ligação no mês passado perguntando se ela aceitaria um convite para participar do Sínodo sobre a Sinodalidade em Roma deste ano, ela sentiu que foi “um choque completo”.
A reportagem é de Michael J. O'Loughlin, publicada por America, 08-08-2023.
Embora a diretora de formação, da Paróquia de St. Joan of Arc em Minneapolis soubesse que Dom Bernard Hebda havia apresentado seu nome como uma possível participante, a Sra. Bailey Manns não esperava que isso fosse a lugar nenhum.
"Quais são as chances?", perguntou na época. “Então, eu continuei com minha vida normalmente”.
Continuar com sua vida significou atender aos muitos programas de extensão paroquial que ela ajuda a dirigir: preparando adultos para a iniciação cristã; ajudando a organizar as várias celebrações que a paróquia realiza regularmente, incluindo missas para famílias, encontros com a comunidade LGBT e bênçãos para animais de estimação; verificando os grupos de estudo bíblico e o ministério antirracismo.
Mas quando dois e-mails convidando-a para o sínodo não foram respondidos – ela soube mais tarde que eles acabaram em sua pasta de spam – o telefone tocou.
A Sra. Bailey Manns aceitou o convite e passará a maior parte de outubro em Roma, participando de uma série de diálogos e apresentações com o objetivo de ajudar o Papa Francisco a traçar o futuro da Igreja. Sua presença fará história, pois ela participará do primeiro sínodo em que leigos e mulheres servirão como delegados com direito a voto, ao lado de cardeais, bispos e padres. Bailey Manns, doutora em ministério, é uma das quatro pessoas leigas dos Estados Unidos indicadas pelo Papa Francisco para participar.
“Acredito muito no poder do Espírito Santo”, disse Bailey Manns à revista America. “Estou entusiasmada e curiosa sobre como o Espírito Santo vai trabalhar através de mim e através dos outros e como trabalharemos juntos”.
Bailey Manns ingressou no St. Joan's em 2016, quando solicitada pelo pastor para ser a diretora espiritual da paróquia, um papel que ela não havia imaginado anteriormente, pois os diretores espirituais geralmente trabalham um a um com os fiéis. Foi, porém, um que ela assumiu com gosto.
Por meio de seu trabalho, Bailey Manns, de 65 anos, disse que é capaz de “ouvir todas as histórias de como Deus está trabalhando na vida das pessoas”.
Ela aprecia as diversas experiências de vida que compõem a comunidade, destacando os vários tipos de ministérios que a paróquia oferece.
“Dos nossos grupos LGBTQ, dos nossos idosos à medida que envelhecem… dos nossos católicos negros… e das pessoas que sofreram abuso sexual… pessoas separadas, divorciadas e casadas novamente na Igreja que se sentem um pouco à margem”, disse ela.
Para as pessoas que vivem nas cidades gêmeas, a paróquia de St. Joan's existe como uma espécie de "paróquia de destino", disse Bailey Manns. “Não há muito que eu não veja aqui”.
Algumas das missas são únicas e ousadamente contemporâneas, com convidados leigos e paroquianos oferecendo breves reflexões antes da missa. Essas liturgias são realizadas em um ginásio, com fileiras de cadeiras dobráveis preenchidas por paroquianos, alguns dos quais vêm do bairro e outros de longe, dos subúrbios. A música é contemporânea, projetores exibem letras e as leituras, e a equipe leiga está presente e visível aos domingos.
Mas esse é apenas um lado de quem frequenta.
A St. Joan's procura oferecer algo para todos, incluindo celebração eucarística na capela, missas celebradas na igreja tradicional e grupos de estudo bíblico para homens e mulheres.
Ainda assim, as inovações litúrgicas e a cultura acolhedora da paróquia atraíram certa atenção negativa, em especial de católicos que preferem estilos de culto mais tradicionais, incluindo o grupo de mídia Church Militant. Esse tipo de atenção pode ser difícil, mas Bailey e os outros funcionários são gratos pelo apoio de seu pastor.
“Sou uma mulher afro-americana em um espaço que está fazendo o tipo de trabalho que... Cristo nos chama a fazer”, disse ela. “Estender a mão, pelo profundo amor de Deus, ao próximo, sem distinção”.
Durante um anúncio à paróquia no mês passado sobre a nomeação de Bailey Mann, o padre Jim DeBruycker elogiou seu ministério e reconheceu as fortes emoções que a St. Joan's provoca em alguns cantos da igreja.
“Esta nomeação ocorre depois de muitas avaliações de Cynthia, que também incluem onde ela trabalha”, disse o padre DeBruycker entre risos e aplausos. “Pode haver uma onda de choque passando pela diocese”.
Ele continuou: “Cynthia, estamos extraordinariamente orgulhosos de você e muito felizes por você ser capaz de carregar o espírito da nossa paróquia pela porta da frente do Vaticano como representante eleitora no sínodo”.
Reconhecendo algumas das críticas feitas à paróquia ao longo dos anos, Bailey Manns adotou um tom confiante quando se dirigiu à comunidade paroquial: “Para os que dizem que não somos católicos o suficiente, sim, somos, e é o papa que assim diz”.
Dom Bernard Hebda também elogiou Bailey Manns em uma nota publicadas em julho deste ano, destacando seu envolvimento no sínodo local, seu trabalho inter-religioso e seu serviço no conselho consultivo leigo da arquidiocese.
“Não é surpreendente para alguém com anos de experiência no ministério paroquial e na direção espiritual, a Dra. Bailey Manns é uma excelente ouvinte e parceira de diálogo articulada, habilidades que lhe serão úteis no Sínodo”, disse ele. “Sou grato que sua voz, fundamentada na experiência vivida em nossa Igreja local, seja ouvida no Sínodo”.
Bailey Manns, que atua no Discerning Deacons, grupo de apoio à inclusão de mulheres no diaconato, atuou como líder no sínodo diocesano, que começou em 2019, e participou da fase continental do sínodo do Vaticano no último ano. Ela disse que ambas foram experiências positivas que ajudaram a reforçar sua crença de que o Espírito Santo continua trabalhando na Igreja.
Quanto ao sínodo mundial, “acho que é um diálogo que pode levar a mudanças”, disse ela.
Ela reconhece que alguns católicos podem sentir que a Igreja não está se adaptando à vida moderna tão rapidamente quanto gostariam, e que uma série de diálogos não sinaliza a urgência necessária para enfrentar os desafios da Igreja.
O Papa Francisco já presidiu vários outros sínodos que também incluíram conversas sobre a sexualidade humana, o papel das mulheres na Igreja e o envolvimento com os jovens. Embora tenha havido algumas mudanças após essas conversas, os tipos de revisão geral e reformas das estruturas eclesiais que alguns católicos esperavam que Francisco inaugurasse não se concretizaram. Até mesmo alguns partidários do papa dizem que já se fala o suficiente – Francisco já é papa há mais de uma década – e que é hora de agir.
Mas a Sra. Bailey Manns tem uma visão de longo prazo.
“Sou uma mulher que nasceu no auge da segregação”, disse ela, “e aconteceram muitas coisas que me levaram até onde estou”.
Quanto ao seu papel no sínodo, ela diz que é sua responsabilidade ajudar “a plantar sementes e criar processos que possam levar as coisas adiante. E então descansar na certeza de que outra pessoa virá ao meu lado, atrás de mim, para continuar a fazer esse trabalho”.
Na entrevista, Bailey Manns repetidamente empregou duas palavras – esperança e paciência – quando questionada sobre como enxerga o papel do sínodo no contexto da vida católica e o que ela está ouvindo de outros católicos sobre a reunião.
“Não é realista acordar no fim do sínodo em outubro, ou depois do seguinte no próximo ano, e pensar que as coisas vão mudar automaticamente”, disse ela. “É um processo. É preciso paciência. Está bagunçado”.
Independentemente disso, “há muita esperança junto do Sínodo deste ano”, disse Bailey Manns. “Estou ouvindo mais pessoas usarem essas duas palavras juntas: esperança e paciência”.
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Conheça a leiga católica negra que representa os EUA no sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU