21 Junho 2023
Abram caminho para as mulheres, para os diferentes, para os pobres, para estruturas eclesiais menos engessadas. O maxi processo de renovação que há três anos o Papa Francisco quis iniciar em todas as Igrejas nacionais, autorizando-as a abrir internamente consultas de base capazes de trazer à tona as inovações sentidas como mais urgentes, chegou a um ponto crucial.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 20-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
As mulheres diaconisas, a participação dos leigos nos processos de decisão, a abolição do celibato, a relação a ser mantida com os casais homossexuais e o mundo Lgbt+, a aposta em estruturas menos burocráticas são apenas alguns dos temas do documento que vai servir de plataforma para a discussão mundial de outubro.
Os pontos mais temidos, portanto, chegaram a Roma e o Sínodo dos Sínodos, que se compõe de dois momentos distintos, está pronto para zarpar e chegar no âmago das questões. Esta manhã foi divulgado o documento preparatório - o Instrumentum laboris - que parte da leitura e análise dos documentos recolhidos nos últimos meses. “O objetivo era focar as intuições e tensões que ressoam com maior intensidade.”
Naturalmente, também são abordadas importantes reflexões de caráter internacional. “Das demasiadas guerras que cobrem de sangue o nosso planeta e requerem renovar o nosso empenho pela construção de uma paz justa à ameaça que representam as alterações climáticas com a consequente prioridade do cuidado da nossa casa comum; de um sistema econômico que produz exploração, desigualdade e "descarte" à pressão homogeneizadora do colonialismo cultural que esmaga as minorias; da experiência de sofrer perseguições até o martírio a uma emigração que progressivamente esvazia as comunidades ameaçando sua própria sobrevivência; do crescente pluralismo cultural que hoje marca todo o planeta à experiência das comunidades cristãs que representam pequenas minorias dentro do país em que vivem, até aquela de acertar as contas com uma secularização cada vez mais presente, e às vezes agressiva, que parece considerar irrelevante a experiência religiosa, mas não por isso deixa de ser sedenta da Boa Nova do Evangelho".
“O protagonista do Sínodo é o Espírito Santo” lê-se em várias passagens. Desta forma – destaca o documento - quanto mais intensamente foi acolhido o convite a caminhar juntos, mais o Sínodo se tornou o caminho pelo qual o Povo de Deus avança com entusiasmo, mas sem ingenuidade.
De fato, problemas, resistências, dificuldades e tensões, não são ocultados ou disfarçados, mas identificados e nomeados graças a um contexto de diálogo autêntico que permite falar e escutar com liberdade e sinceridade”.
No sínodo de outubro, pela primeira vez, também leigos e leigas poderão votar, e é uma novidade absoluta para criar uma Igreja sinodal aberta, acolhedora e que abraça a todos.
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No entanto, fica claro que a assembleia sinodal não pode ser entendida como representativa e legislativa, em analogia a um órgão parlamentar, com suas dinâmicas de construção da maioria. Mas aqui estão as principais questões que surgiram destinadas a dominar os trabalhos do Sínodo. Muitas são as perguntas que surgem no texto preparatório.
“As desigualdades que marcam o mundo contemporâneo atravessam também o corpo da Igreja, por exemplo, separando as Igrejas dos países ricos daquelas dos países pobres, ou as comunidades das zonas mais ricas e mais pobres de um mesmo país. Que instrumentos são necessárias para poder caminhar juntos entre Igrejas para além dessas desigualdades, experimentando uma autêntica circulação de dons?”
“O acolhimento dos migrantes torna-se uma oportunidade para caminhar junto com pessoas de outra cultura, especialmente quando compartilhamos a mesma fé? Que espaço têm as comunidades migrantes na pastoral ordinária? De que modo se valoriza a diáspora das Igrejas Orientais Católicas como oportunidade de experimentar a unidade na diversidade? Que vínculos se criam entre as Igrejas dos países de partida e aquelas dos países de chegada?”
“A comunidade cristã sabe caminhar junto com a sociedade como um todo na construção do bem comum ou se apresenta como um sujeito interessado em defender seus próprios interesses partidários? Consegue testemunhar a possibilidade da concórdia para além das polarizações políticas? Quais instrumentos assume para se formar nessas funções? Trabalhar pelo bem comum exige formar alianças e coalizões: que critérios de discernimento adotamos a esse respeito? Como a comunidade acompanha seus membros engajados na política?”
“Todas as Assembleias Continentais pedem para abordar o tema da participação das mulheres no governo, nos processos de tomada de decisão, na missão e nos ministérios em todos os níveis da Igreja, com o apoio de estruturas adequadas para que isso não permaneça apenas uma aspiração geral. De que modo as mulheres podem ser incluídas em cada uma dessas áreas em maior número e de novas maneiras? Como na vida consagrada as mulheres podem ser melhor representadas na governança e nos processos de tomada de decisão, melhor protegidas de formas de abuso e também remuneradas de forma mais justa por seu trabalho?”
“O ambiente digital já molda a vida da sociedade. Como a Igreja pode realizar sua missão de maneira mais eficaz dentro dela? Como devem ser reconfigurados o anúncio, o acompanhamento e o cuidado nesse ambiente? Como oferecer um reconhecimento adequado ao empenho missionário dentro dela e percursos de formação adequados para aqueles que o realizam? Como estimular o protagonismo dos jovens corresponsáveis pela missão da Igreja nesse espaço?”.
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O Sínodo chega ao seu momento principal, no roteiro preparado a Igreja dará espaço para mulheres, leigos, homossexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU