23 Fevereiro 2023
A Etapa Continental do Sínodo 2021-2024 na América Latina e Caribe realiza, de 20 a 24 de fevereiro, seu encontro com as Igrejas do Caribe, onde participam a diversidade de rostos eclesiais e as periferias geográficas e existenciais, escolhidos pelas diferentes conferências episcopais da região. Em coletiva de imprensa, foram anunciados os passos dados no processo da Etapa Continental.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Dom Miguel Cabrejos, depois de reconhecer o trabalho dos profissionais do mundo da comunicação, salientou a necessidade de agradecer a Deus por este Kairós, por este tempo de graça, chamando a espiritualizar estes momentos, porque "estamos reunidos sob a ação do Espírito Santo". O presidente do conselho episcopal da América Latina e do Caribe vê este processo como uma contribuição sem precedentes do Celam para a Igreja universal, explicando como a fase continental do Sínodo está a ser realizada.
Dom Miguel Cabrejos. (Foto: divulgação)
Encontros irão ser feitos, nos quais se realizará uma grande escuta, algo já feito em nível diocesano e nas conferências episcopais, "para encontrar desafios, propostas, projeções como região". Dom Miguel define como "a grande oportunidade que temos de expressar tudo isto e torná-lo conhecido das outras regiões, e depois torná-lo conhecido como Celam para a Igreja Universal". O presidente do episcopado peruano insistiu que esta grande escuta através do discernimento levará a "tomar as decisões pastorais corretas para o bem de toda a América Latina e do Caribe".
Dom Santiago Rodríguez expressou a sua gratidão pelo fato de Santo Domingo ter sido escolhido como local para este encontro, insistindo que queriam mostrar o rosto da Igreja no continente, "uma Igreja acolhedora e fervorosa". É um encontro que, segundo o diretor do Centro Nacional de Pastoral, "nos faz ver as grandes riquezas que temos, as esperanças, assim como os desafios que temos pela frente", numa atmosfera de diversidade e sinodalidade que procura ser reforçada na unidade.
Dom Santiago Rodríguez. (Foto: divulgação)
"A experiência do caminho sinodal deve ser traduzida e deve nos levar a viver na espiritualidade da escuta", afirmou a Irmã Daniela Cannavina. A secretária-geral da CLAR apelou a "dar um passo de qualidade, que é ir além de ouvir palavras", insistindo que "neste processo tentamos entrelaçar com o ver, com o sentir, com o apreciar e com o ouvir as palavras que ouvimos, mas também os silêncios, por vezes tão eloquentes e expressivos". Trata-se de um processo que quer ser Pascal, "porque nos liberta, faz-nos sentir de alguma forma capazes de sair de nós próprios, de acolher, abraçar e acompanhar aqueles que formam estas comunidades sinodais, onde desejamos partilhar os nossos desejos, os nossos anseios, tudo o que nos habita internamente", sublinhou a religiosa argentina.
É também uma espiritualidade de escuta e uma escuta pessoal e comunitária que é importante "porque procuramos certamente descobrir juntos a voz do Espírito em cada realidade particular", disse a religiosa. É uma espiritualidade de escuta que "nos ajuda a trabalhar por uma Igreja de portas abertas, sempre em saída, sempre samaritana, que tenta romper com a auto referencialidade para sair ao encontro de outras vozes, cheias de experiências", destacou. É algo que se experimenta nos espaços de oração, momentos para encontrar a força de fazer deste caminho sinodal uma experiência profunda do Espírito.
Irmã Daniela Cannavina. (Foto: divulgação)
Trata-se de um sínodo que, em Cuba, "nos permitiu recuperar o melhor da nossa Igreja, uma Igreja pobre e pequena, uma Igreja ferida no meio de um povo ferido", nas palavras do Padre Raúl Aderí.
No meio desta realidade, ele testemunhou que esta Igreja tem um tesouro, "o tesouro é Jesus, e nós queremos partilhar este tesouro com todas as pessoas, homens e mulheres que vêm até nós", insistiu o jesuíta. Um processo sinodal que ajudou a Igreja cubana a descobrir a importância de caminharmos juntos, citando como exemplo o Encontro Eclesial Nacional Cubano há 37 anos atrás, a visita de João Paulo II ou a peregrinação da Virgem da Caridade, porque naqueles tempos toda a Igreja estava envolvida. A partir daí, salientou que a Igreja cubana quer "revitalizar esse espírito, esse estilo de sinodalidade".
"O sínodo digital permitiu-nos chegar a todas aquelas pessoas que talvez não se congreguem, não crentes", disse Tahiana Cruz, que definiu o espaço digital como "um ambiente em que para além de um meio, é uma cultura que nos permite dar voz a milhões de pessoas em todo o mundo", incluindo as que estão longe. Um meio para todas as pessoas participarem neste momento histórico na vida da Igreja, "aberta a continuar a transformar, a continuar a acompanhar e a trabalhar em conjunto, porque somos uma Igreja universal em termos de escuta, solidariedade e união fraterna".
Um processo sinodal que nunca deve terminar, como insistiu Dom Miguel, salientando que "a sinodalidade deve ser um ser, um ser na Igreja, que está incorporado numa forma de ser, uma forma de viver na Igreja". Para além das diferentes etapas, este é um processo que na sua essência "está a começar e esperemos que nunca acabe", insistiu o presidente do Celam, apelando à "apropriação de um modo de viver e de estar na Igreja".
Uma assembleia regional que começou na Catedral Primaz da América e sob a figura de Montesinos, algo que Dom Santiago Rodríguez definiu como emblemático e significativo, porque "é a voz que grita no deserto, é a voz daqueles que não têm voz, daqueles que nessa altura estavam a ser excluídos, maltratados, não compreendidos e muito menos bem recebidos, porque eram diferentes". A partir daí, o Bispo de San Pedro de Macorís salientou que "o Sínodo nos leva a retomar este grande anúncio de Montesinos", nas periferias que clamam pela presença sanadora, pacificadora da Igreja.
Um processo de escuta e uma etapa continental em que "a participação dos jovens tem sido muito ativa", segundo Tahiana Cruz, especialmente no espaço digital. O presidente do Celam apelou à participação dos jovens no Sínodo Digital, ainda mais considerando a ausência das vozes dos jovens na Igreja, como recordou o Pe. Raúl Aderí, definindo-a como "uma pobreza para a nossa Igreja que os jovens não estão presentes" e salientando que muitos jovens "não veem que a linguagem da Igreja fala ao seu coração, não sentem que as perguntas que se fazem a si próprios têm respostas na Igreja".
Por esta razão, o jesuíta cubano vê o Sínodo como "uma oportunidade para nos convertermos como Igreja", para escutar e acolher, para mostrar a importância da sua presença. Os jovens são o presente e o futuro da Igreja, nas palavras de Dom Santiago Rodríguez, que apelou aos pastores para fazer dos jovens "a nossa opção preferencial", e daí mostrar que os jovens fazem parte da grande família da Igreja.
Miguel Cabrejos sublinhou a importância do serviço petrino e a orientação do Espírito Santo, apelando a um regresso ao espírito dos Atos dos Apóstolos, a um espírito de unidade. Uma unidade que deve ser alcançada na diversidade, segundo Dom Santiago Rodríguez, e que é alcançada sob a orientação e ação do Espírito Santo. Uma unidade que nos dá identidade e força, segundo as palavras do bispo dominicano.
Há diferentes modos de participação, especialmente na esfera digital, onde 20 milhões de pessoas em todo o mundo, muitas mulheres e 30% que se declaram não crentes, se fizeram presentes, um exemplo de "uma Igreja mais inclusiva, uma Igreja que escuta e que também abre uma nova possibilidade", disse Tahiana Cruz, missionária digital que destacou a importância destes evangelizadores digitais, o que está a levar à geração de "planos de formação para poder continuar a crescer na fé". Uma participação também destacada da Vida Religiosa Feminina, segundo a Ir. Daniela Cannavina, que realizou "um trabalho muito importante em comunhão com toda a Igreja".
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Etapa Continental do Sínodo no Caribe: Partilhar desejos e anseios numa Igreja de portas abertas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU