08 Novembro 2022
Em Lourdes, onde se realiza o plenário da Conferência Episcopal Francesa, o presidente Moulins-Beaufort anunciou publicamente que vários prelados estão "implicados" perante a justiça canônica e civil. Entre eles o Cardeal Ricard, emérito de Bordeaux, que admitiu sua conduta "reprovável" em relação a uma menor 35 anos atrás.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican News, 07-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há também um cardeal entre os bispos franceses, alguns eméritos, que estão ou estiveram no passado "implicados" em casos de violências sexuais. Enquanto ainda têm forte repercussão na França as polêmicas sobre o caso Santier - o caso recentemente surgido do bispo emérito de Créteil sancionado em 2021 pelas autoridades do Vaticano por "abusos espirituais que resultaram em voyeurismo sobre dois homens adultos" nos anos 1990 -, o presidente da Conferência Episcopal Francesa (CEF), monsenhor Éric e Moulins-Beaufort, anunciou hoje que há bispos "que foram implicados perante a justiça de nosso país ou a justiça canônica".
Moulins-Beaufort divulgou isso em uma conferência de imprensa em Lourdes, onde 120 bispos franceses estão reunidos para a assembleia plenária no outono desde 3 de novembro. Assembleia que, como o próprio presidente da CEF disse na abertura dos trabalhos, havia ficado atordoada em seu programa pelo caso Santier. São seis os padres chamados em causa pela justiça civil e canônica, explicou hoje Moulins-Beaufort, sem revelar os nomes, pois as investigações ainda estão em andamento. A esses seis se somam o já citado bispo Santier e o cardeal Jean-Pierre Ricard, ex-presidente da Conferência Episcopal Francesa de 2001 a 2007.
Um total, portanto, de oito bispos.
“Dois outros que não estão mais no cargo - acrescentou o presidente da CEF - estão atualmente sendo investigados pela justiça de nosso país após a denúncia de um bispo e um procedimento canônico; um terceiro foi denunciado ao Ministério Público, ao qual até agora não foi dada resposta, e recebeu da Santa Sé medidas de limitação de seu ministério”. Assim se chega ao número de onze.
Entre os onze prelados, há também o nome do cardeal Jean-Pierre Ricard, bispo emérito de Bordeaux, que admitiu uma conduta "reprovável" em relação a uma garota de 14 anos, trinta e cinco anos atrás, quando era pároco. A história surgiu por vontade do próprio cardeal que, em um comunicado, explica os motivos de sua confissão: "Hoje, quando a Igreja na França quis ouvir as vítimas e agir na verdade, decidi não esconder mais a minha situação e me colocar à disposição da justiça tanto no plano da sociedade quanto da Igreja. Essa abordagem é difícil. Mas primeiro há o sofrimento vivido pelas vítimas e o reconhecimento dos atos cometidos, sem querer esconder a minha responsabilidade”.
Ricard no comunicado denuncia seu comportamento em relação à menor, afirmando que isso "causou necessariamente consequências graves e duradouras para essa pessoa". Ele diz que pediu perdão a ela e quer renovar o pedido de desculpas a ela e "toda a sua família". “É por esses atos que decido pedir um tempo de retiro e oração”, escreve o cardeal. "Peço desculpas àqueles que feri e que viverão esta notícia como uma verdadeira provação".
O Papa Francisco nos últimos dias havia enviado uma carta ao episcopado francês, assinada pelo cardeal secretário de Estado Pietro Parolin, na qual pedia "com os olhos fixos na cruz de Cristo", para não desanimar diante dessas provações e de assegurar uma proximidade absoluta para as vítimas de abusos, bem como com aqueles que estão devastados e revoltados com os escândalos.
Sobre o tema dos abusos, o Papa voltou ontem durante a entrevista no avião com os jornalistas que o acompanharam em sua viagem ao Bahrein. Respondendo a um cronista francês, o Pontífice assegurou que dentro da Igreja estamos “trabalhando com tudo o que podemos” para combater esse drama, mesmo que “há pessoas dentro da Igreja que ainda não enxergam claramente, não compartilham...”. “Existe a tentação de aceitar compromissos”, disse Francisco, “mas a vontade da Igreja é esclarecer tudo” e “ir em frente”, com a “graça” da vergonha.
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França, onze bispos sob investigação por casos de abusos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU