07 Outubro 2022
Os católicos alemães envolvidos no Caminho Sinodal estão convencidos de que a Igreja deve abordar as “causas sistêmicas” do escândalo de abuso sexual clerical e isso exigirá mudanças, disse Charlotte Kreuter-Kirchhof, membro da Assembleia Sinodal Alemã.
A reportagem é de Cindy Wood, publicada por National Catholic Reporter, 05-10-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
E enquanto algumas das mudanças propostas pela assembleia soam radicais para algumas pessoas – com os críticos mais severos até mesmo alertando que o Caminho Sinodal poderia levar ao cisma – Kreuter-Kirchhof disse: “Somos membros da Igreja Católica Romana e permaneceremos membros da Igreja Católica Romana”.
Kreuter-Kirchhof, professora de Direito e membro do Conselho Vaticano para a Economia, falou sobre o Caminho Sinodal em uma conferência no dia 4 de outubro na Embaixada da Alemanha junto à Santa Sé.
A quarta assembleia do Caminho Sinodal foi em setembro. A quinta e última reunião está marcada para março.
Na esteira do escândalo dos abusos clericais e com a divulgação de um grande estudo sobre suas causas, a Conferência Episcopal Alemã e o Comitê Central dos Católicos Alemães lançaram o Caminho Sinodal em 2019. O processo começou com fóruns para discutir questões nas quatro áreas identificadas pelo estudo como contendo as “causas sistêmicas” do abuso sexual e seu encobrimento: o exercício do poder na Igreja; moralidade sexual; existência sacerdotal; e o papel das mulheres na igreja.
“O abuso trouxe sofrimento sem fim às vítimas”, disse Kreuter-Kirchhof, e “a Igreja perdeu uma quantidade infinita de confiança”.
Cerca de 360 mil pessoas deixaram oficialmente a Igreja na Alemanha em 2021, e o número parece ser ainda maior para 2022, disse ela.
“A única saída é abordar as causas sistêmicas” do abuso, disse ela.
Os bispos alemães estão programados para fazer suas visitas ad limina ao Vaticano de 14 a 19 de novembro, e espera-se que abordar questões e dúvidas sobre o Caminho Sinodal seja um tema importante. De fato, os oficiais da conferência dos bispos estiveram no Vaticano no início de outubro para finalizar os planos para a ad limina, que deve incluir uma reunião conjunta com o Papa Francisco e os chefes dos principais escritórios do Vaticano para discutir o Caminho Sinodal.
Em sua apresentação, Kreuter-Kirchhof disse: “É importante notar que este não é um processo que ocorre apenas na Alemanha”, já que um processo semelhante de oração, discussão e discernimento em preparação para o Sínodo Mundial dos Bispos em 2023 está trazendo muitas das mesmas preocupações e esperanças de mudança em todo o mundo.
Os quatro fóruns do Caminho Sinodal apresentaram seus trabalhos nas reuniões da Assembleia Sinodal, com propostas de documentos a serem discutidos e modificados e apresentados uma segunda vez para mais discussão e votação. Para passar, os documentos devem ser aprovados por dois terços dos bispos alemães e dois terços dos leigos, padres e religiosos na assembleia. As recomendações em alguns textos aprovados podem ser adotadas sem a aprovação de Roma, mas outras devem ser encaminhadas ao Vaticano antes da implementação.
Os documentos aprovados pela assembleia, reunida pela quarta vez em setembro, incluíam os que diziam respeito à posição de mulheres e pessoas trans na Igreja, padres gays e a futura estrutura de liderança nacional da Igreja Católica, informou a agência de notícias católica alemã KNA. Ele disse que todos os textos envolvendo mudanças na doutrina da Igreja foram formulados como propostas para consideração do papa e não como mudanças dogmáticas independentes pela Igreja alemã.
No entanto, o “texto-base” de 30 páginas sobre sexualidade, pedindo uma nova abordagem da ética sexual pela Igreja, não obteve a aprovação de dois terços dos bispos.
Com o voto dos bispos, disse Kreuter-Kirchhof, “todo o Caminho Sinodal quase fracassou”, não principalmente porque apenas 61% dos bispos o aprovaram, mas porque a maioria dos bispos que votaram contra “nunca revelou suas preocupações em qualquer momento antes da votação”, seja no fórum de redação, durante a discussão e alteração da primeira minuta ou na discussão antes da votação final.
“O que aprendemos com esta crise?”, ela perguntou. “Aprendemos que se os bispos se afastam do povo de Deus ou se o povo de Deus não está com os bispos, a Igreja sofre”.
“A Igreja sinodal é o lugar de fé comum, de ouvir uns aos outros, de discernir juntos e de decisão comum”, disse ela.
A Igreja Católica é uma igreja hierárquica, e os bispos têm legitimamente uma responsabilidade especial, mas não podem operar no vácuo, disse ela. “Depois da crise” na assembleia de setembro, “a sinodalidade funcionou melhor do que antes quando os bispos começaram a se manifestar”.
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Alemanha. Caminho Sinodal continua chamando a atenção de Roma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU