12 Setembro 2022
O início da IV Assembleia Geral do Caminho Sinodal alemão, nessa quinta-feira, 8, foi marcado por um fato inesperado para a maioria dos delegados, que gerou confusão na própria dinâmica dos trabalhos que foram temporariamente suspensos.
O comentário é do teólogo e padre italiano Marcello Neri, professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha, publicado por Settimana News, 09-09-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O texto-base do quarto fórum “Viver em relações bem-sucedidas: viver o amor na sexualidade e em casal” não alcançou a necessária aprovação de 2/3 dos bispos (que, somada à dos 2/3 dos membros totais da assembleia, é a maioria necessária para a aprovação dos textos).
Dos 62 bispos presentes, apenas 56 votaram: 31 a favor do texto, 22 contra, com três abstenções. O número de bispos contrários gerou muita irritação entre os participantes, incluindo alguns colegas no ministério episcopal, pois as declarações explícitas de não aceitação do texto, tanto na fase de preparação quanto na de discussão prévia à votação, podiam ser contadas nos dedos de uma mão.
Surgiu entre muitos a impressão de uma emboscada que não visava tanto ao texto como tal, mas sim a uma mera afirmação do poder episcopal dentro das dinâmicas sinodais. Por outro lado, os limiares para a aprovação dos documentos fazem parte dos estatutos do Caminho Sinodal – aprovados quase por unanimidade pela própria Assembleia Geral.
Há dois eixos principais do texto-base rejeitado pelos 22 bispos contrários: a consciência de que, nessa matéria, a maioria das decisões cabem ao papa, em um exercício colegial do seu ministério com a Igreja inteira – e que, portanto, o que foi formulado no documento não pode ser senão sugestões dirigidas à sede competente; uma lúcida análise da brecha existente entre a formulação da doutrina em matéria de sexualidade humana e a vivência real de muitos fiéis católicos (e também das práticas pastorais em curso).
Levando em conta esses dois vínculos, o texto queria oferecer a contribuição de uma Igreja local sinodalmente reunida para um realinhamento entre doutrina e práticas de vida, levando em conta também os conhecimentos que as ciências humanas (e as vivências pessoais) podem trazer para um debate doutrinal no âmbito da sexualidade humana vivida à luz do Evangelho.
O bispo de Aachen, Dom Helmut Dieser, que também é copresidente do fórum, disse que “agora não tem a menor ideia de como lidar com as pessoas que ficaram decepcionadas ou feridas por essa votação. Neste momento, como bispo, como eu posso ainda pregar sobre a sexualidade?”.
Após a votação, alguns delegados abandonaram a assembleia – muitos deles por serem homossexuais que experimentaram o fracasso do texto-base como uma ferida pessoal que os discrimina ainda mais na Igreja.
G. M. Hanke, bispo de Eichstatt, que votou contra, afirmou que “os bispos que votaram contra não tinham nenhuma intenção de discriminar, mas sim de se ater ao magistério atualmente em vigor”. E criticou o fato de que, durante as assembleias gerais, houve pouco tempo para um debate sobre os fundamentos – o que teria ajudado a todos a entenderem onde se encontram como assembleia sinodal como um todo.
O verdadeiro desafio para o Caminho Sinodal, mas mais amplamente para toda a Igreja Católica convocada por Francisco para viver uma fase crucial de sinodalidade, está em resolver a crise que surgiu a partir da votação dessa quinta-feira mediante dinâmicas sinodais. Imaginar uma sinodalidade que não atravesse passagens críticas, talvez até dramáticas, significa querer uma sinodalidade que deixa tudo como está, que não se responsabiliza pela eficácia da fé e das práticas do crer – ou visar a uma sinodalidade que avança apenas por golpes de maioria, sem levar em conta o “sentir outro” dos irmãos e irmãs na fé.
Na noite de quinta-feira, houve dois momentos de encontro separados: por um lado, os bispos, com o convite tácito da assembleia para chegarem a um acordo entre eles; por outro, o restante dos delegados sinodais. Se a escolha pode ser estrategicamente oportuna, ela também mostra o quanto ainda nos falta para alcançar pelo menos um início de sinodalidade na Igreja.
Neste momento, o ministério episcopal e o poder que ele exerce não parecem ser integráveis dentro de uma Igreja estruturada sinodalmente – isto é, uma Igreja Católica que não seja simplesmente uma cópia embelezada daquilo que ela foi até agora.
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Caminho Sinodal alemão: documento sobre sexualidade é rejeitado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU