16 Setembro 2022
A responsabilidade necessária, as urgências que não podem mais ser adiadas, o dever de olhar para frente, de pensar a longo prazo. O papel que o Congresso dos líderes das religiões mundiais e tradicionais (que hoje conclui seus trabalhos na capital do Cazaquistão) confia às religiões é recolocar a pessoa no centro, reconstruir um clima de relações que possa redefinir a hierarquia de prioridades, distinguindo o necessário do supérfluo.
E nesse sentido, para citar as palavras do Papa ontem na capital do Cazaquistão, Nur-Sultan, o sagrado não pode ser uma sustentação do poder, muito menos justificar a violência. "A religião - observa o teólogo islâmico Adnani Mokrani, professor da Pontifícia Universidade Gregoriana e membro sênior da Fundação João XXIII para as Ciências Religiosas de Palermo - deveria ser uma consciência crítica que impele para a harmonia, a unidade, a paz e a colaboração. Nesse sentido, os líderes religiosos são chamados a dar uma contribuição mais efetiva para dar forma ao sonho humano e divino de uma humanidade mais unida”.
A entrevista é de Riccardo Maccioni, publicada por Avvenire 15-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ao fundo, o Documento sobre a fraternidade humana, assinado em 2019 em Abu Dhabi pelo Papa e pelo grande imã de al-Azhar, Ahmad al-Tayyib.
O texto diz respeito ao diálogo islâmico-cristão, mas tem um valor inter-religioso universal porque expressa valores compartilhados por outras comunidades. E além disso, é claro, há a contribuição fundamental da encíclica Fratelli tutti, cujo apelo religioso à fraternidade, tanto do ponto de vista teológico quanto pastoral, chegou no momento certo.
Entre outras coisas, um Comitê especial foi criado para a implementação do Documento de Abu Dhabi
A intenção é que não permaneça um ponto de partida, mas que seja a etapa de um caminho que continua. E gostaria de lembrar que várias comunidades islâmicas em países como a Indonésia receberam o texto de forma muito positiva, tornando-o uma oportunidade de reflexão, aprofundamento e discernimento.
O quadro geral oferecido pelo texto ajuda a dialogar melhor.
O que esperar do Congresso que acontece no Cazaquistão?
Uma voz religiosa crítica e profética, um apelo à razão, à sabedoria, um apelo também à política para que seja mais humana, mais atenta a quem sofre com a guerra, a fome, a miséria. Afinal, é próprio da consciência crítica, profética e humana da religião dizer: isso está errado, a situação é insuportável.
Também em relação à salvaguarda da criação.
A questão ecológica é uma prioridade absoluta. Vemos as consequências do capitalismo, do desejo humano de dominar, de competir, sem considerar o bem comum, destruindo a terra. Estamos em uma emergência global. Pensemos no que está acontecendo no Paquistão com as enchentes que destroem o país, enquanto na Europa falta água. São alarmes que chamam à solidariedade, à consciência, à coerência e a trabalhar juntos para mudar o rumo, para mudar os estilos de vida.
Para parar esse consumismo que consome a terra e não deixa nada para as gerações futuras.
Não há mais tempo a perder.
Os líderes religiosos estão discutindo sobre o pós-pandemia. Na sua opinião, como a humanidade está saindo da emergência do Covid?
Parece-me que não compreendemos suficientemente a lição. A pandemia nos ensinou que estamos todos ligados, interconectados, unidos no bem e no mal. Ninguém se salva sozinho, como já foi dito. Essa unidade de destino é fundamental. Dizemos isso, mas depois olhando para o conflito na Ucrânia percebemos que os mesmos problemas se repetem, os mesmos complexos da primeira e da segunda guerras mundiais. O ser humano continua a mostrar pouca inteligência.
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As religiões são consciência profética. Devem nos ajudar a entender o que é certo e o que não é. Entrevista com Adnani Mokrani - Instituto Humanitas Unisinos - IHU