19 Agosto 2022
A situação no campo quase seis meses após o início do conflito.
A guerra está numa fase de “impasse”. Isso foi declarado hoje por um assessor do presidente Zelensky em Kiev e é uma impressão compartilhada por especialistas e mídias ocidentais. Mas isso não significa que a invasão russa da Ucrânia esteja prestes a terminar, muito menos que existe paz ao virar a esquina. Em menos de uma semana, em 24 de agosto, o conflito terá chegado a seis meses. Aqui está o que vem acontecendo no campo de batalha e nos bastidores.
A entrevista é de Enrico Franceschini, publicada por Repubblica, 18-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quem está vencendo a guerra?
"As forças russas fizeram apenas progressos mínimos nas últimas semanas", afirma Oleksiy Arestovych, assessor do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Uma impressão amplamente compartilhada por analistas de assuntos militares, bem como pela mídia mais autorizada. A Rússia mantém o controle da maior parte do Donbass, a região predominantemente habitada por ucranianos de língua russa que Vladimir Putin indicou como o principal objetivo do ataque, mas ainda não o conquistou totalmente. Da mesma forma, não houve progresso notável das forças de Moscou ao longo da costa do Mar Negro. A situação de "impasse", expressão usada pelo assessor ucraniano, significa que combates esporádicos e lançamentos de foguetes se alternam com fases de relativa calma. Ninguém venceu ainda e ninguém perdeu ainda.
O que determinou esse aparente equilíbrio?
Dois fatores: um é o uso ucraniano das novas e mais poderosas armas recebidas do Ocidente, em particular lançadores de foguetes de médio alcance, com os quais as forças de Kiev conseguiram atingir alguns centros nevrálgicos do inimigo, como a base dos mercenários do Grupo Wagner e uma instalação militar na Crimeia.
O outro é provavelmente a exigência russa de recuperar o fôlego, recrutar novas forças e se preparar para os próximos movimentos, quaisquer que sejam as intenções do Kremlin. Um relatório do Ministério da Defesa ucraniano fala de 44 mil "perdas" russas, entre mortos, feridos e desaparecidos, outros dados independentes especificam que os mortos certos seriam cerca de 5 mil homens. Certamente não houve nenhuma ofensiva de grandes proporções de parte de Moscou nos últimos dias.
Isso significa que a Ucrânia se sente mais segura?
Até certo ponto: um míssil russo atingiu Kharkiv nas últimas 24 horas, matando sete pessoas e ferindo pelo menos 16. O presidente Zelensky afirma que o foguete atingiu um bloco de apartamentos, de forma que todas as vítimas são civis: "Não vamos perdoar, nos vingaremos”, promete o líder ucraniano. Quer o objetivo desses lançamentos russos sejam fábricas militares ou quartéis, atingindo edifícios civis por engano, ou que a intenção seja assustar e desmoralizar a população, às vezes até longe do front, o certo é que a Ucrânia continua em guerra e a vida cotidiana continua exposta a graves riscos. No entanto, em Kiev e em grande parte do centro e oeste da Ucrânia, as atividades econômicas foram retomadas, assim como voltaram a lotar os locais públicos e os restaurantes. Mas sempre com os ouvidos atento às sirenes que podem dar o alarme de um bombardeio a qualquer momento.
Que sinais estão vindo de Moscou sobre a direção a ser dada à guerra?
A agência oficial de imprensa russa Ria anunciou que Igor Osipov, comandante em chefe da frota do Mar Negro, com base na Crimeia, foi substituído por outro almirante, Viktor Sokolov. A decisão se segue às explosões que atingiram a península, ocupada pelas forças russas já em 2014 e posteriormente anexada à Rússia. Se confirmado, seria uma das demissões mais importantes de altos funcionários de Moscou desde o início do conflito. Prova de que a situação não está indo como Putin esperava.
Há negociações em curso para parar a guerra?
Oficialmente não, mas existem algumas negociações. Altos representantes da Ucrânia, Turquia e das Nações Unidas reúnem-se hoje em Lviv para analisar como está o acordo que permitiu o desbloqueio das exportações de grãos do porto ucraniano de Odessa. O secretário-geral da ONU, Antonio Guturres, o presidente ucraniano Zelensky e o presidente turco Recep Tayyip Erdogan estarão presentes. As partes também vão discutir "a exigência de uma solução política para o conflito" e a situação em torno da central nuclear ucraniana de Zaporizhzhia, agora sob controle do exército russo, fonte de grande preocupação pelo risco de ser atingida por um míssil.
Não se exclui que nos bastidores sejam feitas tentativas de envolver a Rússia na busca de pelo menos uma trégua, como a Turquia se empenhou várias vezes a fazer em seu papel de mediador bastante ouvido por Moscou. Um elemento a ter presente a esse respeito é o clima: na Europa o verão ainda não acabou, mas ao longo da fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, o final de agosto marca geralmente o início das chuvas outonais e temperaturas mais frias, que não favorecerão novas ataques.
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Ucrânia, o impasse e os sinais vindos de Moscou. Quem está ganhando a guerra? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU