09 Mai 2022
Das duas pragas trágicas recentes, a pandemia e a guerra, a mais próxima fisicamente de nós é a primeira, que não tem fronteiras, não se limita a uma única localização geográfica, e atingiu todos os lugares, casa por casa.
O comentário é do jornalista, escritor e roteirista italiano Michele Serra, publicado por la Repubblica, 07-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
A Covid, em sua fase mais mortífera, aquela pré-vacina, não estava apenas nos noticiários, estava nos nossos corpos. A experiência direta da morte na guerra, para nós italianos, continua ligada a poucos corajosos repórteres, a da morte de amigos e parentes por Covid tocou milhões de pessoas.
No entanto, depois de quase três meses desse duplo revés na chamada vida normal, e depois de tantas discussões, leituras, reflexões, a que mais me pesa, a mais perturbadora, a mais inaceitável, é a segunda. Porque a guerra depende, em todos os aspectos, do homem, que é seu artífice, que a cria e a move, às vezes nos enriquece. Enquanto o vírus é um pedaço da natureza que nos derruba, uma partícula externa a nós que nos agarra, como as pragas de todas as épocas. Podemos odiá-lo, mas não podemos nos sentir culpados, não fomos nós, por nossa vontade, que o desencadeamos.
A guerra, por outro lado, sim. Nós carregamos toda a culpa, uma palavra que sempre uso a contragosto porque cheira a contrição e penitência. Mas neste caso não encontra substitutos, a guerra é uma escolha do homem, são os homens que a querem e a infligem, não temos nenhum álibi que possa nos aliviar. Somos - entre outras coisas, felizmente - aquele macaco cruel e muitas vezes sádico. Sim, a guerra definitivamente me aflige e me horroriza muito mais, mesmo que eu não tenha mais idade para o front, e em vez disso estou alcançando rapidamente aquela que me qualifica como paciente de risco.
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Pandemia e a guerra. Qual das duas é a pior? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU