10 Março 2022
"Essa guerra, independente do tempo de duração, não terá vencedores, só vencidos.", escreve Edelberto Behs, jornalista, que atuou na Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil – IECLB de 1974 a 1993, como repórter e editor do Jornal Evangélico e depois como assessor de imprensa.
Corro o risco de ser classificado como um analítico ocasional, rudimentar em geopolítica e relações internacionais, ao tentar entender a guerra entre russos e ucranianos. Mas depois de assistir coleguinhas da TV elevarem o presidente comediante Volodymyr Zelensky, da Ucrânia, como um “herói” senti-me motivado a meter a colher nesse assunto.
A mídia verde-amarela dá, mais uma vez, sinais de distanciamento crítico e analítico a reboque da hegemônica mídia ocidental e seus olhares para o que está ocorrendo na Europa. Claro, Putin é um autocrata, canalha, insensato, que mandou tropas russas invadirem um país autônomo a custas de vidas civis e da paz.
Mas será ele o único responsável pelo que se passa naquele canto do mundo? Claro, nenhuma situação justifica a invasão que a força militar russa está realizando em solo ucraniano. Claro, Putin fere a autodeterminação do povo ucraniano. Claro, Putin é responsável pelo morticínio de pessoas que de modo algum escolheram a guerra e terão que reinventar a vida.
Será que Zerensnky, ao proibir homens de 18 a 60 anos de deixarem o país para que se engajem na luta da defesa do país, ficará ileso de qualquer responsabilidade? Já são 2 milhões de pessoas refugiadas – mulheres, crianças e idosos -, número que poderá chegar a 5 milhões. Não cairá também na conta desse comediante a morte de civis, a derrocada da economia, a ruína de cidades?
Ora, qual é o governante responsável que, ao analisar o poderio militar do inimigo, não vai pesar, com sabedoria, se tem condições de enfrentá-lo no campo de batalha? As forças armadas da Ucrânia, numa classificação do Global Firepower, ocupam a vigésima segunda posição nesse ranking. A Rússia aparece em segundo lugar!
A Rússia tem 850 mil militares, contra 250 mil da Ucrânia; russos contam com 4.100 aeronaves, a Ucrânia soma apenas 318, e já pediu ajuda de europeus e estadunidenses para que enviem aviões. Também há desequilíbrio quanto ao número de tanques.
Ora, diante de um quadro tão disparatado de forças, Zelensky resolveu cutucar o urso de vara curta, talvez incentivado por vozes forâneas, que prometeram apoiá-lo nessa empreitada de querer se juntar à OTAN. As consequências dessa guerra estão expostas ao mundo: sofrimento humano, apagão de fornecimento de energia, quebra nas relações comerciais e retaliações de parte a parte, com os Estados Unidos entrando firmes nessa corrida.
Em entrevista à TV GGN, o jornalista estadunidense Glenn Greenwald, um dos que denunciou a Vaza Jato, revelou que se demitira do The Intercept porque teve matéria censurada, antes das eleições americanas, que apontava os negócios de Joe Biden na Ucrânia. O filho de Biden, denunciava matéria, recebia 50 mil dólares mensais (cerca de 300 mil reais) de uma petroleira estatal, sem ter algum conhecimento técnico sobre energia.
“O episódio – escreve Luis Nassif no portal do GGN – revelava desde então a extraordinária influência do governo americano nos negócios da Ucrânia. Mas os proprietários do jornal (The Intercept) consideraram que o grande inimigo a ser destruído era Donald Trump e, por isso, Biden teria que ser poupado”.
Na entrevista, Glenn sinalizou que não era segredo para nenhum jornalista bem informado do seu país que Zelensky fora colocado no poder por uma atuação direta dos Estados Unidos, visando assediar a Rússia ao incentivar a Ucrânia a se juntar à OTAN. Jornalistas que passaram a abordar tal assunto sofreram enorme pressão da opinião pública, acusados de serem inimigos da pátria. A partir daí, o jornalismo deu lugar à propaganda. E agora, jornalistas, também brasileiros, comentam a guerra como se estivessem num estádio torcendo por um clube de futebol!
Convém lembrar que a Rússia vinha alertando, há uma década, que não aprovava o avanço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em áreas que antes pertenciam à União Soviética. Certamente os EUA fariam o mesmo, caso a Rússia tentasse trazer o México para sua área de influência. Ou acham que os EUA deixariam isso acontecer sem reagir com armas e retaliações tanto contra a Rússia quanto ao México?
Essa guerra, independente do tempo de duração, não terá vencedores, só vencidos. Essa é uma guerra que, ao contrário do que mostram comentaristas da imprensa tupiniquim, não tem mocinho e bandido, mas só bandidos. Mesmo países que nada têm a ver com esse conflito, serão, de algum modo, atingidos, como já se mostra a perspectiva do aumento do preço do petróleo.
Joe Biden, presidente dos EUA, olha para esse conflito de binóculo, longe do campo de batalha. Europeus têm a briga em seu pátio. E quem mais ganha com essa disputa é a China. As partes beligerantes, para a salvação da humanidade, precisam recorrer ao diálogo e à diplomacia, e recuar nas suas exigências. E os “perus de fora” devem se abster de colocar mais gasolina nesse incêndio.
Se querem a paz, como afirmam, o governo da Alemanha e dos Estados Unidos deveriam estancar o fornecimento de armas para o exército da Ucrânia, e não acirrar a guerra. Quem quer a paz tem a obrigação de se posicionar por uma Ucrânia neutra, fora da OTAN. Quem quer a paz deve buscar a tranquilidade da população, e não prolongar sua agonia. Assim, o único caminho que resta é a negociação, como defende o filósofo italiano Massimo Borghesi.
Esta guerra já fez o mundo dar cambalhotas. O presidente que ia acabar com o comunismo no Brasil foi dar apoio ao camarada Putin. O embargo econômico imposto pelos Estados Unidos à Venezuela trouxe sérios prejuízos à produção petrolífera do país sul-americano. Com o embargo ao petróleo russo, decretado por Biden, o presidente dos EUA negocia com Maduro o fornecimento de petróleo ao país que o prejudicou.
A mídia verde-amarela, que tanto já bateu na Venezuela, em Hugo Chaves e Maduro, desde o tempo do governo petista, certamente vai aplaudir essa negociação com os EUA. Quanto tempo levará para ela admitir que o presidente da Ucrânia, com a brutalidade de Putin, transformou o país num palco de desesperança.
Terminada a guerra, vejamos quais serão as empresas (de fora, claro) que vão se apresentar para reconstruir a Ucrânia, como aconteceu no Iraque. Quem ganha e quem perde nesse tabuleiro de xadrez? Com toda a certeza, as maiores perdas, as mais brutais e lamentáveis recaem sobre a população civil, sobre pacifistas de ambos os lados, sobre mães de soldados mortos... e menos nos senhores da guerra!
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Zelensky também deve ser responsabilizado. Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU