21 Janeiro 2022
"O mundo, todo país do mundo, deve pedir aos ricos que paguem sua cota justa. Nós, ricos, pedimos: tribute-nos e tribute-nos agora", escreve Abigail Disney, produtora e herdeira da Walt Disney Company, em artigo publicado por La Stampa, 20-01-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um grupo de 102 ultrarricos de nove países publicou uma carta aberta por ocasião da semana da agenda do Fórum Econômico Mundial. Eles estão pedindo a governos e líderes econômicos que se empenhem em aumentar os impostos para milionários (e bilionários) para contribuir na redução da desigualdade e aumentar os serviços públicos, como a saúde. A carta segue a publicação de um estudo segundo o qual a riqueza das dez pessoas mais ricas do mundo durante a pandemia duplicou.
Aos nossos amigos milionários e bilionários. Se vocês participam da "Davos Online" do Fórum Econômico Mundial, que se realiza em janeiro, significa que vocês fazem parte de um grupo exclusivo de pessoas que estão buscando uma resposta para a pergunta por trás do tema do fórum deste ano: "Como podemos trabalhar juntos e restaurar a confiança?" Vocês nunca conseguirão encontrar a resposta em uma reunião para poucos íntimos, cercados por outros milionários e bilionários, e pelos homens mais poderosos do mundo. De fato, se vocês pararem um pouco e pensarem sobre isso, descobrirão que vocês mesmos são parte do problema.
A confiança - na política, na sociedade, no próximo - não se constrói em salões acessíveis apenas aos muito ricos e poderosos. Não se constrói pelas mãos de bilionários que viajam no espaço e que acumulam fortunas graças à pandemia, praticamente sem pagar impostos e pagando salários de miséria aos seus trabalhadores. A confiança constrói-se através da transparência, em democracias consolidadas, justas e abertas que oferecem serviços e apoio de qualidade a todos os seus cidadãos.
O pilar de uma democracia forte é um sistema tributário justo. Um sistema tributário equitativo. Sendo milionários, sabemos que o sistema tributário existente não é justo. Quase todos nós podemos dizer que, enquanto o mundo tem enfrentado uma imensa quantidade de sofrimento nos últimos dois anos, nós na realidade vimos nossa riqueza crescer durante a pandemia. No entanto, apenas poucos entre nós podem dizer honestamente que pagam um imposto justo.
Essa injustiça, incorporada nos fundamentos do sistema tributário internacional, criou uma colossal falta de confiança entre os povos do mundo e as elites que construíram a arquitetura desse sistema. Para transpor esse abismo é preciso mais do que projetos para satisfazer a vaidade de um bilionário, ou gestos esporádicos filantrópicos. É preciso uma reviravolta completa do sistema que até agora foi projetado especificamente para tornar os ricos mais ricos. Simplificando, a confiança se restaura tributando os ricos.
O mundo, todo país do mundo, deve pedir aos ricos que paguem sua cota justa. Nós, ricos, pedimos: tribute-nos e tribute-nos agora.
A verdade é que este Davos não merece hoje a confiança do mundo. Com uma quantidade incalculável de horas gastas discutindo como tornar o mundo um lugar melhor, a conferência produziu bem poucos resultados tangíveis, enterrados sob uma torrente de autocongratulações. Até que os participantes da conferência reconheçam a necessidade de uma solução simples e eficaz posta diante deles - tributar os ricos - os povos do mundo continuarão a considerar sua chamada dedicação para resolver os problemas do planeta como pouco mais do que um espetáculo.
A história nos conta o fim das sociedades extremamente desiguais em tons bastante escuros. Para o bem de todos nós, ricos e pobres, chegou a hora de enfrentar a desigualdade e de tributar os ricos. Mostrem aos povos do mundo que vocês merecem a confiança deles. Se não o fizerem, todas as vossas conversas privadas não mudarão o que está por vir: os impostos ou os enforcados. Escutem a história e façam uma escolha sábia.
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Milionários em Davos: “obriguem-nos a pagar mais impostos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU