16 Novembro 2021
A comunidade jesuíta de El Salvador comemorou neste sábado o 32º aniversário do massacre de seis padres, cinco deles espanhóis, e duas mulheres, em 1989 nas mãos de um comando do Exército do país centro-americano.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 14-11-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A comemoração foi realizada no campus da Universidade Centro-Americana – UCA, onde foram executados os religiosos em meio à guerra civil salvadorenha (1980 a 1992).
Dezenas de pessoas se reuniram para participar em uma missa, um ato cultural e escutar a mensagem do reitor da UCA, Andreu Oliva, que destacou que o legado dos jesuítas segue vigente.
“Neste tempo de luto pela morte de tanto seres queridos em razão da pandemia, de confrontos, de decisões políticas que nos distanciam cada dia mais do rumo democrático e nos conduzem ao autoritarismo e militarismo, os mártires de El Salvador seguem sendo fonte de inspiração”, disse Oliva.
Acrescentou que o legado dos jesuítas chama a “seguir ao lado dos mais pobres, de seguir sempre do lado da verdade, da justiça, paz e bem comum”.
“Temos o compromisso de seguir desmascarando a mentira e de ser luz em meio a tanta névoa que vive nosso povo. O legado de nossos mártires segue iluminando o caminhar deste povo. Que seu martírio injusto e cruel se torne, a cada dia, fonte de vida”, acrescentou.
A pandemia da covid-19 levou a suspender os atos em 2020 e este em 2021 teve uma considerável redução no número de participantes da comemoração, que em anos anteriores congregava centenas de salvadorenhos em uma vigília.
Na Universidade Centro-Americana, ‘O jardim das rosas’ recorda o lugar onde aconteceu os assassinatos. Foto: Centro Monseñor Romero.
Este 32º aniversário ocorre em momentos em que a causa penal encontra-se fechada pela decisão do Tribunal Penal da Corte Suprema de Justiça, sem que se conheça se foram admitidos os recursos que buscam recorrer da sentença.
Foi em setembro de 2019 que o referido tribunal emitiu sua sentença em resposta a um recurso de cassação da defesa dos militares apontados como autores intelectuais do atentado.
Esta decisão freou a reabertura do processo ditado em 2018, depois da anulação de uma lei de anistia de 1993, e que em 2019 também enfrentava a ameaça de ficar na impunidade por uma lei de reconciliação nacional aprovada pelo Congresso e vetada posteriormente pelo presidente Nayib Bukele.
Em 16 de novembro de 1989, cinco dias depois que a então guerrilha da Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN) lançara a ofensiva “Até o fim” na capital, um comando de elite do Exercício Salvadorenho ceifou a vida dos jesuítas.
As vítimas foram os espanhóis Ignacio Ellacuría, Segundo Montes, Ignacio Martín-Baró, Amando López e Juan Ramón Moreno, o salvadorenho Joaquín López, a funcionária da UCA Elba e sua filha de 16 anos, Celina Ramos.
Ellacuría, então reitor da UCA, havia denunciado as condições de exploração e miséria da maioria camponesa do país, compromisso com o qual concordou o arcebispo de San Salvador, Santo Óscar Arnulfo Romero.
Por este crime, está preso apenas o coronel Guillermo Benavides, condenado a 30 anos de prisão em 1991 por transferir a ordem de assassinar os jesuítas e a quem foi negado o perdão e a comutação da pena por ser um crime de lesa-humanidade.
O Tribunal Nacional da Espanha condenou em 2020 o ex-vice-ministro da Segurança Pública de El Salvador, Inocente Montano, a 133 anos e quatro meses de prisão.
Na próxima quarta-feira, 17-11-2021, o Centro de Promoção de Agentes de Transformação - CEPAT, parceiro estratégico do IHU, promove o evento "Mártires Jesuítas de El Salvador: sementes para a América Latina", com José María Tojeira, s.j, diretor do Instituto de Direitos Humanos da Universidade Centro-Americana – IDHUCA, de El Salvador, que era o provincial dos Jesuítas da América Central no ano do atentado. O evento poderá ser acompanhado pelo canal do CEPAT no Youtube e pela página inicial do IHU.
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A comunidade jesuíta de El Salvador comemora o 32º aniversário do massacre ainda impune - Instituto Humanitas Unisinos - IHU