“Nós, católicos e indiferentes como no tempo dos nazistas”

Foto: UNHCR

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26 Abril 2021

 

Ascanio Celestini, ator, diretor e escritor, pede principalmente que a Itália salve a todos - mas justamente todos aqueles que se lançam ao mar, mesmo os criminosos - e depois pede a verdade para entender do que os italianos se tornaram cúmplices nestes últimos anos.

A entrevista com Ascanio Celestini é editada por Flavia Amabile, publicada por La Stampa, 25-04-2021.A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis a entrevista.

 

O que você pensou quando viu o mar mais uma vez se cobrir de mortos? (referência aos 130 refugiados mortos no Mar Mediterrâneo, na semana passada - nota do IHU)

Que para uma história como esta deveríamos estar todos do mesmo lado para dizer que nunca mais deve acontecer que exista alguém obrigado a fugir de suas terras ou que a arriscar a vida quando entra no mar.

A última vez que se ouviu a Itália dizer nunca mais foi em 2013, desde então, houve outros 1.250 naufrágios e mais de 23.000 mortos e desaparecidos.

A narrativa deveria ser invertida. Em vez de dizer que não podemos acolher a todos, deveríamos nos considerar aqueles que mais do que outros têm a oportunidade e a responsabilidade de salvar. Em vez disso, somos também um país católico, como no tempo dos nazistas, que está se virando para o outro lado.

Não há trabalho suficiente para todos, dizem aqueles que querem manter os migrantes fora da Itália.

Isso não é verdade, o nosso é um dos países mais ricos do planeta. Não podemos comparar nossos problemas aos problemas daqueles que chegam de terras onde não há nem mesmo acesso à água potável. É lamentável dizer que também nós temos os nossos problemas, todos os têm, mas se aqui o problema é de não chegar ao fim do mês, quem chega corre o risco de perder também a vida.

O que a Itália deveria fazer com a Líbia?

Em primeiro lugar, é preciso salvar a vida de todos, inclusive dos criminosos. E, além disso, queremos saber a verdade. Como habitante deste país, quero saber do que sou cúmplice. A verdade também vem antes da justiça. A justiça cheira a vingança e, de qualquer modo, a condenação não muda minha vida, não me devolve a pessoa que não existe mais. A verdade permite ter consciência do que aconteceu e evitar que volte a acontecer.

Erdogan é "um ditador". Foi correto que o primeiro-ministro Mario Draghi tenha definido o presidente turco dessa forma?

Que Erdogan seja um ditador, nós o podemos dizer. O primeiro-ministro tem outros instrumentos para conter a violência, espero dele medidas claras e denúncias claras. Eu também gostaria ouvir dela a verdade.

Se passaram 76 anos desde a Libertação. O que nos ensinou?

A data da Libertação é divisória e deve ser assim, deve traçar um limite claro. Hoje deve ficar claro quem é fascista e quem não é. O fascismo republicano é uma história que ainda não se concluiu. O dia 25 de abril de 1945 é uma visão do mundo infelizmente ainda muito presente, e hoje nos faz entender que devemos ser ainda mais antifascistas do que 76 anos atrás.

 

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