08 Janeiro 2021
O infectologista especialista soa o alarme: "Cuidado com os contágios nos países pobres". “Vacinas e medicamentos contra o Sars-Cov-2 devem ser considerados bens comuns, porque vão salvar o mundo”.
Stefano Vella, 68, especialista em doenças infecciosas, professor de Saúde Global da Universidade Católica e ex-presidente da Agência Italiana de Medicamentos, é consultor da Unitaid da OMS, representante para a Itália no programa de pesquisa Horizon da Comissão Europeia e entre os assessores do próximo G20 “em que teremos que analisar o problema de como ajudar os países desfavorecidos a saírem da pandemia”.
A entrevista com Stefano Vella é editada por Francesco Rigatelli, publicada por La Stampa, 07-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Professor, como você vê a situação italiana e global?
O Institute for Health Metrics dos EUA faz projeções dramáticas para o mundo e para a Itália sobre contágios e mortes nos próximos meses. Não estamos absolutamente fora disso.
A pandemia será derrotada quando for derrotada em todo o mundo?
Certamente, e acima de tudo, devemos lembrar do terceiro mundo. Os números de cada país são importantes, mas sem esquecer que é uma pandemia global e o vírus não deve ficar à espreita em algum lugar e depois voltar.
Em primeiro lugar, é preciso admitir que a pandemia não parou, mas avança em ondas. Além de manter as medidas, que são economicamente desastrosas e precisam ser mais esclarecidas, devemos saber que só sairemos desta situação com vacinas para eliminar o vírus em todos os cantos do planeta. A saúde global é justamente isso e o próximo G20 será o lugar para abordar o assunto, até porque não é o primeiro nem o último vírus deste tipo num mundo cada vez mais populoso, densamente metropolitano e menos verde.
Depois da Pfizer ontem a Agência Europeia de Medicamentos - EMA aprovou a Moderna, serão suficientes?
Nesta fase, sim, é um resultado histórico das pesquisas e da aprovação dessas vacinas seguras e eficazes. Boas notícias, mesmo que o vírus mude de ‘tipo’ para uma de suas variantes.
O que a EMA espera com a AstraZeneca?
A autoridade europeia está fazendo todas as verificações necessárias, mas no final vai aprová-la.
Vai aprovar a versão de duas doses que cobre 62 por cento ou com meia dose e outra com 90%?
É difícil repetir todo o estudo para demonstrar a segunda hipótese, provavelmente vai aprovar a primeira versão reservando-se o direito de continuar os estudos sobre a segunda. Em todo caso, não fazem mal.
Por que já foi aprovado no Reino Unido e administrado as vacinas em dose única?
Estão em uma situação desesperadora e embora a segunda dose seja necessária para completar a proteção, estão tentando cobrir o maior número possível de pessoas com a primeira.
O atraso da AstraZeneca pesará na Itália?
Não, porque vai chegar em breve e há muitas outras vacinas. Além da Pfizer e da Moderna, a grande promessa é da Johnson & Johnson que funcionaria com uma dose. Depois, não esqueçamos as vacinas russas e chinesas, que têm um potencial enorme e também são exportadas para outros países. É bom ter produtos diferentes, para verificar a sua eficácia em campo e utilizá-los em todo o mundo. A EMA em breve aprovará como medicamentos os primeiros anticorpos monoclonais.
A vacinação deve ser obrigatória?
Não haverá necessidade porque, como foi o caso do HIV quando os medicamentos específicos chegaram e a mortalidade caiu, as pessoas vão perceber que a vacina vai deter a pandemia.
A campanha de vacinação está lenta?
Não vamos de zero a cem em uma semana, mas acho que em seis meses todos os maiores países vacinarão as pessoas que estão em risco e até o final do ano podemos pensar em toda a população e no terceiro mundo.
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“Teremos números dramáticos de mortos. O vírus deve ser eliminado em todo o mundo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU