05 Agosto 2020
A Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Manágua considerou nesta segunda-feira que a Nicarágua chegou a um “extremo de desumanização” que se faz latente na “negligência” dos serviços de saúde, nos abusos dos “presos políticos”, e no assédio às famílias e meios de comunicação independentes.
Em uma mensagem direcionada “aos fiéis católicos e pessoas de boa vontade”, a comissão dessa diocese levantou sua voz pelos mais de 100 mil nicaraguenses que marcharam rumo ao exílio devido à falta de trabalho, à “perseguição política”, à insegurança e à violação de seus direitos fundamentais, “assim, negando a eles o direito de viver com dignidade em sua própria pátria”.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 04-08-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A Comissão também reivindicou o direito dos que voltam ao país em meio à pandemia do coronavírus e depois de perder seus meios de sustento, “nas condições mais precárias e são tratados sem a menor compaixão”.
Apontou que o Estado da Nicarágua exige “excessivos requisitos e cobranças que, na impossibilidade de pagar, deixa-os submetidos a condições infra-humanas às portas de seu próprio país”.
Cerca de 500 nicaraguenses permaneceram parados durante quase duas semanas na linha fronteiriça entre Nicarágua e Costa Rica, pois o governo de Manágua os impedia de atravessar a fronteira até que apresentassem um teste negativo de covid-19.
“A razão e a consciência se perguntam, como chegamos a este extremo de desumanização que se faz tão latente na negligência dos serviços de saúde, no abuso dos presos políticos, no assédio às famílias e meios de comunicação independentes, na impunidade de crimes”, destacou a Arquidiocese na sua carta, na qual exortou que não haja nenhuma vítima mais.
Na Catedral de Manágua, a capela com a imagem do Sangue de Cristo foi incendiada, na tarde de sexta-feira 31-07-2020. Foto: Carlos Herrera | Confidencial
Mesmo assim, a comissão religiosa indicou que “com tristeza constatamos novamente o reiterado desrespeito e profanação da Santa Eucaristia, assim como o terrorismo e o constante assédio a diversos templos católicos nos últimos dias”.
A ONG Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) assegura que a Igreja Católica na Nicarágua sofreu 24 ataques nos últimos 20 meses, incluindo o incêndio que na sexta-feira passada destruiu uma histórica imagem do Sangue de Cristo na Catedral de Manágua.
A denúncia do Cenidh inclui o caso de uma russa que atirou ácido no rosto de um padre, o confinamento de nove dias que a polícia aplicou a um padre em sua paróquia, com os serviços de luz e água cortados, a retenção de um grupo de mulheres na Catedral de Manágua e a destruição e roubo de imagens.
“Convidamos-lhes a seguirmos na oração desde nossos lares, em comunhão com nossos legítimos pastores, confiando plenamente em Deus e que Nossa Senhora da Assunção encha de esperança nossos corações para trabalhar na construção do Reino de Deus”, concluiu.
Imagem do Sangue de Cristo incendiada. Foto: Reprodução | Twitter | Religión Digital
A relação entre o governo presidido pelo sandinista Daniel Ortega e sua esposa, vice-presidente Rosario Murillo, com a Igreja Católica, é de divergências desde 10 de janeiro de 2007, quando os sandinistas voltaram ao poder. Nesse contexto, a Comissão Permanente de Direitos Humanos (CPDH) sugeriu uma investigação independente na segunda-feira para determinar as causas do incêndio da imagem de Sangre de Cristo na Catedral de Manágua.
O secretário executivo do CPDH, Marcos Carmona, disse a repórteres, depois de se encontrar com um dos padres da catedral, Luis Herrera, que eles deveriam “contratar um especialista para determinar a real causa desse incêndio que destruiu a imagem do Sangue de Cristo”.
Segundo a Arquidiocese de Manágua, um desconhecido lançou um artefato na sexta-feira passada e ateou fogo à imagem do Sangue de Cristo que está na Nicarágua há 382 anos e que foi venerada por João Paulo II em 1996, quando se ajoelhou e orou a seus pés, durante sua segunda visita ao país, que é de maioria católica.
A ONG Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) garante que a Igreja Católica na Nicarágua sofreu 24 ataques nos últimos 20 meses, incluindo o incêndio que queimou uma imagem histórica do Sangue de Cristo.
A Polícia Nacional, por outro lado, descartou que o incêndio tenha sido causado e descreveu o cenário favorável para um acidente, incluindo a presença de um frasco de spray de álcool e a base de uma vela, de acordo com a versão emitida pelo vice-presidente e primeira-dama do país, Rosario Murillo.
O ativista de direitos humanos disse que será o clero quem decidirá se deve ou não procurar um especialista independente, bem como se deve registrar uma queixa ou deixar o caso para “justiça divina”.
Durante a reunião com o padre, Carmona ordenou que o CPDH recebesse a denúncia e acompanhasse um eventual processo, assim como as testemunhas. Da mesma forma, ele expressou sua solidariedade com a Igreja Católica e condenou o que descreveu como um “ato terrorista”. Para o ativista de direitos humanos, “esse ato terrorista e criminoso não deve ficar impune” e expressou dúvidas sobre a investigação da Polícia Nacional, liderada por Francisco Díaz, sogro do presidente do país, Daniel Ortega.
Carmona classificou o incêndio como uma “demonstração da intimidação que o Governo quer dar a todas as pessoas, sobretudo às que professam a fé católica, e isso, logicamente, são mensagens para seguir amedrontando o povo nicaraguense”.
Uma mulher desconhecida pregou um crucifixo na cabeça de uma imagem de San Diego de Alcalá, nesta segunda-feira, em um templo localizado na paradisíaca Ilha de Ometepe, localizada no Grande Lago Cocibolca da Nicarágua, denunciou a Igreja Católica.
O evento ocorreu às 13:00 (19:00 GMT), quando uma mulher entrou na igreja paroquial de San Diego de Alcalá, no município de Altagracia, na ilha de Ometepe, aproximando-se da imagem venerada e com uma atitude de raiva e gritos pegou a imagem de Cristo com a mão direita e pregou na cabeça da estátua, de acordo com o relato da diocese de Granada e Rivas (sudeste).
Um paroquiano presente no templo, ao ver o que aconteceu, tentou impedir a mulher, mas não conseguiu alcançá-la e fugiu, segundo as informações. Imediatamente o pároco José Ramón Gómez chegou ao templo e notificou a dom Jorge Solórzano, bispo da diocese de Granada e Rivas, o ocorrido. A fonte explicou que a imagem do santo foi exposta nesta segunda-feira ao público porque as chamadas “pequenas festas” da cidade foram celebradas naquela cidade.
“Condenamos esse ato de desrespeito por nossas imagens e templos e pedimos a todos os nossos fiéis que nos mantenham em constante oração e vigilância em situações como essas”, defendeu a diocese de Granada e Rivas.
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Nicarágua. Arquidiocese de Manágua afirma que o país chegou ao “extremo da desumanização” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU