21 Mai 2020
No mesmo momento em que a pandemia do novo coronavírus infecta e mata milhares de pessoas, outro vírus está se alastrando desde o início do ano pelos os países da América Latina. A dengue é endêmica – doença que manifesta com frequência – em algumas parte da região, mas com a chegada da Covid-19 deteve a atenção para si e afastou os esforços contra o mosquito Aedes aegypti.
A reportagem é publicada por Observatório da América Latina.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) lembra que a dengue é típica das áreas tropicais e subtropicais, e que se concentra principalmente em algumas regiões da Ásia e do Pacífico Ocidental. Entretanto, a incidência da dengue aumentou rapidamente na América Latina nos últimos anos. A OMS credita o aumento de casos no mundo à urbanização, à globalização, às condições climáticas favoráveis e à falta de profissionais de saúde capacitados.
Na América Latina, a epidemia de dengue teve início a quase dois anos e ainda mostra seus efeitos. As infecções subiram para uma alta histórica de 3,1 milhões em 2019, com mais de 1.538 mortes na região, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Esses números são os mais altos desde 1980, quando 65.523 casos foram relatados em toda região. O Brasil, por conta de sua grande população, teve o maior número de casos notificados: 2,2 milhões de pessoas infectadas. Mas os países com as maiores taxas de incidência, quando relacionado o número de casos por 100 mil habitantes, foram na Nicarágua, com 2.271; Honduras, com 995,5; e o Brasil, com 711,2 casos por 100 mil habitantes.
Uma característica da dengue na América Latina é o alto número de doentes graves e de mortes entre pessoas jovens em alguns países. Em Honduras, 66% de todas as mortes confirmadas foram de jovens menores de 15 anos, enquanto na Guatemala os casos de dengue em jovens representam 52% do total de infectados no país.
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) destacou, em documento recente, que os sistemas de saúde de vários países da América Latina já estavam sob pressão devido aos casos de dengue registrados em 2019. A OPAS prevê que esse ano será marcado novamente por altos índices de dengue na região, podendo impactar na ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em meio à pandemia da Covid-19.
Os dados da Organização Pan-Americana da Saúde mostram que 451.389 pessoas foram contaminadas pelo mosquito Aedes aegypti em 2020 na América Latina. O Brasil concentra 80,6% dos casos, com 362.969 contaminados até o momento. Outros quatro países da região aparecem com mais de 10 mil casos: Paraguai (43.769), Colômbia (13.935), Bolívia (13.425) e Peru (11.365). De acordo com a OPAS, Bolívia, Honduras, México e Paraguai notificaram mais casos de dengue nas primeiras quatro semanas de 2020 do que no mesmo período de 2019. O Brasil concentra 221 mortes pelo Aedes aegypti das 394 na América Latina.
O impacto da dengue no Paraguai foi tão grande em janeiro desse ano que a capital do país, Assunção, declarou emergência ambiental e sanitária de 90 dias como medida de prevenção. Dias depois, o Congresso do Paraguai decretou situação de emergência em todo território. Além disso, presidente Mario Abdo Benítez foi diagnosticado com o vírus da dengue.
O número de casos notificados da Covid-19 na América Latina alcançou 544.615 pessoas e causou 30.485 mortes na data de ontem (18/05). Até o momento, as notificações dos casos de dengue são maiores do que as do novo coronavírus no Brasil, Paraguai, Bolívia e Nicarágua. No Paraguai, o número de mortos pela dengue é bem maior do que pela Covid-19, já que número de casos de contaminação por Aedes aegypti é muito superior. Nesse sentido, é importante destacar que a taxa de letalidade da dengue é de 0,1%, enquanto do novo coronavírus é de 5,6% na região.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A América Latina enfrenta duas epidemias ao mesmo tempo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU