03 Março 2020
Na mira dos protestos nas ruas do Chile, houve edifícios de culto, tanto católicos quanto evangélicos: a partir do último 26 de janeiro, 57 foram atacados. Destruições, saques e profanações do Santíssimo Sacramento foram registrados em todo o país, segundo o relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Quanto à Igreja Católica, para tanta raiva certamente deve ter pesado o escândalo dos abusos sexuais cometidos por padres: para o Ministério Público Nacional as vítimas - aquelas que tiveram forças para se manifestar – são 271. Para entender a reação dos chilenos - crentes ou não em relação à Igreja, mas também às políticas adotadas pelo governo – o Diario Las Américas (1º de março) entrevistou D. Alberto Lorenzelli, salesiano, bispo auxiliar de Santiago do Chile, indicado pelo Papa Francisco desde julho do ano passado.
A reportagem é de Eletta Cucuzza, publicada por Adista, 02-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
“A Igreja está passando por um momento difícil, sabemos, por várias razões. Como instituição, o problema dos abusos está presente e isso afetou fortemente a sociedade", observa o bispo, "as pessoas perderam a confiança que antes tinham na Igreja, que era alta". "O tempo de uma Igreja triunfante já passou", segundo Lorenzelli, e agora "é o momento de uma Igreja próxima ao povo, que está recuperando seu serviço pastoral e evangelizador. Mas é necessário que seja uma Igreja mais humilde, capaz de falar através de suas ações". Não servem "belos documentos", mas "que saiba ouvir. Uma escuta também capaz de sofrer com quem sofre. Penso que só assim poderíamos ser uma voz mais significativa e mais forte. Hoje, acima de tudo, podemos envolver instituições, empresários, formações políticas, instituições sociais, para prestar atenção aos mais desafortunados. Hoje eu acredito que a palavra de ordem mais significativa deveria ser dar mais àqueles que tiveram de menos".
“Afinal, o que as pessoas pedem é uma situação melhor. Os problemas mais evidentes que aparecem são salários muito baixos, uma educação mais inclusiva, o problema das aposentadorias", porque "existem outras desigualdades evidentes". Para superar a crise, é necessário, afirma o bispo, uma "cultura do encontro", um "diálogo" que seja aberto em primeiro lugar pelos partidos políticos, onde infelizmente "existem muitos individualismos", "um diálogo no qual a Igreja deve estar presente, porque todos os dias nas paróquias se ouve o clamor do povo, dos mais necessitados", das "novas gerações", com quem a Igreja corre o risco de "uma fratura muito forte". Mons. Lorenzelli acredita, no entanto, que "a Igreja chilena está se tornando mais consciente de seus erros". Certamente “deve ser mais profética ... E o que isso significa? Significa estudar uma maneira diferente de ser Igreja”.
Nota da IHU On-Line:
O Instituto Humanitas Unisinos – IHU promove o seu X Colóquio Internacional IHU. Abuso sexual: Vítimas, Contextos, Interfaces, Enfrentamentos, a ser realizado nos dias 14 e 15 de setembro de 2020, no Campus Unisinos Porto Alegre.
X Colóquio Internacional IHU. Abuso sexual: Vítimas, Contextos, Interfaces, Enfrentamentos
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Chile. “É um momento difícil para a nossa Igreja”. Entrevista com D. Alberto Lorenzelli, bispo auxiliar de Santiago do Chile - Instituto Humanitas Unisinos - IHU