21 Fevereiro 2020
O padre jesuíta George V. Coyne, que presidiu o Observatório do Vaticano por 28 anos, começou no campo da astronomia quando ainda era um jovem seminarista, estudando secretamente debaixo de seu cobertor com a ajuda de uma lanterna.
A reportagem é de Dennis Sadowski, publicada por Catholic News Service, 13-02-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Durante toda a sua vida, Coyne, que morreu em 11 de fevereiro em Syracuse, Nova York, aos 87 anos de câncer de bexiga, agradeceu a um professor de grego clássico por ter nutrido a sua paixão por astronomia ajudando-o a pegar livros emprestados em uma biblioteca local sobre o assunto. Esse começo levou Coyne a tornar-se um dos cientistas jesuítas mais respeitados e conhecidos do mundo.
Coyne trabalhou como diretor do Observatório do Vaticano de 1978 a 2006, supervisionando a modernização de suas instalações, elevando o seu status no mundo da ciência e acolhendo uma nova geração internacional de astrônomos jesuítas em sua equipe. Ele ingressou no observatório como astrônomo em 1969 e ocupou o cargo até 2011.
De 2007 a 2011, foi o diretor da Fundação Observatório do Vaticano.
O irmão jesuíta Guy Consolmagno, atual diretor do Observatório do Vaticano, lembrou as primeiras palavras de Coyne quando de seu ingresso na equipe em 1993: “Faça boa ciência”.
“Coyne criou um espaço em que todos nos sentíamos livres para fazer ciência”, disse o Ir. Consolmagno ao Catholic News Service em 13 de fevereiro. “Ele foi um protetor entre nós e os caprichos do Vaticano. Ele nos deu as boas-vindas e fez os nossos colaboradores e visitantes se sentirem bem-vindos”.
Coyne, disse o irmão jesuíta, criou uma atmosfera que atraiu jovens astrônomos de todo o mundo e estabeleceu um programa para acadêmicos que poderiam se filiar ao observatório, usar suas instalações e divulgar seu nome sem viver no local. Este arranjo abriu portas para que mulheres se juntassem à equipe, disse ele.
“George fez muito para promover as mulheres na astronomia”, segundo Consolmagno, que explicou como o seu antecessor começou uma Escola de Verão do Observatório do Vaticano, curso bianual voltado a estudantes de astronomia. Quase metade dos estudantes eram mulheres, e o programa ajudou a desenvolver jovens astrônomos vindos de países em desenvolvimento, disse ele.
Mais recentemente, Coyne fazia parte do corpo docente da Le Moyne College, em Siracusa, onde lecionou astronomia na Cátedra McDevitt de Filosofia Religiosa, desde 2011.
“Estamos profundamente tristes com o passamento do Padre Coyne. Sua influência em tantas frentes foi profunda”, disse Linda LeMura, reitora da Le Moyne.
“A Le Moyne teve o privilégio de contar com ele aqui nos últimos oito anos, e ele passou os últimos anos de sua vida fazendo o que amava: ensinar astronomia aos jovens”, disse ela.
Coyne era amplamente conhecido por promover o diálogo na interseção da teologia com a ciência.
Uma carta de 1987 de São João Paulo II a Coyne, por ocasião do 300º aniversário dos “Principia”, de Isaac Newton, que descreve as leis do movimento, levou o jesuíta a escrever extensivamente sobre a teologia católica e a relação da ciência e da fé. Entre seus trabalhos mais conhecidos está o livro de 2002 “Wayfarers in the Cosmos: The Human Quest for Meaning”, escrito em parceria com o colega astrônomo do Observatório do Vaticano, Pe. Alessandro Omizzolo.
Coyne foi fundamental na organização de congressos nos anos 90 sobre “A ação de Deus no universo”, realizados na sede do Observatório do Vaticano em Castel Gandolfo, na Itália, em colaboração com o Centro de Teologia e Ciências Naturais de Berkeley, Califórnia.
Em entrevista concedida em 2010 ao Catholic News Service após receber o Prêmio George van Biesbroeck, da Sociedade Astronômica Americana, Coyne disse acreditar que os astrônomos jesuítas podem dar contribuições singulares ao diálogo envolvendo teologia e ciência. “Mas insisto (...) não temos motivos para entrar nesse diálogo a menos que façamos pesquisas consistentes”, disse ele.
A pesquisa é parte importante do legado astronômico de Coyne. Sua obra inclui um estudo da superfície lunar que ajudou a orientar a NASA no planejamento das missões Ranger e das missões tripuladas da Apollo até a Lua. Ele também realizou pesquisas na superfície de Mercúrio, interagindo com sistemas estelares binários que emitem explosões súbitas de energia intensa, e galáxias Seyfert – grupo de galáxias espirais com centros estelares pequenos e extraordinariamente brilhantes.
Nascido em 19-01-1933, em Baltimore, no estado de Maryland, Coyne trabalhou quase todo os seus anos de sacerdócio como astrônomo.
Depois de se formar em 1951 em uma escola secundária jesuíta perto de Baltimore, Coyne entrou para o noviciado jesuíta em Wernersville, na Pensilvânia. Formou-se em matemática e licenciou-se em filosofia pela Universidade Fordham. Era doutor em astronomia pela Universidade de Georgetown e licenciado em teologia sagrada pela Woodstock College.
Foi ordenado padre em 1966.
Em seguida, Coyne juntou-se à equipe do Laboratório Lunar e Planetário da Universidade do Arizona onde ocupou vários cargos, assumindo responsabilidades adicionais e, eventualmente, tornando-se diretor associado em 1977.
Sua nomeação como diretor do Observatório do Vaticano em 1978 veio durante o breve pontificado do Papa João Paulo I. Nesse mesmo ano, ele também tornou-se diretor associado do Observatório Steward da Universidade do Arizona. Por um ano, começando em 1979, foi diretor interino e chefe do observatório e do departamento de astronomia da universidade.
Coyne deixa dois irmãos, Thomas e Francis.
Uma missa fúnebre foi realizada no dia 17 de fevereiro na Capela Panasci, da Le Moyne College. O enterro aconteceu em um cemitério jesuíta em Wernersville.
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Padre George Coyne, astrônomo, promovia o diálogo entre ciência e teologia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU