13 Fevereiro 2020
Adeus ao sacerdote jesuíta estadunidense George Coyne*, que ganhou o apelido de “astrônomo do papa”. Durante 28 anos, ele foi diretor da Specola Vaticana, o observatório astronômico da Igreja Católica situado em Castel Gandolfo, que, durante o seu longo mandato, criou uma filial no Monte Graham, no Arizona.
A reportagem é de Paolo Martini, publicada por ADN Kronos, 13-02-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O astrônomo de renome internacional morreu na noite de terça-feira, 11, no Hospital Universitário Upstate, em Syracuse, no Estado de Nova York, após um tumor, aos 87 anos de idade. Até poucos meses atrás, ele liderava uma equipe de pesquisadores astronômicos da Universidade do Arizona.
O anúncio do falecimento foi feito no Twitter pela Specola Vaticana, lembrando o Pe. Coyne como “um exemplo de líder carismático e de cientista, além de divulgador. Com ele, a Specola se modernizou. Que descanse na paz do Senhor!”.
La Specola Vaticana è molto rattristata per la morte di p. George V. Coyne, S.J. direttore della Specola Vaticana dal 1978 al 2006. Esempio di leader carismatico e di scienziato nonchè di divulgatore. Sotto di lui la Specola si è modernizzata .Che riposi nella pace del Signore ! pic.twitter.com/W0iJ2oOdvh
— Specola Vaticana (@SpecolaVaticana) February 13, 2020
O astrônomo jesuíta foi chamado para liderar a Specola Vaticana em setembro de 1978, a pedido do Papa João Paulo I e confirmado pelo seu sucessor João Paulo II, permanecendo no cargo até 2006.
Foi precisamente a conselho de Coyne que, durante seu pontificado, Karol Wojtyla abriu de maneira decisiva o debate entre fé e ciência, que, depois, levou à reabilitação eclesiástica do grande astrônomo italiano Galileu Galilei, que havia sido forçado a abjurar as suas ideias científicas pelo Santo Ofício.
Paralelamente à atividade de pesquisa astronômica, George Coyne também cultivou interesses no campo da filosofia e da história da ciência, que o levaram em 1983 à fundação da série de publicações “Studi Galileiani”.
Essa revista, a primeira dedicada exclusivamente a pesquisas históricas sobre Galileu, representou um fórum internacional no qual especialistas de todo o mundo se encontraram para discutir a obra e o pensamento daquele que lançou as bases da ciência moderna.
O Pe. Coyne fez parte da Comissão de Estudo do Caso Galileu, instituída por João Paulo II em 1981, dirigindo o seu grupo de trabalho científico-epistemológico. A comissão apresentou as conclusões sobre o caso em 1992, chegando à completa reabilitação de Galileu, com as indicações assumidas pelo então cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o ex-Santo Ofício.
Nascido no dia 19 de janeiro de 1933 em Baltimore, Maryland, EUA, George V. Coyne ingressou na Companhia de Jesus aos 18 anos de idade e foi ordenado sacerdote em 1965. Depois dos estudos teológicos no Woodstock College, formou-se em matemática em 1958 na Fordham University, em Nova York, e, em 1962, obteve seu doutorado em astronomia na Georgetown University, em Washington.
Entre 1963 e 1976, trabalhou como astrônomo no Laboratório Lunar e Planetário da Universidade do Arizona, onde, nos quatro anos posteriores, foi pesquisador e professor no Departamento de Astronomia, do qual foi diretor entre 1979 e 1980.
Como diretor da Specola, ele promoveu a instituição da seção de observação da Specola Vaticana em Tucson, Arizona, instalando no Monte Graham um telescópio com espelho de 1,80 metro, que constituiu o protótipo das ópticas astronômicas de nova tecnologia que também foram utilizadas para o telescópio ítalo-americano LBT com dois espelhos de oito metros, colocado na mesma montanha.
Como astrônomo, o Pe. Coyne realizou investigações sobre a natureza das atmosferas estendidas que formam um tipo de invólucro em torno de estrelas jovens ou que ainda estão nascendo. Autor de mais de 150 publicações científicas, ele também organizou a edição de vários livros.
Entre seus livros: “Faith and knowledge. Toward a new meeting of science and theology” [Fé e conhecimento. Rumo a um novo encontro entre ciência e teologia] (Libreria Editrice Vaticana, 2007); “L’universo e il senso della vita. Un ateo e un credente: due uomini di scienza a confronto” [O universo e o sentido da vida. Um ateu e um crente: dois homens de ciência em debate] (com Edoardo Boncinelli, San Paolo Edizioni, 2008); “Un universo comprensibile. Interazione tra scienza e teologia” [Um universo compreensível. Interação entre ciência e teologia] (com Michael Heller, Springer Verlag, 2009); “L’inizio e la fine dell’universo. Orientamenti scientifici, filosofici e teologici” [O início e o fim do universo. Orientações científicas, filosóficas e teológicas] (com Louis Caruana e Lubos Rojka, Pontificio Istituto Biblico, 2016).
Além de fazer parte de várias sociedades científicas, ele também era membro da Pontifícia Academia das Ciências. Obteve diplomas honorários de universidades de prestígio e, em 2009, recebeu o Prêmio George Van Biesbroeck da American Astronomical Society, em reconhecimento pela “riqueza das suas contribuições científicas, pelo papel de organizador da Escola de Verão do Observatório Vaticano e pelo seu papel fundamental em manter aberto o diálogo entre ciência e fé”.
"As implicações da evolução científica para a semântica da fé cristã" é o título do artigo de George Coyne, publicado por Cadernos Teologia Pública, Nº. 78. Para acessar o artigo clique aqui.
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Morreu George Coyne, jesuíta, o astrônomo do papa que reabilitou Galileu - Instituto Humanitas Unisinos - IHU