14 Janeiro 2020
"O celibato sacerdotal não é um dogma teológico, é uma tradição com uma utilidade pastoral e espiritual. Foi aberta uma discussão no Sínodo sobre a Amazônia, cabe ao Papa Francisco a última palavra, a qual todos devemos nos ater." O arcebispo de Monreale Michele Pennisi, vice-presidente da Conferência episcopal siciliana e ex-reitor do Colégio Capranica de Roma, observa que "mantiveram sua própria condição os pastores anglicanos casados que voltaram à Igreja Católica durante o pontificado anterior".
A entrevista é de Giacomo Galeazzi, publicada por La Stampa, 13-01-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
O Papa Emérito "trava" as aberturas de Bergoglio?
Bento XVI expressou legitimamente a sua convicção. Cabe a Francisco manter presente a universalidade da Igreja e tomar uma decisão, tendo em conta uma tradição testemunhada desde os tempos da carta de São Paulo aos Coríntios.
Qual é a sua experiência?
Dentro do território da minha arquidiocese, existe o enclave católico de rito bizantino de Piana degli Albanesi, onde padres casados e solteiros convivem juntos. E certamente não se pode dizer que a dedicação a Deus e à Igreja seja inferior no clero uxorado.
O que justifica o não à abolição do celibato?
Uma conveniência, uma utilidade do ponto de vista espiritual e eclesial, no sentido de que se considera tradicionalmente que o celibato nos permite doar-nos de maneira integral à nossa missão. Mas isso não significa que isso não aconteça também para o clero uxorado. Nas igrejas ortodoxas, os bispos e os monges não são casados. Na Igreja Latina, os presbíteros são celibatários, os diáconos permanentes não são.
É uma questão em aberto?
É desde o Vaticano II que se discute sobre os ‘viri probati’, ou seja, a ordenação de homens casados de certa idade e de fé comprovada que possam celebrar a missa naquelas comunidades que têm poucos sacerdotes e onde é difícil para um padre ir regularmente. Em 1971, a proposta foi submetida aos bispos e obteve baixa adesão. Mas a falta de padres não requer necessariamente a ordenação. Pode ser remediada estendendo os ministérios.
Que decisão você espera de Francisco sobre o celibato?
O Sínodo repropôs a questão e devemos esperar. Convicções podem ser expressas, mas depois vale a decisão do Papa. É irreal um quadro em que o pontífice reinante é corrigido ou dificultado por posições contrárias. É o Papa quem faz a síntese e dá a indicação para o bem da Igreja. Teremos que ver quais condições serão tratadas. Poderia ser uma decisão que não diz respeito a todo o clero, mas apenas a determinadas situações ou a possibilidade de ordenar homens casados.
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