18 Outubro 2019
Entre 2000 e 2017, 123 milhões de crianças morreram. O mapa da mortalidade infantil dos últimos vinte anos mostra um panorama cada vez mais fragmentado. Enquanto a tendência global mostra um declínio generalizado, a grande maioria dos falecimentos continua concentrada nas áreas mais pobres do globo. Um novo estudo, publicado nesta quarta-feira na revista Nature, aponta que 93% das mortes infantis, durante 2017, ocorreram em países de média e baixa renda. E, de acordo com especialistas, na ausência de desigualdades geográficas, 58% dessas mortes poderiam ter sido evitadas. Por exemplo, garantindo o acesso das crianças a cuidados médicos adequados e diretrizes corretas de alimentação e higiene.
A reportagem é de Valentina Raffio, publicada por El Periódico, 16-10-2019. A tradução é do Cepat.
Em sua estratégia para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a Organização das Nações Unidas (ONU) se propôs a acabar com as mortes infantis evitáveis até 2030. A nível global, os dados indicam que nos últimos 20 anos as mortes de crianças têm caído praticamente pela metade. Mesmo assim, os especialistas apontam que, embora globalmente haja progressos consideráveis, continua a ser um problema sério que o risco de morrer de uma criança antes dos cinco anos de idade varie de acordo com o local de nascimento.
Mesmo dentro do mesmo país, os níveis socioeconômicos das famílias e o acesso aos recursos determinam a sobrevivência dos menores. “Essas inconsistências indicam como as diferenças nas políticas de saúde, recursos financeiros, acesso e uso dos serviços de saúde, infraestrutura e desenvolvimento econômico contribuem para milhões de vidas”, argumenta o estudo.
A recém-publicada pesquisa contou com a participação de centenas de especialistas internacionais e foca em identificar as tendências da mortalidade infantil em 99 países de baixa e média renda. O resultado mostra que a maior concentração de mortes de menores ocorre na Índia, Nigéria, Paquistão e República Democrática do Congo. Os dados demonstram que também dentro desses países existem diferenças entre diferentes territórios com acesso desigual aos recursos.
“Esses dados demonstram que, por um lado, é necessário coletar informações mais precisas sobre saúde pública e, por outro, que isso sirva para fazer com que os governos redirecionem seus esforços de saúde pública para os territórios que mais necessitam”, comenta Quique Bassat, professor pesquisador do Instituto Catalão de Pesquisa e Estudos Avançados (ICREA), no Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), centro patrocinado por la Caixa.
“Os dados em larga escala mascaram as desigualdades no nível local. Precisamos de mais e melhores informações para saber como proteger os mais vulneráveis. Grande parte do mundo ainda está longe dos objetivos estabelecidos pela ONU e é responsabilidade de todos que isso mude”, acrescenta Josep Maria Haro, diretor da área de Docência, Pesquisa e Inovação do Parque Sanitário Sant Joan de Déu.
Nessa mesma linha, Michelle Bachelet, alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos e ex-presidente do Chile, argumenta que para reduzir as mortes de crianças, serão necessários maiores esforços para garantir, entre outros, que todos os bebês doentes possam ser tratados por um médico. “Os fatores que contribuem para essas mortes se limitam a falhas no tratamento de problemas mais amplos: pobreza, falta de poder, discriminação e injustiça”, comenta Bachelet em um artigo complementar à investigação. “Os dados concretos, como os publicados nesta semana, devem ser seguidos por ações em todo o espectro do governo e da sociedade”, acrescenta.
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93% da mortalidade infantil se concentra em países pobres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU