31 Agosto 2019
"A crise ecológica tem se agravado, enquanto as soluções propostas pela governança global tem fracassado ou tem sido insuficientes para reverter o caos ambiental. A ONU continua a representar a personificação do multilateralismo, mas sua legitimidade tem sido enfraquecida diante do crescimento do nacionalismo e dos interesses corporativos", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 30-08-2019.
A humanidade tem degradado a biocapacidade da Terra e alterado as condições climáticas do Planeta gerando uma situação, cada vez mais grave, de caos ambiental, sendo que a desordem na governança global agrava a crise ecológica e dificulta a implementação de soluções para retirar o mundo da rota do precipício.
O artigo “Disarray in Global Governance and Climate Change Chaos”, de Martine e Alves, publicado na Revista Brasileira de Estudos de População (REBEP), em agosto de 2019, analisa a trajetória da mudança climática e as limitações dos esforços em andamento para lidar com ela, discute os riscos ambientais decorrentes das fragilidades da globalização e da desgovernança global e, finalmente, considera os caminhos e os descaminhos para a resolução do trilema atual para lidar com os problemas econômicos, sociais e ambientais.
O crescimento das atividades antrópicas (para satisfazer as necessidades de alimentação, educação, saúde, moradia, etc.), aumenta a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e aceleram o aquecimento global. A utopia do desenvolvimento sustentável – socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável – tem se tornado uma distopia. O enriquecimento humano tem ocorrido às custas do empobrecimento da natureza. Existe uma relação inversa entre o crescimento da produção econômica mundial e o déficit ecológico global, conforme mostra o gráfico abaixo (Martine e Alves, 2019):
Crescimento da produção econômica mundial e o déficit ecológico global.
A década de 1990 pressagiou uma possível fase brilhante na governança global, com a queda do Muro de Berlim servindo de pano de fundo para o surgimento de uma nova ordem global. As Nações Unidas lideraram uma busca por consenso internacional por meio de uma série de Conferências sobre questões vitais que vão desde população e direitos humanos até a sustentabilidade ambiental. Enquanto isso, os princípios liberais, inspirados pelo Consenso de Washington, prometiam elevado crescimento econômico e importantes benefícios sociais para a população mundial. Um quarto de século depois, as perspectivas de prosperidade, democracia e harmonia global diminuíram drasticamente.
De fato, a crise ecológica tem se agravado, enquanto as soluções propostas pela governança global tem fracassado ou tem sido insuficientes para reverter o caos ambiental. A ONU continua a representar a personificação do multilateralismo, mas sua legitimidade tem sido enfraquecida diante do crescimento do nacionalismo e dos interesses corporativos.
A Agenda 2030 da ONU – Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – embora sejam iniciativas meritórias, são insuficientes e ineficazes para resolver os problemas estruturais gerados pelo paradigma hegemônico do desenvolvimento e do crescimento econômico ilimitado, degradador das bases ecológicas do Planeta.
É urgente ir além das iniciativas atuais e realizar discussões sérias sobre as causas estruturais da crise ecológica gerada por nossa civilização e pelo modo de produção e consumo das sociedades em geral, em especial aquelas viciadas no “consumicídio”.
O artigo “Desordem na governança global e o caos nas mudanças climáticas” (em inglês) pode ser acessado no link abaixo:
MARTINE, G. ALVES, JED. “Disarray in Global Governance and Climate Change Chaos”, R. bras. Est. Pop., v.36, 1-30, e0075, 2019.
Os cientistas alertam para o fato de que a atividade humana no Antropoceno está provocando a transgressão de vários limites planetários. A equação população, meio ambiente e desenvolvimento ficou insolúvel.
Este artigo revisa a trajetória das mudanças climáticas, discute as limitações dos esforços atuais para lidar com elas e analisa a atual crise na governança global, além de refletir sobre os riscos que esse imbróglio político apresenta para o nosso futuro ambiental.
As respostas globais são ineficazes devido à deterioração do multilaterismo e à promoção generalizada do crescimento econômico insustentável baseado no consumismo. O descontentamento com as consequências da globalização desestabilizou a governança nacional e, no processo, corroeu ainda mais as perspectivas de uma governança global eficaz para enfrentar crises sociais, políticas e ambientais simbióticas.
A frustração com a globalização está proporcionando aos populistas uma plataforma para atrair eleitores com esquemas ingênuos que incluem o negacionismo.
Ao mesmo tempo, uma nova divisão do poder econômico, político e científico está surgindo com a Belt and Road Initiative da China. Discutem-se caminhos potenciais e obstáculos para o multilaterismo na tentativa de resolver esse dilema.
A fé cega na tecnologia, o negacionismo e a difusão da cultura de consumo dificultam os esforços multilaterais contra as ameaças ambientais. Infelizmente, parece que eleitores, instituições e políticas só se ajustarão depois que a intensificação dos desastres climáticos forçar uma mudança radical de mentalidade.
Acesse o resumo aqui.
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Desordem na governança global e o caos nas mudanças climáticas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU