17 Mai 2019
Mobilizar a sociedade civil, promover o nascimento de um clero indígena, levar os governos a salvar os ecossistemas: o cardeal Cláudio Hummes explica na Gregoriana alguns dos objetivos do encontro que será realizado no Vaticano no próximo mês de outubro. Os contrastes com o governo Bolsonaro.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por Vatican Insider, 16-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
"O próximo Sínodo será celebrado no contexto da crise climática e ecológica global. A degradação da Amazônia, seu desmatamento e a poluição colocam em risco o futuro do planeta. Este é um fato sobre o qual existe amplo consenso entre os cientistas"; isso foi dito pelo cardeal Cláudio Hummes, brasileiro, presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) durante a conferência realizada na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e dedicada ao próximo sínodo sobre a Amazônia que será realizado no Vaticano de 6 a 27 de outubro.
"A ideia do crescimento infinito ou ilimitado - disse o cardeal - é baseada na mentira da infinita disponibilidade dos bens do planeta que é explorado além do limite". Hummes falou positivamente do Acordo para parar a mudança climática firmado em Paris (dezembro de 2015); muitos governos se comprometeram nesse sentido, observou, mas é verdade que nem tudo depende dos governos, o papel decisivo - segundo o cardeal brasileiro - é o da sociedade civil que deve pressionar, "claro, uma pressão democrática e não violenta, os seus governos” para que venham a intervir com políticas adequadas para conter o efeito estufa e as mudanças climáticas. "Eu sempre digo - ele também declarou - que os governos duram 5-6 anos, depois passam. Por exemplo, o governo dos EUA agora se eximiu dos compromissos assumidos em Paris, mas é a sociedade civil que deve se manifestar, porque está em jogo o nosso futuro e o dos nossos filhos e netos”.
Hummes também explicou o estado das relações com o governo brasileiro liderado por Jair Bolsonaro, pois o presidente já havia criticado a Igreja pela atenção e empenho demonstrados em defesa da floresta amazônica. No entanto, justamente nestes dias, oito ex-ministros do Meio Ambiente brasileiros (José Carlos Carvalho, Edson Duarte, José Sarney Filho, Gustavo Krause, Carlos Minc, Rubens Ricupero, Marina Silva e Izabela Teixeira) acusaram Bolsonaro de ser um "negacionista climático", um "exterminador do futuro", pois suas políticas estariam irreversivelmente favorecendo o desmatamento. A principal acusação pesa, em especial, sobre a escolha de introduzir novos pesticidas, de autorizar uma exploração indiscriminada de minas na floresta tropical e de reduzir a terra dos indígenas em favor das multinacionais.
O governo de Brasília atacou repetidamente a Igreja sobre o tema da Amazônia por várias razões, algumas foram superadas e outras não, explicou o cardeal Hummes, ex-arcebispo de São Paulo. "Continuam fortes as críticas do governo do Brasil à Igreja e ao Sínodo - disse o cardeal – pela forma como a Igreja pretende preservar e defender a Amazônia, seu território, as populações que vivem lá; por outro lado, foi superada a crítica inicial que surgiu quando se receava que a igreja quisesse colocar em discussão as fronteiras do país e a soberania do Brasil. Mas o Papa se expressou contra a internacionalização da Amazônia; a conferência episcopal era vista como um partido de oposição". O cardeal explica então que as intenções de Bolsonaro de organizar uma espécie de contra-sínodo em Roma são destinadas a serem redimensionadas e não ter realmente importância.
Significativo é o papel dos povos indígenas, também devido à intensa participação na fase preparatória do sínodo. "Os indígenas - o cardeal presidente do Repam disse a esse respeito - pedem que a igreja seja sua aliada, porém que não seja substitua a sua voz, querem que seus pedidos sejam apoiados pela igreja, mas levar adiante as suas propostas. Eles dizem: "Queremos conduzir a nossa história”. Eles querem ser ouvidos, e não apenas de forma consultiva, quando são tomadas decisões sobre a sua terra".
Quanto à carência de sacerdotes que caracteriza de maneira cada vez mais evidente a imensa região amazônica – o trabalho está sendo orientado para dar vida a "uma igreja com cara indígena, é necessário um clero indígena nativo, uma igreja inculturada na realidade local". Esta última parece ser o caminho que, quase inevitavelmente, a Igreja seguirá para remediar à escassez crônica de sacerdotes na região, motivo pelo qual muitas comunidades estão sem pastores. Quanto ao caminho sinodal, nos nove países ligados pela floresta amazônica, foram realizados 261 momentos de "escuta sinodal", dezenas de milhares de pessoas participaram dos encontros, entre os quais os representantes de 140 diferentes populações indígenas e os pedidos vindos destas últimas podem ser resumidos em quatro categorias: o direito ao território, à cultura, à língua e ao próprio modelo de desenvolvimento.
Para o cardeal Pedro Ricardo Barreto, vice-presidente da Repam e arcebispo de Huancayo no Peru, o ponto de partida continua sendo o tema da ecologia integral contida na Laudato si', ou seja, a interconexão entre todos os problemas e a proposta da igreja de um cuidado da Casa comum que concerne estilos de vida, processos de tomada de decisão, relações entre comunidades e estados. "20% da Amazônia já foi destruído - lembrou - e dela depende 10% do oxigênio do mundo".
Depois indicou algumas prioridades para a Amazônia a partir da Laudato si': "O cuidado da Casa comum para deter as consequências da mudança climática, depois o problema da violência e a construção da paz, porque a Amazônia é o espelho do que hoje acontece no mundo; o problema da contaminação da terra e da água; a pobreza e a cultura do desperdício à qual o Papa responde com a globalização da solidariedade; governabilidade sem corrupção e, finalmente, a democracia participativa; é preciso construir redes solidárias porque também existem redes criminais”.
Finalmente, o cardeal Peter Turkson, prefeito do Dicastério de Desenvolvimento Humano Integral, em uma mensagem em vídeo enviada à conferência, entre outras coisas, lembrou que o Sínodo é dedicado à Amazônia e às outras áreas equatoriais, como a bacia do Congo, ou áreas similares no sudeste da Ásia, que permitem através das florestas equatoriais a vida na terra e hoje estão ameaçadas de destruição.
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Na Amazônia um Sínodo para responder à crise ecológica global - Instituto Humanitas Unisinos - IHU