15 Abril 2019
"Jesus - juntamente com sua mãe Maria e seu pai José - foi “morador de rua”; nasceu como “sem-teto” na manjedoura de um estábulo (cf. Lc 2,1-7)", escreve Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia (UFG).
Durante o Ano Litúrgico, os cristãos e cristãs celebramos a memória, ou seja, tornamos presente hoje - em nossa realidade histórica - o significado dos principais acontecimentos da Vida, Morte e Ressurreição de Jesus.
Ainda antes de nascer, Jesus - juntamente com sua mãe Maria e seu pai José - foi “morador de rua”; nasceu como “sem-teto” na manjedoura de um estábulo (cf. Lc 2,1-7); anunciou - pela voz do anjo - a Boa Notícia do seu nascimento aos pastores, os “sem-terra” da época (cf. Lc 2,8-20); recebeu a visita dos Magos, representando todos os povos e todas as culturas (cf. Mt 2,1-12); com Maria e José, seus pais, foi “migrante e refugiado” no Egito, para escapar da ganância e da perversidade de Herodes, que queria mata-lo (cf, Mt 2,13-18); e exerceu a profissão de carpinteiro, junto com seu pai José (cf. Mt 13,54-55 e Mc 6,3).
Em sua vida pública, Jesus foi sempre próximo e entranhadamente solidário com todos os excluídos/as e descartados/as da sociedade. Como exemplo (entre os muitos que poderiam ser citados), lembro a cura do homem que tinha a mão direita paralisada (cf. Lc 6, 8-11).
Denunciou - cheio de indignação - a hipocrisia dos fariseus e doutores da Lei (cf. Mt 23,13-36); dialogou com o jovem rico, que - pelo seu apego aos bens - não teve a coragem de segui-lo e foi embora triste (cf. Mt 19,16-30; Mc 10,17-31;Lc 18,18-30); encontrou-se com Zaqueu - também homem rico - em sua casa, que se converteu e mudou totalmente de vida, praticando a partilha dos bens (cf. Lc 19,1-10); foi acusado de “subverter” o povo (cf. Lc 23,1-5); e celebrou a Ceia com os discípulos, lavando seus pés (cf. Jo 13,1-20).
Jesus “andou por toda parte fazendo o bem” (At 10,38) e - justamente por isso - incomodou os poderosos de sua época. “O justo nos incomoda e se opõe às nossas ações” (Sb 2,12).
Depois de muitas tentativas por parte dos fariseus e doutores da Lei, Jesus - o Libertador, o Salvador, o Filho de Deus - foi traído por Judas, foi preso e morto na cruz como criminoso, mas Ele venceu a morte e ressuscitou. “Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui! Ressuscitou!” (Lc 24, 5-6).
Jesus Ressuscitado enviou o Espírito Santo (o Amor de Deus) aos discípulos. “Jesus disse para eles: ‘A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês’. Tendo falado isso, soprou sobre eles, dizendo: ‘Recebam o Espírito Santo’” (Jo 20, 21-22).
A Espiritualidade da Semana Santa, sobretudo do Tríduo Pascal (a Páscoa - Passagem - em três momentos: o Cristo Crucificado, o Cristo Sepultado e o Cristo Ressuscitado) - é o centro e o cume da Espiritualidade do Ano Litúrgico.
Viver a Espiritualidade da Semana Santa significa viver hoje a Ceia do Senhor, sua Paixão e Morte e sua Ressurreição: a maior prova do Amor de Deus para conosco.
Jesus continua celebrando a Ceia com seus seguidores e seguidoras, em Comunidades de irmãos e irmãs, que - com o testemunho e com a palavra - anunciam a Boa Notícia do Reino de Deus.
Jesus continua sendo criminalizado, preso e morto na cruz, na pessoa dos “moradores de rua”, dos “sem-teto”, dos “sem-terra”, dos “sem-trabalho”, das mulheres violentadas e assassinadas, dos jovens - sobretudo negros - presos e mortos pela polícia, das crianças e dos idosos que morrem por falta de Políticas Públicas de atendimento à Saúde e de todos os excluídos/as e descartados/as de nossa sociedade.
Jesus continua também ressuscitando nas lutas e vitórias do Povo, unido e organizado, nas quais os verdadeiros seguidores e seguidoras de Jesus estão presentes e atuam (Movimentos Populares, Sindicatos de Trabalhadores/as, Partidos Políticos Populares, Fóruns ou Comitês de Defesa dos Direitos Humanos, e outros).
Por fim, a Espiritualidade da Semana Santa é histórica e perpassa todas as dimensões do ser humano - pessoais e sociais (sócio-econômico-político-ecológico-culturais) - e do mundo. Por isso, Ela é Espiritualidade libertadora. Vivamos hoje a Espiritualidade da Semana Santa! Feliz Páscoa!
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A Espiritualidade da Semana Santa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU