02 Outubro 2018
Segunda maior potência do mundo, a China planeja superar os Estados Unidos e a Europa até 2049 em todas as indústrias de ponta. Uma ambição possível, tendo em conta os últimos grandes avanços científicos deste país.
A reportagem é de Jean-Jacques Valette, publicada por We Demain, 28-09-2018. A tradução é de André Langer.
Genética, computadores quânticos, inteligência artificial... não passa uma semana sem que a mídia internacional anuncie um avanço em um desses setores do futuro. Mas o fato novo: uma parte crescente dessas invenções é agora chinesa.
Com um orçamento de pesquisa e desenvolvimento (P&D) que aumentou 900% na última década e deverá atingir US$ 400 bilhões em 2020, a China é hoje uma grande potência científica. A prova? Ela acabou de ultrapassar o Japão este ano no número de patentes (48.882) e, assim, sobe para segundo lugar, logo atrás dos Estados Unidos, país que deve ultrapassar em três anos, de acordo com a ONU.
Uma sofisticação impressionante para um país visto durante muito tempo como a fábrica do mundo, produzindo mercadorias baratas e de baixa qualidade. Mas que ambiciona tornar-se, em 2049 – ou seja, 100 anos após sua revolução –, o líder indiscutível de setores importantes como robótica, tecnologia da informação, aviação ou energias renováveis. E passou a respeitar as regras da OMC.
O século XXI será chinês? Aqui está um top 5 dos últimos grandes avanços científicos do Império do Meio.
Nas montanhas de Guizhou, a China inaugurou em setembro de 2016 o FAST (Five-hundret-meter Aperture Spherical Telescope – Telescópio Esférico de 500 metros de Abertura) que, como o próprio nome sugere, possui uma parábola de 500 metros de diâmetro. Isso faz dele o maior telescópio de sua categoria, com uma sensibilidade três vezes maior que o radiotelescópio americano de Arecibo.
Para evitar qualquer distúrbio eletromagnético, o governo chinês não hesitou em deslocar 10 mil pessoas que vivem em um raio de cinco quilômetros.
No verão de 2017, a China surpreendeu o mundo ao anunciar na revista Nature que havia conseguido a primeira comunicação quântica por satélite. Permitiu a transferência de dados de uma forma ultrassegura a uma distância de 1.200 km, contra 100 anteriormente.
Para isso, os cientistas usaram um satélite experimental que usa as leis da física quântica. De acordo com isso, duas partículas separadas fisicamente podem ser “emaranhadas” e se comportar como uma única partícula. Isso permite a transmissão instantânea e inviolável de informações, o que poderia prefigurar a internet de amanhã.
Com o TaihuLight, a China dominou durante cinco anos o mundo dos supercomputadores, antes de ser destronado em junho passado pelo Summit. Uma nova máquina concebida pela americana IBM com uma capacidade de cálculo de 200 petaflops contra 93 para seu concorrente asiático.
Mas a China continua sendo a líder desse mercado, com 206 dos 500 computadores mais potentes do mundo, contra 124 dos Estados Unidos. E apesar do embargo americano aos chips de alta tecnologia, três empresas chinesas entraram no top 5 das principais fabricantes de supercomputadores. A Lenovo está em primeiro lugar.
Em 2030, a China poderá dominar o setor da inteligência artificial. Este é, em todo caso, o plano apresentado pelo governo que não mede esforços para alcançar suas ambições. Hoje, 48% dos investimentos globais em pesquisa de inteligência artificial são chineses, em comparação com 38% dos Estados Unidos e 14% do resto do mundo. De acordo com um estudo da CBInsights, o número de patentes neste campo está em expansão: 652 patentes chinesas sobre o deep learning em 2017, contra 101 para os Estados Unidos. 641 a 130 para a inteligência artificial e 882 a 770 para o machine learning.
Para atingir esse objetivo, o gigante asiático também pode contar com em seus próprios GAFA, os BATX (Baidu, Alibaba, Tencent, Xiaomi), comparáveis em tamanho aos seus homólogos americanos. E com quase 800 milhões de usuários da internet, cujos dados já servem para treinar as máquinas inteligentes de amanhã.
Depois de terem sido os primeiros a modificar embriões humanos em 2017, cientistas chineses conseguiram, em agosto passado, a proeza de mudar uma única letra do seu código genético, com uma taxa de sucesso de 16 dos 18 testes. Uma invenção que tem o potencial de acabar com as doenças hereditárias.
Os pesquisadores aperfeiçoaram a tecnologia Crispr-Cas9, apelidada de “par de tesouras genéticas”, para lhe dar, segundo eles, a precisão de um “bisturi”. Felizmente, esses embriões não foram inseminados e foram destruídos. Esta descoberta científica, no entanto, abre o caminho para novas formas de eugenia. Em sua busca desenfreada pelo progresso, a China não está preocupada com a ética.
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Em cinco setores-chave, a China já está superando o Ocidente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU