03 Setembro 2018
Enquanto a história do escândalo dos abusos sexuais se desloca, momentaneamente, para a Austrália, onde os bispos aceitaram 98 por cento das recomendações para a reforma feitas pela Comissão Real mas rejeitaram um pedido para remover o sigilo confessional, a maior parte das últimas 24 horas parecem ter tido pouco avanço na questão do “encobrimento do papa”.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 31-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Aqui está uma amostra de novos desenvolvimentos.
Na sexta-feira, o Movimento dos Focolares demonstrou seu apoio ao Papa Francisco. Fundado na Itália pós Segunda Guerra Mundial, o Focolares é um movimento leigo que enfatiza a unidade, que diz ter aproximadamente 120 mil seguidores globalmente.
“Santo Padre, você pode realmente contar com nossa unidade inteira e com nossas preces fervorosas voltadas para esses ataques que visam criar descrença em sua pessoa e na sua atitude de renovação,” disse Maria Voce, líder do Movimento Focolares.
“Em cada ferida da Igreja e da humanidade,” disse Voce, “reconhecemos o Cristo crucificado e abandonado e, junto de você, olhamos para Maria para vivermos com coragem o seu exemplo, como discípulos autênticos.”
O pontífice também recebeu um voto de confiança de fora das fronteiras da Igreja Católica na sexta-feira, dia 31 de agosto de 2018, com uma declaração conjunta da Comunidade do Mundo Árabe da Itália, da Confederação Internacional Secular Inter Religiosa e de um grupo leigo italiano chamado “United to Unite.”
“Nossa posição ao lado do papa é muito clara,” diz a nota. “Desde o primeiro dia de sua eleição, compartilhamos de suas posições, de suas iniciativas e de suas declarações em favor do diálogo, da paz, dos imigrantes e das relações com o mundo árabe e o mundo muçulmano,” constata.
Afirmando que querem ajudar o papa contra “seus inimigos dentro e fora da Igreja,” os grupos lançaram uma hashtag no Twitter:
“#NessunoTocchiFrancesco,” que significa “ninguém toca em Francisco.”
“Nossa ajuda é determinada e sem ambiguidades,” dizem os grupos.
Na sexta-feira, os jornais italianos mostraram que o Arcebispo Georg Gänswein, assessor pessoal do Papa emérito Bento XVI, desmentiu novamente que Bento “confirmou” o conteúdo da carta de onze páginas divulgada no domingo pelo Arcebispo italiano Carlo Maria Viganò.
Nela, Viganò, ex-embaixador papal nos Estados Unidos, alegou que Francisco foi informado em 2013 que Bento XVI havia aplicado restrições ao ex-Cardeal Theodore McCarrick em consequência de seus casos de má-conduta sexual, e que Francisco escolheu ignorá-las.
Nos primeiros relatórios, alguns canais da mídia alegaram que Bento XVI, ou fontes próximas a ele, “confirmaram” as acusações.
“[Bento] nunca viu o documento que foi publicado,” Gänswein disse à agência de notícias italiana Ansa. “Ele nunca o leu, e nunca o confirmou. É tudo bobagem.”
Em uma indicação de que as pressões por reformas mais amplas estão sendo construídas, a Diocese de Dallas, no Texas, anunciou quinta-feira que os padres da diocese, juntamente do Bispo Edward Burns, fizeram uma petição para que Francisco faça um Sínodo dos Bispos especial no Vaticano para tratar do assunto.
Deverão ser tratados os tópicos que eles sugeriram, incluindo “o cuidado com a salvaguarda das crianças e dos vulneráveis, o cuidado das vítimas, a identidade e o estilo de vida do clero, a importância de uma formação humana saudável dentro do presbiterato/comunidade religiosa, etc.” A carta diz que os tópicos do sínodo “devem resolver o abuso de poder, do clericalismo, da responsabilidade e da compreensão da transparência na Igreja.”
Um Sínodo de Bispos é uma reunião de prelados ao redor do mundo, acontecendo geralmente no Vaticano por aproximadamente três semanas e dedicada a um tópico considerado especialmente importante ou urgente. Embora os sínodos sejam meramente consultivos e não tomem decisões, suas conclusões costumam a ser levadas a sério pelos papas em questão de decisões políticas de enquadramento.
Por fim, não pareceu haver qualquer atmosfera de crise no Vaticano na sexta, onde Francisco conduziu seu trabalho como habitualmente: dois encontros pela manhã com o Cardeal Gualtiero Bassetti de Perúgia, na Itália, presidente da conferência italiana de bispos, e com o diretor da Rede Mundial de Oração do Papa e, em seguida, uma breve conversa com o Capelão Geral dos Oblatos de São José.
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As últimas da saga de acusações ao Papa: Apoio a Francisco, Bento XVI e um Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU