27 Agosto 2018
Um dos oito sobreviventes de abusos irlandeses que se reuniram com o papa Francisco em 25 de agosto diz que, durante a reunião, o pontífice disse ao grupo que não está planejando implementar novos procedimentos para responsabilizar bispos que encobrirem abusos do clero, citando medidas que a Igreja Católica já possui para fazer isso.
Marie Collins é vista no Encontro Mundial das Famílias, em Dublin, em 24 de agosto. (Foto: John McElroy / CNS - cortesia do Encontro Mundial das Famílias)
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 25-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
"Em resposta à [minha] questão sobre estabelecer um tribunal e que tipo de medidas concretas haverá, parece que não haverá mais nada", disse Marie Collins, ex-membro da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores, ao NCR.
"O papa disse que já existem tribunais sendo realizados e que os bispos estão sendo responsabilizados perante eles", disse ela.
Collins, que renunciou da comissão papal em 2017 por frustração, disse que então perguntou a Francisco, durante a reunião, por que a igreja continua a sua prática de deixar os bispos com a responsabilidade de renunciarem ao invés de serem demitidos.
"Eu disse: ‘Se os os bispos estão sendo sancionados... então vocês deveriam nos contar sobre isso, vocês deveriam fazer com que se saiba a respeito’", lembrou ela. "'Não com que eles possam simplesmente se afastar e renunciar, como se fosse por escolha’".
"Ele disse que era um ponto de vista interessante, e que faria algo a respeito", disse Collins ao descrever a resposta de Francisco.
O Vaticano disse que Collins e os outros sete sobreviventes se encontraram com Francisco por cerca de 90 minutos no começo da noite de 25 de agosto. Dois outros sobreviventes presentes na reunião divulgaram uma declaração dizendo que o pontífice havia "condenado a corrupção e encobrimento dentro da igreja como ‘caca’", usando um termo em espanhol para excremento humano.
Collins estava se referindo em seus comentários a uma possível renovação de uma proposta de 2015 da comissão pontifícia, aprovada por Francisco, de que o Vaticano crie um tribunal especial para julgar bispos que não lidam apropriadamente com acusações de abuso sexual clerical.
Esse tribunal nunca chegou a ser concretizado. Em 2016, o papa decidiu, em vez disso, dar aos quatro escritórios do Vaticano o poder de iniciar a remoção de bispos considerados negligentes em responder a casos de abuso.
Descrevendo a resposta de Francisco à sua interrogação, Collins disse: "Parece que ele está confirmando que não está fazendo nada além do que está fazendo no momento".
"Se, como ele diz, os líderes da igreja estão sendo responsabilizados nos bastidores, e depois sendo autorizados a renunciar quando de fato há algum tipo de descoberta sobre eles, então isso deve ser tornado público", disse ela. "E ele concordou com essa opinião e disse que faria algo sobre isso".
"O fato de não haver nada novo sendo planejado ou proposto, para mim, é decepcionante", disse Collins. "Mas, se ele vai levar isso adiante e realmente vai ser mais transparente sobre o que está acontecendo com os bispos e se eles estão sendo responsabilizados de alguma forma e isso se tornar mais público... Eu suponho que seja um passo à frente".
Collins, que disse não haver nenhum acordo entre os sobreviventes e o papa sobre não discutir sua reunião depois, disse que o encontro incluiu um "grupo bem representativo" de sobreviventes irlandeses de abuso clerical, religioso e institucional.
"Certamente não era uma coisa só simbólica", disse ela. "Havia pessoas lá que tinham coisas importantes para dizer e ele ouviu e vai tomar algumas atitudes. Algumas das coisas que pedimos a ele, ele vai fazer".
"Acho que foi positivo que ele tenha encontrado as pessoas que encontrou e que tenha encontrado pessoas que o desafiaram e lhe deram opiniões muito específicas e demandas muito específicas", continuou Collins. "Algumas ele foi capaz de responder e vai agir de acordo".
"Uma coisa que ficou clara é que ele reconhece a extensão do que ele se referiu como a corrupção daqueles que encobrem", disse ela.
Nota de IHU On-Line: Na viagem de retorno a Roma, Papa Francisco, no avião, respondeu à questão levantada por Marie Collins:
A pergunta do jornalista é a seguinte:
"Marie Collins, que fue víctima de abusos, dijo que usted no está a favor de la institución de un tribunal en el Vaticano para juzgar las responsabilidades de los obispos en los abusos. ¿Por qué?"
A resposta do Papa é, em síntese, a seguinte:
"No, no es así. La estimo mucho y la quiero. La referencia es a mi "motu proprio" "Como una madre amorosa", en el que se decía que para juzgar al obispo sería conveniente crear un tribunal especial. Pero después se vio que no se podía recorrer y que tampoco era conveniente, debido a las diferentes culturas de los obispos de diferentes países. Y entonces, ¿qué hacemos? Un jurado "ad hoc" para cada obispo, que no sea el mismo en cada caso. Cuando haya que juzgar a un obispo, que el Papa instituya el mejor jurado para ese obispo y para ese caso. Funciona mejor de esta manera. Ya han sido juzgados diferentes obispos. El último fue el arzobispo de Guam, que hizo una apelación. Ahora hay otro juicio en curso, y veremos como acaba".
Ele conclui que estima Marie Collins e que na seguinte vez que virá à Roma lhe explicará melhor a sua posição.
A íntegra da entrevista, em italiano, pode ser lida aqui.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Marie Collins: Para os sobreviventes irlandeses, Francisco disse que não está considerando um novo tribunal de responsabilização - Instituto Humanitas Unisinos - IHU