08 Agosto 2018
Marie Collins disse que as ações tomadas pelos líderes da Igreja, até agora, em resposta às alegações contra ex-cardeal McCarrick não são suficientes para resolver o problema.
A reportagem é publicada por National Catholic Register, 06-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Uma ex-membro da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores (PCPM) disse que as propostas feitas pelo cardeal Donald Wuerl em decorrência do escândalo do ex-cardeal Theodore McCarrick não vão longe o suficiente.
Marie Collins, que é uma sobrevivente de abuso clerical, também disse que as ações tomadas pelos líderes da Igreja até agora, em resposta às alegações sobre McCarrick, não são suficientes para resolver o problema.
O cardeal Wuerl divulgou uma “reflexão pastoral” no dia 03 de agosto sobre a crise do arcebispo McCarrick. Nela, o arcebispo de Washington observou que era "particularmente desanimador" que a Igreja já tivesse passado pela dor e pelo trauma de abordar abusos sexuais e fracassos episcopais em 2002, mas citou São João Paulo II, dizendo: "Devemos estar confiantes de que este tempo de julgamento trará uma purificação de toda a comunidade católica”.
O cardeal também apontou que o trabalho anterior dos bispos americanos, incluindo a Carta de Dallas, poderia ser revisitado e tomado como base.
Em resposta, Collins disse ao Catholic News Agency (CNA) que o cardeal Wuerl "fala como se a questão já tivesse sido levada a cabo, quando sabemos que esse não é o caso".
A reflexão do Cardeal Wuerl também elogiou o Papa Francisco por sua resposta "forte e decisiva" às alegações do Arcebispo McCarrick, o considerando um exemplo a seguir.
Em 28 de julho, o Papa aceitou a renúncia do Arcebispo McCarrick do Colégio Cardinalício e o orientou a viver em "isolamento, oração e penitência" até o resultado de um processo canônico. Isto se seguiu à semelhante aceitação por parte do Papa das demissões de cinco bispos chilenos, na sequência do escândalo de abusos que ainda se desenrola no Chile.
Collins, que renunciou da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores em março de 2017, disse que as demissões episcopais não eram substitutas para uma determinação adequada de culpa e punição formal. Ela disse que permitir que os bispos se retirem efetivamente após um escândalo público não é um meio confiável de resolver a crise.
“Pedir renúncias não é a mesma coisa que ter um processo penal adequado e transparente”, disse ela, “nenhuma estrutura adequada foi colocada em prática para responsabilizar bispos ou líderes religiosos”.
A reflexão do Cardeal Wuerl observou que, em 2002, os bispos dos EUA emitiram uma “Declaração de Compromisso Episcopal”, que os obrigou a autorrelatar as alegações feitas contra eles ao núncio apostólico e a relatar as alegações que receberam contra outros bispos.
Wuerl disse que a declaração poderia "servir como o núcleo de um mecanismo mais eficaz" para responsabilizar os bispos. Collins estava profundamente cética em relação à sugestão.
Disse ela: "É preocupante que o Cardeal Wuerl fale em revisar a muito insatisfatória Declaração dos Comitês Episcopais que acompanhou a Carta de Dallas, quando o que é necessário é que a carta em si seja revista para cobrir todos os padres e religiosos".
Um porta-voz da Arquidiocese de Washington disse ao CNA que os comentários do cardeal foram pretendidos como uma "contribuição para uma conversa importante e contínua".
"O cardeal Wuerl estava chamando a atenção para a Declaração de Compromisso Episcopal, para destacar o que os bispos dos EUA podem tomar como base", disse ele.
“Ele sente que é importante para a Igreja, e especialmente para as vítimas, que o tempo não seja desperdiçado reinventando a roda. A Declaração e a Carta poderiam ser tomadas como base e ser aperfeiçoadas, e poderiam ser úteis dessa maneira. Mas se os bispos decidirem seguir outra direção, isso também é uma opção.”
Em uma entrevista à imprensa em separado, dada em 05 de agosto, o cardeal Wuerl sugeriu que a Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos pudesse formar um comitê ou painel de bispos com autoridade para investigar alegações, e até mesmo rumores persistentes sobre bispos individuais, como os que estiveram em ampla circulação envolvendo McCarrick.
Collins disse que a Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores já havia elaborado um conjunto de diretrizes de salvaguarda, aprovado pelo Papa, mas que ficou a cargo das conferências episcopais tomar conhecimento das recomendações da comissão.
"O modelo de Diretrizes de Salvaguarda que a Comissão Pontifícia para a Proteção dos Menores elaborou e que foi aprovado pelo Papa está no site da Comissão", ressaltou, notando que ao contrário da Carta de Dallas, "a diretriz da Comissão não exclui os bispos”.
Ecoando críticas anteriores feitas sobre o modo como o trabalho da Comissão Pontifícia foi adotado, Collins disse que, embora as diretrizes devessem ser um padrão obrigatório, elas ainda não se tornaram normativas.
“A intenção original era disseminar as diretrizes para todas as conferências dos bispos globalmente como melhores práticas e manter todas as políticas locais dentro desse padrão.”
Quando perguntado sobre como uma resposta credível ao escândalo McCarrick poderia parecer, Collins pediu um sério compromisso com a transparência da Igreja, tanto em Roma quanto nas dioceses.
“Deve haver transparência em torno de todas as ações tomadas em resposta a um relato de qualquer tipo de abuso ou exploração. O uso do 'segredo pontifício' para restringir a informação disponível às vítimas nos julgamentos canônicos deve terminar - isto foi recomendado ao Santo Padre pelo PCPM em setembro passado, mas não houve nenhuma palavra sobre se a recomendação foi aprovada ou não."
Collins disse que uma reforma real precisaria ser dramática e poderia incluir um órgão nacional encarregado de inspecionar as dioceses.
“Cada diocese deve se abrir a uma auditoria anual de um órgão independente, com os bispos diocesanos disponibilizando todos os seus arquivos. Isso é feito na Irlanda pelo Conselho Nacional para a Salvaguarda das Crianças na Igreja Católica e suas auditorias são publicadas”.
“Os Conselhos não são completamente independentes, mas são um escritório central não ligado a nenhuma diocese”, disse ela.
Em sua reflexão pastoral, o cardeal Wuerl disse que qualquer revisão de política deve ser mais do que apenas canônica e processual. O cardeal disse que qualquer versão revisada deve incluir "uma perspectiva teológica e moral expansiva" e reconhecer a necessidade de "correção fraterna" entre os bispos.
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Sobrevivente de abuso sexual irlandesa, Marie Collins diz que as propostas do cardeal Wuerl não são o suficiente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU