18 Mai 2017
A irlandesa Marie Collins elogiou o compromisso do Papa Francisco em erradicar este flagelo, ao mesmo tempo em que lançou outro aviso aos imobilistas da Cúria, personificados pelo cardeal Gerhard Müller. “Acredito que, definitivamente, compreende o horror dos abusos e a necessidade de que sejam eliminados da Igreja, tanto quanto possível”, opinou Collins a respeito do Pontífice.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 16-05-2017. A tradução é do Cepat.
No último sábado, no voo de retorno de Fátima, o Papa elogiava a figura de Collins, a irlandesa que até sua renúncia, em março, oferecia suas valiosas experiências como vítima de abusos à Comissão Antipedofilia do Vaticano. “Marie Collins me explicou bem a coisa. Falei com ela, uma boa mulher”, disse Francisco na coletiva de imprensa, no avião papal de retorno a Roma. O Papa acrescentou que Collins “tem razão” na acusação que lançou sobre as resistências na Cúria em relação à política de “tolerância zero” que os dois, a irlandesa e o argentino, tanto desejam para a Igreja global.
Agora, Collins devolveu ao Pontífice os elogios, opinando em uma conversa publicada por Crux que “o Papa está fazendo o melhor que pode” para erradicar as agressões sexuais contra menores no seio da Igreja. “Acredito que está se esforçando muito”, declarou a irlandesa, citando como prova o estabelecimento da Comissão para a Proteção de Menores, pelo Pontífice, da qual ela própria fazia parte.
“Não é de surpreender que haja resistências na Cúria” às reformas de Francisco, continuou a especialista. “(O Papa) falou sobre o mal do clericalismo, e acredito que as resistências são sintoma disso... Considera-se que (os especialistas de fora da Cúria) estão interferindo, quando estão tentando ajudar”.
Este clericalismo, diagnosticado pelo próprio Francisco, acrescentou Collins, “é uma lástima, porque sei que todos na comissão estão trabalhando duro para ajudar aos que estão na administração a abordar estas questões e, de forma alguma, interferir ou tomar a rédeas”.
O “erro” de certos oficiais da Cúria que se mostraram menos compassivos com as vítimas de abusos, continuou a irlandesa, foi o de adotar uma atitude de que “fizemos assim durante muito tempo, e não necessitamos que ninguém venha nos dizer como fazer de forma diferente”. Postura que contrasta claramente com a do Papa Francisco, a julgar inclusive pela autodefesa de sua gestão, que o próprio Pontífice dispôs, no último sábado, no retorno de Fátima.
Além de reconhecer de maneira honesta os atrasos inaceitáveis na Doutrina da Fé, em relação aos casos de sacerdotes abusadores e bispos negligentes, o Pontífice também afirmou que nunca indultou nenhum pedófilo entre o clero. Um testemunho que Collins qualificou como “muito importante”, e como um fato “que deve ser mais amplamente conhecido”.
Cabe recordar que poucos dias após a saída de Collins da Comissão Antipedofilia, o cardeal Müller, prefeito da Doutrina da Fé, saiu desmentindo as alegações que tinham sido lançadas pela irlandesa. A mais contundente destas foi a de que o purpurado alemão e sua Congregação haviam se negado a implementar medidas chaves recomendadas pela Comissão e até pelo próprio Papa, tais como são a redação de normas antipedofilia para as igrejas locais e o estabelecimento de um tribunal especial para bispos negligentes.
Mas, agora, com o apoio do Papa Francisco, o alvo dos ataques de Müller afirma se sentir “legitimada”. “Quando saí e disse o que disse, havia alguns no Vaticano” – entenda-se o cardeal alemão – “que me definiram como alguém que não entendia como funcionam as coisas no Vaticano, como alguém confusa”, contou a especialista a Crux. Julgamento que o Papa não concorda, reivindicou Collins, “que disse que sou uma pessoa capaz, e que em algumas coisas tive razão”.
Legitimidade que a irlandesa sente que vai se tornando uma corajosa liberdade, que jamais voltará a ser presa dos valentões da Cúria. “Se houve resistências” às reformas antipedofilia de Francisco, “se deve torná-las públicas”, afirmou Collins a respeito da atitude dos oficiais e do Prefeito da Doutrina da Fé.
E mais, “acredito que se as resistências persistirem, a Comissão deve levantar a voz”, prosseguiu Collins. “A Comissão tem a obrigação de tornar público se ainda sofre resistência no trabalho que está tentando realizar”. E como se não ficasse claro o aviso de que algum dia os relutantes da Cúria serão descobertos, a irlandesa se redobrou em seus sentimentos. “Se há resistências, ainda que seja só por parte de um núcleo pequeno de pessoas na administração da Igreja, isto precisa ser manifestado”, advertiu.
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“O Papa compreende o horror dos abusos e a necessidade de que sejam eliminados da Igreja”, afirma Marie Collins - Instituto Humanitas Unisinos - IHU