18 Agosto 2018
"Nós, fiéis, só podemos começar a confiar novamente quando os bispos demonstrarem transparência sobre quaisquer horrores que estiverem em segredo e que farão tudo ao seu alcance para impedir que isso aconteça novamente", escreve Katie Prejean McGrady, autora e palestrante católica, em artigo publicado por America, 16-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Foi uma semana adversa para os católicos. Talvez seja estranho eu ainda ser uma católica fiel, especialmente depois de que as notícias de um agressor em série como o ex-cardeal Theodore McCarrick surgem, seguidas de novos detalhes de abusos e estupros de mais de mil crianças por padres na Pensilvânia.
A cada dia parece surgir uma nova informação sobre encobrimentos, abuso e culturas de desonestidade e manipulação. Nós, que nos consideramos fiéis, católicos comprometidos com a religião, observamos como a rocha sobre a qual a Igreja foi construída parece afundar na lama.
Esta é a Igreja que amo e que fui criada. A Igreja na qual minha filha foi batizada e que devo criá-la. A Igreja que busco orientação. A Igreja a quem recorro para ter conforto. A Igreja onde trabalhei. A Igreja pela qual eu vivi e que nela espero falecer. Não estou apenas frustrada, descontente e zangada, mas também triste, com o coração partido e notavelmente decepcionada com a Igreja.
Há uma ferida profunda e sangrenta dentro desta Igreja, causada por encobrimentos, mentiras, desonestidade desenfreada, egoísmo, orgulho doentio, abuso sexual, impropriedade e talvez o pior de tudo, uma atitude de "vamos agir como se nada tivesse acontecido”.
A Igreja não é uma corporação e não deveria ser governada como uma. Quando há corrupção num negócio, as pessoas associadas tendem a se defender para preservar a empresa. Justificações são dadas. As linhas de tempo são explicadas. Caso contrário, o negócio deixará de existir.
A Igreja não existe por causa de nós ou de qualquer coisa que fazemos. A Igreja, o próprio corpo de Cristo, é composta por nós, mas guiada pelo Espírito Santo. Neste momento crítico da Igreja, aqueles os que estão no poder simplesmente não fazem nada quanto às graves questões que precisam ser respondidas. Nesse caso, o Espírito Santo não está no controle, e não seremos diferentes de qualquer outra corporação falida que tenta justificar e explicar sua transgressão.
A Igreja não deve ser vista como um negócio empresarial. Nós não precisamos de líderes que leiam declarações padronizadas, elaboradas por advogados ou que criem desculpas para acalmar o povo. Este é um momento de avaliação.
Isto se trata mais do que apenas de quem sabia dos abusos de McCarrick, da formação de seminário, das falhas no celibato e dos diversos abusos. Isto é sobre os corações, mentes e almas das pessoas que irão questionar a própria legitimidade da Igreja, por conta deste tipo de desonestidade e corrupção. O povo irá olhar para todos os sacerdotes e bispos e perguntar: “O que você sabia, quando você soube e o que você fez quanto à isso?”.
Eu fui abençoada por conhecer muitos bispos e sacerdotes fiéis durante a minha vida. Havia sete padres e um bispo no meu casamento, todos bons homens que conheço há anos. Eu os chamei em tempos de alegria e tristeza. Eu os amo muito, e sei que eles também me amam. Neste momento crítico da história de nossa Igreja, eu olho para cada um deles com o coração partido, rezando para que sejam capazes de permanecer firmes em sua vocação, sabendo que também sofrem com tais revelações - que ferem o corpo de Cristo.
Para o bem dos fiéis que estão sofrendo com essas revelações, precisamos que nossos bispos falem. Muito precisa ser feito para curar a ferida aberta.
Se a diocese de cada bispo norte americano estiver implicada em qualquer tipo de escândalo de abuso - ou não -, eu gostaria de fazer uma declaração pública sobre o desejo de erradicar a corrupção, além de pecados sexuais acontecendo em vários níveis da Igreja.
Nós ensinamos isso como uma Igreja e a aceitamos como um corpo de crentes. A Conferência dos Bispos dos EUA fez declarações em nome de todos os bispos. Mas uma declaração em especial é a ação pastoral, que na minha opinião, é necessário para cada bispo nos Estados Unidos.
Neste momento de crise, dúvida e confusão, o pastor de cada diocese deveria falar diretamente ao seu povo, a fim de curar essa ferida e confortar os aflitos.
Agora não é hora de se esconder. Agora não é hora de evitar mais escândalos. O escândalo está aqui! Agora é a hora de ser honesto, ser visto, ser direto e nos conduzir para a luz.
Nós, fiéis, só podemos começar a confiar novamente quando os bispos demonstrarem transparência sobre quaisquer horrores que estiverem em segredo e que farão tudo ao seu alcance para impedir que isso aconteça novamente. Nós só podemos começar a cura quando estivermos confiantes de que eles podem nos levar para longe do pecado e mais perto de Jesus. Neste momento, precisamos de nossos pastores conosco.
Este é o momento de caminhar com confiança pelo vale da sombra da morte sabendo que somos defendidos pela vitória de Jesus Cristo e liderados por pastores que pregam e ensinam o bem.
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Bispos católicos não devem mais defender uns aos outros sobre crimes de abuso sexual - Instituto Humanitas Unisinos - IHU