18 Agosto 2018
A maioria dos casos de abuso sexual por padres identificados por um Grande Júri não pode ser processada, pois o período para acusações expirou ou os acusados estão mortos.
A reportagem é de Julien Tranié, publicada por La Croix International, 17-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Um relatório do Grande Júri da Pensilvânia nos Estados Unidos identificou mais de 300 padres de seis dioceses acusados de abuso sexual por pedofilia. Quase 90% dos casos identificados ocorreram antes de 1990 e a maioria dos padres envolvidos já morreram.
Um dos aspectos mais marcantes do relatório do Grande Júri sobre o abuso sexual em seis dioceses no estado da Pensilvânia - tornado público em 14 de agosto - é o seu tamanho, composto por 1.356 páginas.
O Grande Júri investigou os casos por dois anos e foi estabelecido pelo procurador geral da Pensilvânia, Josh Shapiro. Ele identificou cerca de 300 padres contra os quais foram feitas acusações de abuso sexual.
"Nós, membros deste grande júri, precisamos que você ouça isso", diz a sentença de abertura do relatório, indicando a gravidade de seu conteúdo.
Em sua investigação, foi adotado um padrão similar para cada uma das seis dioceses. Primeiro, se forneceu uma breve visão geral de cada uma, incluindo sua estrutura e detalhes dos vários bispos que governaram nos últimos 70 anos.
O relatório prossegue listando os nomes dos sacerdotes e descreve os assuntos em que estão implicados. Ele também descreve as evidências contra eles, incluindo cartas e memorandos endereçados à hierarquia.
A extensa documentação do relatório, grande parte da qual foi fornecida pela Igreja, aumenta sua importância. Uma série de apêndices intitulada "Apêndices de ofensores" resume cada incidente relatado.
A Diocese de Pittsburgh é a mais preocupante, abrigando mais de um terço dos padres acusados.
No entanto, examinar os diversos casos também ilustra que o relatório é baseado principalmente numa investigação histórica sobre abuso sexual na diocese, em vez de uma investigação de crimes atuais.
Dos 100 padres acusados de Pittsburgh, o relatório não conseguiu identificar dez. Outros sete foram deliberadamente anonimizados por falta de provas suficientes às graves acusações. Dos 83 sacerdotes restantes, 46 já faleceram.
Em uma carta destinada aos católicos locais, o bispo David Zubik, de Pittsburgh, observou que 90% dos incidentes identificados no relatório ocorreram antes de 1990. A Igreja "fez mudanças significativas" em sua abordagem nos últimos 30 anos, disse Zubik.
O relatório do Grande Júri observou que havia cerca de 630 mil católicos na diocese em 2017, compreendendo pouco menos de um terço da população total da área. Segundo dados compilados pelo La Croix, a diocese tem atualmente 228 padres, dos quais 208 ainda estão ativos e não se aposentaram.
O exame do La Croix sobre o relatório constatou que dois dos padres acusados pelo Grande Júri permanecem ativos, ou pelo menos são descritos como tal no site diocesano.
No entanto, o Bispo Zubik forneceu uma garantia de que “não há padre ou diácono no Ministério hoje, da Diocese de Pittsburgh, com uma alegação fundamentada de abuso sexual infantil contra si”.
Dos 37 padres identificados que ainda vivem na Diocese de Pittsburgh, 16 foram removidos das funções ou foram laicizados após alegações contra eles.
Os outros foram transferidos para outras dioceses e o Grande Júri não conseguiu localizá-los.
Todos os padres acusados nasceram antes de 1955.
O Grande Júri estava claramente preocupado que o prazo de prescrição para processar a maioria dos casos havia expirado e que a maioria dos infratores estavam mortos. Por conta disso, formulou uma série de recomendações, incluindo a abolição do prazo de prescrição em casos de abuso sexual de menores.
Se isso tivesse sido implementado, teria permitido a acusação dos 37 padres em Pittsburgh que foram identificados e ainda estão vivos. Em última análise, a publicação do relatório atual só permitirá a acusação de dois dos 300 padres identificados nas seis dioceses envolvidas.
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Apenas dois padres da Pensilvânia - entre 300 acusados - podem ser processados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU