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29 Agosto 2018

O Papa que revolucionou a imagem da Igreja foi à Irlanda no meio de uma tempestade mediática. Os escândalos de abuso sexual abalam a instituição e são instrumentalizados numa guerra de poder interna.

“Ontem, encontrei-me com oito sobreviventes que sofreram com abusos de poder, abusos de consciência e abusos sexuais. Partindo do que eles me disseram, quero apresentar estes crimes perante a misericórdia do Senhor e pedir-lhe perdão por eles.” A frase inesperada surgiu durante o ato penitencial, o momento da missa que funciona como uma espécie de confissão coletiva. O Papa Francisco continuou, enumerando pecados concretos feitos pela sua Igreja: a exploração laboral de menores; a negligência dos superiores da hierarquia da Igreja perante os abusos sexuais; as crianças retiradas às mães. “Senhor, sustém e aumenta este estado de vergonha e arrependimento e dá-nos a força para nos comprometermos a garantir que estas coisas nunca voltem a acontecer e que seja feita justiça”, pediu.

A reportagem é de Cátia Bruno, publicada por Observador, 27-08-2018.

Respondendo à espontaneidade com que Francisco introduziu o tema, a multidão de cerca de 300 mil pessoas que encheram o Phoenix Park, em Dublin, aplaudiu as palavras do Papa. “Este não é um Papa que esteja a fugir desta crise de abusos sexuais”, vaticina Austen Ivereigh, autor da biografia “Francisco, o Grande Reformador” (ed. Vogais), ao Observador. “A narrativa dos media tem sido a de que Francisco foi obrigado a confrontar esta questão dos abusos sexuais. Não é verdade. Ele já queria confrontar isto antes, eles sabe como isto é uma fonte de grande dor na Irlanda.”

Quer o Papa desejasse fazê-lo antes ou não, os acontecimentos dos últimos dias em torno da Igreja transformaram a visita papal à Irlanda num encontro marcado entre a instituição e o seu próprio passado. A participação de Francisco no Encontro Mundial de Famílias num dos países mais católicos da Europa foi permanentemente ensombrada pelos escândalos de abusos sexuais de menores por membros do clero, particularmente porque a Procuradoria-Geral do estado norte-americano da Pensilvânia avançou há semanas com um relatório onde acusa 300 padres de repetidos crimes e os respetivos bispos de encobrimento. A tudo isto soma-se um passado de vários crimes sexuais e outros envolvendo a Igreja na própria Irlanda. E, como se não bastasse, a coroar o final da visita, o próprio Papa foi acusado de encobrimento por um ex-núncio.

O momento é de verdadeira tempestade mediática, mas os especialistas ouvidos pelo Observador são unânimes em afirmar que Francisco está a assumir as rédeas do combate aos escândalos sexuais dentro da Igreja. O tema, contudo, é tóxico e está longe de estar encerrado. A popularidade do Papa Francisco, conhecido por ter protagonizado uma mudança de estilo profunda no cargo, será suficiente para garantir que a imagem da Igreja não sai beliscada de mais um abalo provocado por crimes sexuais?

Irlanda, o ground zero dos crimes sexuais da Igreja

Pelo menos no que toca a esta visita papal, não há grandes dúvidas: foi histórica. “A visita em si não era nada de extraordinário, mas ocorreu num momento extraordinário.” A sentença é providenciada ao Observador por Massimo Faggioli, teólogo italiano que tem acompanhado o caso da Pensilvânia bem de perto, já que é professor de Estudos Religiosos na Universidade de Filadélfia, nos Estados Unidos. “Para além de tudo isto, a Irlanda foi o ground zero desta crise de abusos sexuais”, acrescenta.

Elisabetta Piqué, correspondente no Vaticano do diário argentino La Nación e autora do livro “Francisco, Vida y Revolución”, reforça a importância de este momento ter coincidido com uma visita precisamente a este país: “A Irlanda foi o epicentro de milhares de casos, não só de abusos sexuais, mas também de poder e consciência nos lares para mães solteiras dirigidos por freiras, por exemplo. Por isso isto foi muito difícil para Francisco, que enfrentou um país ferido, dorido, com razões de queixa”, resume a jornalista. “A ação do Papa foi inédita e demonstra a sua determinação em que comece um novo capítulo. Mas não se podem sarar feridas tão profundas de um dia para o outro.”

Dentro da própria Igreja há quem esteja esperançoso de que a atitude de Francisco, ao pedir perdão de forma tão clara e direta, sirva para inaugurar um novo momento no combate aos abusos sexuais por membros do clero. É o caso do padre José Manuel Pereira de Almeida, professor de Teologia Moral Social da Universidade Católica, que confessa ao Observador estar “otimista” de que Francisco vai iniciar “uma nova etapa” para lidar com esta “trapalhada”: “O Papa não quis fazer de conta que não se passava nada — e fez bem”, diz, comentando a visita à Irlanda e trazendo ao de cima a carta escrita pelo próprio Papa na semana passada onde o pontífice condenou os vários casos de abusos sexuais. “Ele referiu várias vezes esta ideia de vergonha e o pedido de perdão, sabendo nós que ele tinha dito na carta que só pedir perdão não chega. Mas creio que a carta é a primeira pedra de um caminho que está agora a ser calcetado.”

Esse caminho pode ser ensombrado por acusações como as que foram levantadas no final desta viagem pelo arcebispo Carlo Maria Viganò, antigo núncio apostólico nos Estados Unidos. Viganò escreveu uma carta, publicada este sábado em sites conhecidos pelas suas posições críticas face a este Papa, onde acusa Francisco de não ter agido em conformidade depois de saber das suspeitas que pendiam sobre o cardeal Theodore McCarrick — entretanto suspenso do exercício de funções em junho deste ano, depois de serem conhecidas as acusações de abuso sexual de um acólito de 16 anos.

“A Irlanda foi o epicentro de milhares de casos, não só de abusos sexuais, mas também de poder e consciência nos lares para mães solteiras dirigidos por freiras, por exemplo. Por isso isto foi muito difícil para Francisco, que enfrentou um país ferido, dorido, com razões de queixa. A ação do Papa foi inédita e demonstra a sua determinação em que comece um novo capítulo. Mas não se podem sarar feridas tão profundas de um dia para o outro.”

O arcebispo alega que teve uma reunião com o próprio Papa em 2013 onde levantou suspeitas sobre a conduta de McCarrick, e reforça que já tinha escrito a várias figuras relevantes no Vaticano desde 2006. À altura, garante, alertou para a conduta imoral do cardeal, acusando-o de ter tido relações sexuais com outros homens um seminário, embora não fossem menores de idade. A acusação de Viganò, contudo, parece ter pouca sustentação: “Não existe nenhum registo escrito desta suposta denúncia em junho de 2013 na Congregação para a Fé, nem testemunhos. Isto tira solidez às acusações”, afirma ao Observador Nestor Pongutá, correspondente no Vaticano da colombiana W Radio.

A somar-se à falta de provas está o percurso do próprio arcebispo Viganò, um conhecido opositor do Papa Francisco. “O nome do ex-núncio não é desconhecido. Em 2010, foi ele que provocou os chamados Vatileaks, enviando uma carta secreta ao Papa Bento XVI que ele próprio passou aos meios de comunicação social, abrindo uma das crises mais problemáticas para a Igreja Católica”, recorda Pongutá. “Também vale a pena recordar que quando o Papa Francisco foi aos EUA em 2015, o ex-núncio Viganò convidou para uma recepção na nunciatura a ativista anti-gay Kim Davis. Apesar de apenas ter sido cumprimentada pelo Papa, Viganò disse a um jornalista amigo que ela e o Papa tinham estado reunidos mais de 15 minutos, gerando uma polêmica que ainda hoje é recordada dentro dos muros do Vaticano. Esta ação representou precisamente o ponto de ruptura da confiança entre o Papa Francisco e o representante da Igreja nos Estados Unidos.”

O timing da divulgação da carta, coincidindo com o fim da visita à Irlanda, é também ele “suspeito”, como classificou uma fonte do Vaticano ao editor de Religião da BBC. É com todos estes elementos em mente que Faggioli não tem receio de afirmar que, em vez de uma denúncia legítima, crê estarmos perante “uma tentativa de golpe de Estado contra o Papa Francisco”, liderada pelo setor tradicionalista da Igreja, a quem o estilo de Francisco não agrada. “É óbvio que a denúncia de Viganò é um novo ataque da ala conservadora que detesta o Papa”, acrescenta Piqué, que chegou a falar num “ninho de víboras” em roda de Francisco.
Uma disputa interna sobre o tipo de Igreja que se quer

O Papa reagiu às acusações durante o voo de regresso, no domingo, respondendo laconicamente aos jornalistas. “Leiam atentamente [a carta] e façam o vosso próprio julgamento. Não vou dizer uma única palavra sobre isto. Vocês têm a capacidade jornalística de tirar conclusões.”

As próprias associações de vítimas de abusos sexuais por membros do clero levantaram dúvidas sobre a carta, relembrando a “agenda própria” do arcebispo, mas pedindo naturalmente explicações ao Vaticano. “O Papa Francisco foi o único que fez alguma coisa visível relativamente a McCarrick. O documento é muito mais grave para os antecessores de Francisco do que para ele, é por isso que este documento é mal calculado”, vaticina Faggioli. “Estavam tão desesperados para abater Francisco que não calcularam o risco de envolver alguém que é para eles um herói — o Papa Bento XVI.”

O desprezo deste sector da Igreja por Jorge Bergoglio não é novo. O argentino jesuíta escolheu o nome de “Francisco” para sublinhar a sua atitude de proximidade com os mais pobres e necessitados e assumir uma nova atitude da Igreja. O pontificado de Francisco foi desde o primeiro dia marcado por pequenos gestos e declarações que, para alguns, são revolucionários. As críticas à ganância do capitalismo, a inclusão de mulheres, refugiados e presos na cerimônia do lava-pés, os alertas sobre as alterações climáticas ou as considerações de “quem sou eu para julgar essa pessoa?” relativamente à comunidade gay, tudo isto representa uma mudança que assusta os mais conservadores dentro do Vaticano — a que se soma o estilo de liderança de Francisco dentro da Cúria, com uma postura anti-clerical. “Esta não é uma divisão profunda, porque estamos perante um grupo pequeno — mas muito poderoso e ruidoso — de tradicionalistas que não gosta de Francisco”, resume o biógrafo Ivereigh. “Este grupo não é conhecido por simpatizar com as vítimas de abusos sexuais. E, no entanto, estão a usar isto.”

É a última ofensiva da oposição ao Papa, que tem tido os seus momentos de desafio às claras, sobretudo desde que foi divulgada a exortação apostólica Amoris Laetitia. O capítulo VIII, onde Francisco defende que não se julguem os divorciados que vivam numa nova união, provocou um terramoto dentro do Vaticano. Os episódios de sublevação sucederam-se. Quatro cardeais (Carlo Cafarra, Walter Brandmüller, Joachim Meisner e Raymond Burke) escreveram ao Papa pedindo esclarecimentos sobre excertos da Amoris Laetitia, desafiando-o abertamente e sugerindo que há momentos para desobedecer ao Papa. Outros 200 teólogos acusaram Francisco de “espalhar a heresia”. Um padre norte-americano, Thomas Weinandy, afirmou que o Papa provocou “a anarquia teológica”.

A oposição a Francisco neste tema é reflexo das divisões internas da Igreja desde o Concílio do Vaticano II e da discussão sobre a abertura que a instituição deve ter ao resto da sociedade. Em causa estão matérias como o sexo fora do casamento, o divórcio, os métodos contraceptivos ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas também a postura da própria Igreja perante os seus fiéis, seja no tipo de orientação que os párocos devem dar aos seus rebanhos, seja a maior ou menor formalidade nas cerimônias religiosas.

O padre Pereira de Almeida designa o grupo que se opõe a Francisco como “setores da negação social”. “Há setores que acham que o Concílio do Vaticano II foi um erro, que o Papa se situa em área perigosas acerca da sacralidade, da pompa e circunstância das celebrações…”, resume. O debate é teológico, sim, mas também se estende a questões formais e de estilo, como a preferência pela missa lida em Latim. A tudo isto junta-se a “febre autocrática” de que alguns acusam Francisco, dentro das quatro paredes do Vaticano.

O próprio Papa já reconheceu abertamente que tem inimigos dentro da casa e apontou-lhes inclusivamente o dedo. “Eles fazem o trabalho deles e eu o meu. Eu quero uma Igreja aberta, compreensiva, que acompanhe as famílias feridas. Eles dizem que ‘não’ a tudo”, declarou, numa entrevista ao La Nación, onde se defendeu das acusações de prepotência: “Não corto cabeças. Nunca gostei de o fazer. Repito: eu rejeito o conflito.”

O que é certo é que independentemente de todas estas diferenças, quando os críticos de Francisco levantam o tema dos abusos sexuais dentro da Igreja tocam num ponto sensível. Afinal, uma das maiores fraquezas deste pontificado foi na reação inicial ao escândalo no Chile, por exemplo, quando o próprio Papa falou em “calúnias” e apoiou pessoalmente o bispo Juan Barros, acusado de encobrir os crimes. Francisco arrepiou entretanto caminho, pediu desculpa, e admitiu ter sido “parte do problema” ao ignorar o caso.

Mas a esta atitude somam-se os nomes de cardeais envolvidos em escândalos, nomeadamente no encobrimento de acusações de abuso sexual de menores, que ocuparam ou ainda ocupam cargos próximos do Papa. É o caso de George Pell, ex-responsável pelas Finanças do Vaticano que está a ser julgado num escândalo de pedofilia na Austrália, mas também de outros nomes como Óscar Maradiaga e Francisco Errázurriz.

O calcanhar de Aquiles está lá, mas tal não significa que Francisco não tenha tomado medidas, defendem os especialistas. “É evidente que houve melhorias no seu pontificado”, defende a jornalista argentina Elisabetta Piqué. “Mesmo quando alguns o esquecem e reclamam por ação, este foi o primeiro Papa que colocou na prisão um núncio por delitos relacionados com os abusos (o polaco Józef Wesołowski) e um ex-conselheiro da nunciatura de Washington (Carlo Capella) e que retirou os títulos a dois cardeais (o escocês Keith O’Brien e o americano McCarrick). Para além disso, criou a Comissão Pontifícia de Proteção de Menores e introduziu em 2016 novas medidas na legislação vaticana para que se pudesse tomar ações contra bispos que encubram ou conduzam mal casos de sacerdotes acusados de pedofilia.”

“O nome que ele escolheu foi ‘Francisco’, não foi Rambo”. Pode o Papa fazer mais?

E, no entanto, com toda esta lista de afazeres cumprida, é precisamente o caso dos escândalos sexuais que ensombra o pontificado de Francisco. “O problema é que há uma clara distância entre a expectativa de muitos católicos para o que o Papa Francisco pode fazer e a forma como ele próprio olha para isto”, resume Faggioli, a partir da Pensilvânia, onde crescem as exigências para que o Papa afaste os bispos e padres mencionados no relatório da procuradoria. “Ele não crê que o Vaticano devesse fazer algo diretamente, ele prefere que as questões sejam resolvidas ao nível local. É essa a sua teologia e a sua visão da Igreja, uma Igreja anti-clerical. Na sua visão, querer que o Vaticano resolva tudo só torna o problema pior.”

Nada de novo se recordarmos que estamos perante um Papa que acredita nas soluções individualizadas da Igreja. “Temos de entender o homem. Ele é um jesuíta, e os jesuítas têm sido, ao longo dos anos, diretores espirituais preocupados com a salvação pessoal de cada um, e não com toda a gente no geral. O dom do papa Francisco é que ele diz: ‘Não façam programas pastorais em massa. Vão alma a alma, e cada alma é importante’”, já dizia em março o acadêmico do Vaticano Sergio Tapia-Velasco, em entrevista ao Observador.

À recusa das soluções “em massa” apresentadas por um todo-poderoso Vaticano soma-se o facto de estas acusações na Pensilvânia não passarem disso mesmo — acusações. “Seria muito popular para ele emitir um decreto a ‘despedir’ estes bispos da noite para o dia, mas ele não quer fazê-lo. O nome que ele escolheu foi Francisco, não foi Rambo”, comenta Faggioli. “Este documento é dos procuradores. Se o Vaticano baseasse as suas decisões num documento que é a expressão apenas dos acusadores, entraria num caminho muito escorregadio.”

O padre José Pereira de Almeida, por seu turno, acredita que Francisco se prepara para dar passos mais firmes nesta matéria e passar brevemente das palavras às ações. “Estamos em altura, se eu bem entendo os sinais, de uma outra etapa, da qual a carta é a primeira peça a ser mudada”, afirma. “Creio que agora vamos ter medidas indicativas para as conferências episcopais e para as congregações religiosas. Isto agora é imparável.”

O próprio Papa já reconheceu abertamente que tem inimigos dentro da casa e apontou-lhes inclusivamente o dedo. “Eles fazem o trabalho deles e eu o meu. Eu quero uma Igreja aberta, compreensiva, que acompanhe as famílias feridas. Eles dizem que ‘não’ a tudo”, declarou, numa entrevista ao La Nación, onde se defendeu das acusações de prepotência: “Não corto cabeças. Nunca gostei de o fazer. Repito: eu rejeito o conflito.”

À medida que gere este processo, Francisco pode vir ainda a deparar-se com novas denúncias que venham a ser conhecidas. E a cada nova acusação de um padre que abusou durante anos do seu acólito adolescente, a cada relato de um homem do clero que violou uma menina no hospital depois de esta ser submetida a uma cirurgia e a cada rumor sobre pornografia infantil partilhada entre as paredes de uma igreja, o impacto mediático sobre a Igreja e o seu líder é tremendo. Pode a imagem de um dos Papas mais populares de sempre ficar manchada? Faggioli considera que “é um risco”: “Francisco arrisca-se a perder a parte da Igreja que o apoia.” Já Piqué, a partir do Vaticano, rejeita por completo essa possibilidade: “É um Papa que desde o princípio do seu pontificado sofreu ataques, cuja autoridade moral mundial cresceu de todas as formas e que se converteu numa figura respeitada até por fiéis de outras religiões.”

“Fransciso converteu-se na voz dos que não têm voz, a única que denuncia as grandes injustiças sociais de hoje, o terrível fosso entre ricos e pobres, o drama dos refugiados. Isto incomoda o establishment”, acrescenta a jornalista argentina, que crê que esse legado já ninguém lho tira.

Faggioli, que está no outro lado do Atlântico, no epicentro do último escândalo, não tem tantas certezas: “A Igreja está a resolver o problema dos abusos sexuais, sem dúvida. Mas o problema da sua imagem, da reputação da Igreja Católica, está longe de ter acabado.”

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