15 Junho 2018
O aborto é uma grave injustiça. Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para proteger legalmente os bebês e para prover as necessidades das mães. Nós servimos a um Deus através do qual todas as coisas são possíveis.
A opinião é do cardeal estadunidense Timothy Dolan, arcebispo de Nova York e presidente da Comissão de Atividades Pró-Vida da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos.
O artigo – em resposta a um texto do jesuíta estadunidense Thomas J. Reese – foi publicado em Religion News Service, 08-06-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Pe. Thomas J. Reese sugeriu recentemente que o movimento pró-vida deveria aceitar o triste fato do aborto legalizado e, agora, simplesmente trabalhar para reduzir o número de nascituros cujas vidas são brutalmente encerradas.
Embora aprecie qualquer conversa e conselho atenciosos sobre essa questão crucial e concorde com algumas de suas sugestões para reduzir os abortos, como presidente da Comissão de Atividades Pró-Vida dos bispos dos Estados Unidos, eu gostaria de indicar as minhas sérias reservas sobre a estratégia de Reese, considerando-a como uma capitulação à cultura do aborto e como um grave enfraquecimento do poderoso testemunho pró-vida.
Sua afirmação principal – de que abandonemos todos os esforços para proteger legalmente a vida humana nascitura e trabalhemos apenas para reduzir o número de abortos – é uma dicotomia desnecessária.
A tradição católica e os direitos humanos básicos nos ensinam que todo ser humano tem um direito inalienável à vida que deve ser reconhecido e protegido pela lei. Embora a lei não seja o único meio para proteger a vida, ela desempenha um papel crucial e decisivo para afetar tanto o comportamento quanto o pensamento humanos. Não podemos desistir!
Ao mesmo tempo, ele está certo: devemos oferecer um apoio amoroso para atender às necessidades das mulheres que experimentam uma gravidez não planejada. O movimento pró-vida tem uma longa história de tal dedicação a essa missão unida, através da formação, financiamento e suprimento de milhares de centros de recursos para a gravidez. O movimento tem defendido políticas públicas que busquem garantir que as mães grávidas nunca sejam abandonadas à violência do aborto e que as mães e os bebês recebam o apoio e a proteção que a sociedade pode oferecer.
Ele também tem razão de que algumas pesquisas realmente mostram um apoio decrescente para as leis restritivas ao aborto. Nem todas mostram isso, pois outras pesquisas indicam que cada vez mais estadunidenses querem limites mais rigorosos sobre o aborto.
No entanto, Reese certamente ficaria desapontado, como eu, se os reformadores pró-imigração desistissem porque as pesquisas os desencorajam. Nós lamentaríamos se os ativistas contra a pena de morte em alguns Estados se rendessem por causa de pesquisas que mostram que seus concidadãos não estão do seu lado. Eu espero que ele os urgisse, de modo louvável, a perseverarem. Por que não os pró-vida?
Uma das afirmações mais preocupantes de Reese é de que a contracepção deveria ser usada para reduzir os abortos. Além de rejeitar o ensinamento da Igreja de que a contracepção é moralmente falha em si mesma e o fato de que ela pode ser medicamente prejudicial às mulheres, seu raciocínio é questionável.
Na realidade, mais da metade das mulheres que procuram o aborto estavam, de fato, usando contraceptivos durante o mês em que engravidaram, e estudos mostram que, uma vez que a contracepção é disponibilizada mais amplamente, as taxas de aborto podem realmente aumentar!
Outra realidade é que algumas drogas e dispositivos contraceptivos podem funcionar impedindo que o embrião recém-concebido se implante no útero e sobreviva. É difícil afirmar que podemos reduzir os abortos promovendo drogas que, às vezes, podem induzir um aborto precoce.
A estratégia de Reese me lembra a daqueles que, em meados do século XIX, propuseram a melhoria da condição de vida dos escravos como uma forma de reduzir a escravidão no nosso país. Os “melhoristas” argumentavam que, com certeza, a escravidão era horrível, mas, na realidade, viera para ficar. Portanto, deveríamos reconhecer que ela está constitucionalmente protegida e deveríamos simplesmente trabalhar para diminuir o número de escravos. Graças a Deus, aqueles que acreditavam que a escravidão era um horror moral, um câncer no nosso país e contrária aos valores mais elevados de uma república legítima jamais poderiam aceitar essa capitulação.
O aborto é uma grave injustiça. Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para proteger legalmente os bebês e para prover as necessidades das mães. Embora Reese acredite que um fim ao aborto é impossível, nós servimos a um Deus através do qual todas as coisas são possíveis.
Que nunca cedamos à cultura da morte ou percamos a fé nos nossos esforços para construir uma cultura da vida no nosso mundo.
Confira a resposta de Thomas Reese ao Cardeal Dolan neste link.
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Devemos continuar lutando para proibir o aborto. Uma resposta a Thomas Reese - Instituto Humanitas Unisinos - IHU