16 Dezembro 2018
Devido às informações do El País, os jesuítas admitem que “ainda há uma questão pendente na investigação do passado” e que a gestão dos casos “pode ter sido deficiente”.
A reportagem é de Iñigo Domínguez, publicado por El País, 13-12-2018. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Os jesuítas da Catalunha serão a primeira Ordem religiosa na Espanha, e a primeira instituição da Igreja Católica no país, em empreender uma investigação interna rigorosa dos possíveis abusos sexuais a menores cometidos em seus centros. Nessa linha das iniciativas realizadas na França e Alemanha, e enquanto a Conferência Episcopal Espanhola se nega ainda a dar esse passo, a Companhia de Jesus e Jesuïtes Educació anunciam em um comunicado que decidirem “empreender uma investigação mais sistemática dos possíveis casos de abusos de menores e condutas impróprias que no passado, remontando aos anos sessenta, possam ter acontecido nos centros educativos. A decisão foi tomada em função das informações publicadas no El País que afetam a Ordem: “A busca de informação sobre algum caso já conhecido nos mostra que necessitamos sistematizar a informação que possa haver”.
O El País noticiou na segunda-feira o caso de Luis Tó González, professor do colégio Santo Inácio de Barcelona e condenado a dois anos de cárcere em 1993, por abusar de uma menina. O religioso não cumpriu a pena por não ter antecedentes. Depois da sentença, foi enviado à Bolívia, onde faleceu em 2017. Os jesuítas, uma das poucas ordens que responderam ao El País com autocrítica frente às notícias de abusos, admitindo que foi um erro não abrir um processo canônico a Luis Tó González e que então “não se avaliou bem a gravidade dos fatos”. “Revisando este caso, frente as perguntas postas, somos conscientes que a atuação nesses casos de abusos não esteve à altura”, reconheceram.
No entanto, a investigação sobre Luis Tó fez aparecer o que estava oculto no passado. Depois da publicação da notícia, o El País recebeu denúncias de outras alegadas vítimas nesse colégio e contatou a Ordem, que decidiu finalmente investigar a fundo o assunto. “Somos conscientes de que ainda há uma questão pendente na investigação do passado [...] nos preocupa a necessidade de assegurar uma memória fiel e honesta do passado e de responder a possíveis vítimas [...]. Informaremos os resultados dessa investigação sempre respeitando a vontade das vítimas e o direito à presunção de inocência das pessoas”.
O colégio Sant Ignasi, onde Tó era professor, saiu em sua defesa em 1992, quando foi condenado. “A direção e a associação de pais apoiaram inteiramente o sacerdote agressor e exigiram guardar silêncio sobre o caso”, escreve Pepe Rodríguez, coordenador da faculdade de Jornalismo da Universidad Autónoma de Barcelona em seu livro Pedofilia na Igreja Católica, publicado em 2002. Relata que quando o padre foi a Bolívia depois da condenação, se despediu com uma homenagem e ainda era descrito de forma elogiosa três anos mais tarde em um livro comemorativo do centro. Rodríguez garante que o sacerdote já foi objeto de várias acusações no colégio durantes as duas décadas anteriores, que foram ignoradas.
Os jesuítas catalães admitem que “em algumas ocasiões a gestão desses casos podem ter sido deficientes, ou as medidas tomadas podem ter sido incompletas”. “Pedimos perdão, em primeiro lugar, às vítimas, e a suas famílias, lamentamos por não ter estado sempre à altura da confiança depositada”, declaram. O comunicado põe à disposição das vítimas um e-mail para apresentar denúncias (Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.), e conclui insistindo na vontade da Ordem “em dar luz aos casos que requerem esclarecimento”.
Os jesuítas afirmam que há 10 anos implementaram programas de formação e prevenção em todos os seus colégios e estão convencidos de que “no presente [esses colégios] são espaços seguros”.
A iniciativa dos jesuítas da Catalunha é um sintoma mais de uma lenta mudança de rumo na Igreja espanhola. Outro passo relevante se conheceu essa semana: o bispado de Bilbao denunciou à justiça de Bizkaia um padre da diocese, depois da declaração de três mulheres que o denunciaram por “toques”. Trata-se do padre responsável da zona de Mungia, em Bizakaia, Egoitz Arruza, técnico especialista em eletrônica industrial que se ordeno em 2005. Foi vigário paroquial em Derio, Zamudio, Lezama, Larrabetzu e Goikoelexea, e tanto o bispado de Bilbao como os scouts, grupo juvenil no qual o padre trabalhava como responsável, o afastaram de suas responsabilidades. Os fatos denunciados se produziram entre os anos 2015 e 2017, quando essas mulheres pertenciam aos scouts. Uma delas era menor quando aconteceram os fatos denunciados e o acusam de “comportamentos inadequados contra a liberdade sexual”.
A associação de scouts informou ao bispo de Bilbao, Mario Iceta, no último 26 de novembro, e no dia seguinte afastou de forma cautelar o presbítero de suas funções públicas e abriu uma investigação interna, que concluiu na última quarta-feira. Suas conclusões foram remitidas à Congregação para a Doutrina da Fé, na última quinta-feira, e na sexta-feira, 7 de dezembro, foram postas a conhecimento da justiça.
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Os jesuítas da Catalunha investigarão os abusos nos seus colégios nos últimos 60 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU