21 Novembro 2025
David Grossman se apresenta afônico diante da plateia do Circolo dei Lettori em Turim. Mas sua voz moral precisa apenas sussurrar para ser ouvida. E com essa voz, Grossman reitera: "É no meu país que quero continuar vivendo e lutando. E encontrar as palavras para descrever o que antes me parecia indescritível. Israel ainda é o país que amo, a começar pelo fato de eu usar minha própria língua para a criação literária. Sinto o dever intelectual de mudar a sociedade de dentro, porque reconheço em Israel os contornos da beleza e da feiura, de erros e crimes que devem ser reconhecidos todos os dias. Tanto para nós quanto para os palestinos, que há mais de um século vivem assediados por regimes terríveis. Não apenas o nosso — aliás, talvez nem sejamos os mais cruéis —, mas também os terroristas de outros países."
A reportagem é de Fabiana Magrì, publicada por La Stampa, 17-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A conversa, parte do encontro final de "Raízes. O Festival da Identidade (cultivada, negada, redescoberta)", gira em torno do papel do escritor diante da História. Giuseppe Culicchia, com sabedoria e sensibilidade, questiona o autor israelense.
Para Grossman, é preciso "coragem" para "encontrar uma maneira de coexistir com a memória" do 7 de outubro e do Holocausto, traumas que "não podem ser esquecidos". E é preciso determinação para querer entender os impulsos do ser humano — que "é o ser mais difícil de entender" — se quisermos evitar que "continuem a acontecer brutais repercussões também na política. E para sair do mal, para não continuar a pertencer ao ódio, ao horror. E ao preconceito. E, em vez disso, encontrar outra maneira de viver a experiência humana e transmitir essa consciência, esse conhecimento, aos nossos filhos e netos."
"Agora que há a trégua, o genocídio parou", diz ele, com um suspiro de alívio. Quando quebrou o tabu e usou — em uma entrevista ao jornal La Repubblica em agosto — o termo mais controverso da guerra de Israel contra o Hamas em Gaza, as reações em seu país foram "turbulentas, hostis. Não houve diálogo, houve quase um boicote. Disseram para parar de comprar meus livros, algumas pessoas os jogaram na rua." Mas, ainda hoje, ele defende a decisão daquele momento: "Não pude deixar de usar aquela palavra, à luz dos 60 mil palestinos mortos, 19 mil deles crianças." Uma tomada de consciência, explica ele, que o levou a não "escolher mais as palavras com delicadeza", mas a dizer o que sentia "de forma absolutamente direta", porque o que sentia "não podia permanecer cristalizado apenas entre mim e mim. Eu tinha que usar aquela palavra de maneiram explícita." Ele também especifica, agora que aquela urgência ardente diminuiu, um mês após o cessar-fogo em Gaza, que "as palavras exatas que eu disse foram: que me partia o coração ter que usar na mesma frase as palavras 'genocídio' e 'Israel', meu amado país, que amo profundamente, é o país onde nasci e onde todos os meus filhos nasceram. E onde quero continuar a viver", com o "privilégio de fazer parte dele." "Israel", continua ele, "foi criado para que o povo judeu não fosse mais vítima, e para que finalmente pudesse ter uma casa no mundo. Após 76 anos de soberania e independência, ainda não encontramos o caminho." Ele retorna ao conceito de Israel como "fortaleza" — sobre o qual escreveu detalhadamente no editorial de 1º de março de 2024 do New York Times — afirmando que "ainda não o tornamos a nossa casa, onde poderemos viver também lado a lado dos nossos vizinhos. Não sei se conseguirei ver isso acontecer em minha vida". A conversa, apesar da sala lotada, tem um tom intimista. Grossman menciona seus filhos, incluindo Uri, morto nas últimas horas da Segunda Guerra do Líbano, quando seu tanque foi atingido por um foguete enquanto tentava resgatar outro tanque: "Espero que meus filhos permaneçam em Israel assim como nós permanecemos, embora, agora há mais de vinte anos, tenhamos perdido um filho na guerra. E que eles possam ver essa transformação se concretizar".
Escrever, confessa ele, ensinou-lhe "a baixar as defesas e absorver tudo o que o mundo pode oferecer, o bom e o ruim, e até mesmo a frustração. Escrever obriga a não permanecer na defensiva, a se expor à realidade externa, até mesmo à guerra." Mas Grossman rejeita todas essas proteções: "Estamos empenhados em erguer esses muros, essas defesas entre nós e o mundo, e nesse processo perdemos tanta vida."
Olhando para o futuro, um futuro no qual até mesmo os escritores terão que se confrontar com a inteligência artificial, Grossman admite que ainda não tem respostas, mas tem alguns receios: "Ainda não temos as palavras para descrever o que vai acontecer, e isso assusta-nos ainda mais. Certamente existe também o risco de os seres humanos perderem parte de sua independência." E como "tantas coisas estão acontecendo ao mesmo tempo", os pensamentos do autor se voltam para Trump, "à maneira como ele concebe o mundo, mas também a maneira como ele está no mundo, fala e se comporta, como espalha ideias e notícias falsas".
Ele diz que o presidente dos EUA "criou outra realidade, e estamos presos em Trump, neste mundo trumpiano, que acredito estar também ligado ao que está acontecendo na frente tecnológica."
Aos 71 anos, seu olhar continua o mesmo que lembra ter desde criança: "curioso, interessado, sedento por conhecimento." Sua linguagem corporal, no entanto, é a de um homem maduro, calmo e reflexivo. Não é assim quando ele trabalha: "Escrevo sempre me movendo, em círculos... Minha esposa reclama porque deixo marcas no tapete", brinca. Depois explica: "Tenho a sensação de que o movimento me permite ver as coisas de diferentes pontos de vista, captar as diferentes perspectivas sem ficar preso em uma situação. Só encontro essa liberdade quando consigo me mover."
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