Pobres, refugiados e trans: o almoço do Papa Leão XIV (em nome de Francisco). Artigo de Gian Guido Vecchi

Foto: Vatican Media

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19 Novembro 2025

Missa na Basílica de São Pedro — "Exorto os chefes de Estado e os líderes das nações a escutarem o grito dos mais pobres" — e o almoço com mil e trezentos "descartados". Leão XIV celebrou ontem o Jubileu dos Pobres, um dos últimos eventos do Ano Santo, talvez o mais significativo: "Sabeis bem que a questão dos pobres nos remete à essência da nossa fé, que para nós eles são a própria carne de Cristo e não apenas uma categoria sociológica".

A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 17-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Lasanhas vegetais, filé de frango empanado com legumes ao forno e um babà de sobremesa. Entre as mesas postas no Salão Nervi, encontram-se sem-teto, italianos que se viram desempregados aos sessenta anos, refugiados e também cerca de cinquenta trans de Torvajanica, acompanhadas pelo pároco, Padre Andrea Conocchia, e pela Irmã Geneviève Jeanningros, uma comunidade que Francisco ajudou durante a pandemia. Enquanto as pessoas estavam confinadas em suas casas devido à Covid, o pároco viu um grupo de transexuais latino-americanas reduzidas à miséria chegar à Igreja da Beata Virgem Imaculada. Elas se prostituíam no litoral, mas a Covid havia feito sumir todos os clientes, deixando-as sem meios de subsistência. Elas escreveram ao Papa e foram ajudadas pelo Cardeal Esmoleiro Konrad Krajewski ("E é claro que as ajudamos, é o Evangelho"). Dois anos mais tarde, Bergoglio as recebeu, e elas estavam em lágrimas, com terços nas mãos e uma argentina lhe levou empanadas. Nesse meio tempo, o pe. Andrea conta ao Corriere, o número das trans na paróquia passou a ser cento e cinquenta: "Chegam de todo o litoral, recebem ajuda alimentar e frequentam a missa aos domingos, são todas sul-americanas e foram criadas em famílias católicas, para mim, são como todos os outros paroquianos."

Leão XIV fez exatamente isso, recordando seu antecessor no início do almoço: "Com grande alegria nos reunimos esta tarde, no Dia que nosso amado, meu antecessor, o Papa Francisco, considerou muito importante. Uma salva de palmas para o Papa Francisco!"

Durante a missa, a basílica estava lotada com seis mil pessoas, pelo menos vinte mil ficaram na praça para acompanhar pelos telões, e o Pontífice saiu para cumprimentá-las antes da celebração. Em sua homilia, o Papa Prevost voltou a falar da "globalização da impotência", que havia mencionado em setembro, em uma mensagem a Lampedusa, como uma mutação da "globalização da indiferença" denunciada por seu antecessor durante sua viagem em 2013. Porque hoje, “especialmente os cenários de guerra, infelizmente presentes em várias regiões do mundo, parecem confirmar o nosso estado de impotência”, observou ele: “Mas a globalização da impotência nasce de uma mentira, da crença de que essa história sempre foi assim e não pode mudar. O Evangelho, porém, diz-nos que precisamente nas convulsões da história, o Senhor vem nos salvar”.

Com São Paulo, o Papa destaca que “enquanto aguardamos o glorioso regresso do Senhor, não devemos viver uma vida recolhida em nós mesmos e num intimismo religioso que se traduz num descomprometimento pelos outros e pela história”. A pobreza, concluiu, interpela os cristãos em primeiro lugar, mas deve desafiar todos, a começar por aqueles que teriam o poder de mudar as coisas: “Não poderá haver paz sem justiça”.

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