Abusos do Pe. Rupnik: no cinema em setembro e no tribunal em outubro

Cena do filme "Nuns vs The Vatican" | Foto: Divulgação

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13 Setembro 2025

Foi com aplausos de pé que foi recebido o documentário Nuns vs The Vatican (Freiras versus Vaticano) na sua estreia mundial, no Festival Internacional de Cinema, de Toronto, que põe em cena o abuso de religiosas, em especial o caso do “abusador em série”, padre e artista de mosaicos Marko Rupnik.

A informação é de Manuel Pinto, publicada por 7Margens, 10-09-2025.

Tendo como realizadores os italianos Lorena Luciano e Filippo Piscopo, o filme apresenta Gloria Branciani, uma das vítimas daquele clérigo, como figura central. A obra baseia-se na investigação jornalística desenvolvida desde 2022 pelos jornalistas Giorgio Meletti e Federica Tourn.

Foram estes jornalistas – e ainda Stefano Feltri – que revelaram, em 20 de julho último, num podcast, que será em 13 de outubro próximo que o padre Rupnik irá começar a responder perante o tribunal criado no âmbito do Dicastério para a Doutrina da Fé às acusações de abuso espiritual e sexual de que é objeto, por parte de algumas das cerca de três dezenas de mulheres, a maioria das quais religiosas da Comunidade Loyola.

O início do julgamento ocorre quase dois anos depois de o Papa Francisco ter ordenado a reabertura do processo deste ex-membro da Companhia de Jesus, que conseguiu manter-se todos estes anos incontatável, até para os seus superiores hierárquicos.

Ao longo deste tempo, vítimas como Gloria Branciani, a primeira a denunciar o padre Rupnik, e Mirjam Kovac apareceram em público com a respetiva advogada, manifestando a preocupação pelo facto de muitas vítimas não terem ainda sido contatadas. Mais tarde, o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé deu conta de que, internamente, se teve de aprofundar um conceito e uma problemática cruciais para este tipo de casos – o de abuso espiritual – e de constituir um painel de juízes habilitados e disponíveis para julgar este processo.

Num texto escrito ainda em Toronto, Federica Tourn deu conta do sucesso da estreia do documentário, no último sábado, dia 6 e na reprise, no dia seguinte, ambos com lotação esgotada, naquele que é um dos festivais de cinema mais importantes do mundo. Citou igualmente a produtora do filme, Mariska Hargitay, que disse que, na obra exibida, “as palavras das freiras contam e o testemunho de Gloria foi muito inspirador”.

O documentário apresenta também a história de uma freira italiana violada durante uma missão em África, bem como o testemunho considerado “arrepiante” de Barbara Harris, líder da Rede de Sobreviventes Abusados por Padres. Conforme relata Federica Mourn, Harris “conta como engravidou após ter sido abusada por um padre e foi forçada a fazer um aborto clandestino graças ao favor de um médico complacente (com o padre), que não poupou desprezo e insultos durante a operação”.

A jornalista, que tem acompanhado este processo e dado voz a várias das vítimas, observa que, para a Igreja, “os corpos das mulheres ainda estão congelados no papel de mãe ou pecadora”, mas quando se trata de religiosas, esses corpos “são simplesmente removidos”. “Completamente dependentes das suas congregações, sem remuneração e vinculadas à obediência aos seus superiores e diretores espirituais, é ainda mais difícil para freiras e irmãs denunciarem abusos: elas correm o risco de serem desacreditadas, ou pior, acreditadas e, portanto, isoladas pelas colegas freiras, se não mesmo expulsas da vida religiosa por completo”, sublinha.

O caso de Gloria é exemplar. Ela tomou a iniciativa de denunciar o agressor ao arcebispo da diocese de Liubliana, onde a Comunidade Loyola estava registada, ao mestre espiritual de Rupnik e futuro cardeal Tomáš Špidlík bem como à superiora geral e fundadora da Comunidade, com o padre artista, Ivanka Hosta. Sem qualquer resultado palpável, o que a deixou ainda mais isolada. Hoje os dois hierarcas já não estão cá para testemunhar no processo e a fundadora, que foi castigada pelo Vaticano por abusos espirituais e de poder sobre as religiosas, nas décadas seguintes, viu ser-lhe fixada residência naquela que foi a comunidade de Braga, em Portugal, e está muito tranquila a fazer serviço pastoral na cidade, como se nada tivesse acontecido.

Cartaz do documentário "Nuns vs The Vatican" (Foto: Divulgação).

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