Movimentos lançam plebiscito popular sobre escala 6×1 e taxação dos ricos para fortalecer diálogo com trabalhadores

Foto: Divulgação | Jeivison José

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12 Abril 2025

Consulta popular será realizada em setembro e tratará de temas essenciais para a justiça social.

A informação é de Adele Robichez e Carolina Bataier, publicada por Brasil de Fato, 10-04-2025. 

Movimentos populares, sindicais e estudantis realizaram, na noite desta quinta-feira (10), o lançamento do Plebiscito Popular 2025, que será realizado em setembro. A proposta é que a população vote sobre o fim da escala 6×1, a redução da jornada de trabalho sem corte salarial e a taxação dos super-ricos, com a tributação sobre quem ganha mais de R$ 50 mil, garantindo que quem recebe até R$5 seja isento de IR.

O evento, realizado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, no centro da capital paulista, começou com uma apresentação de jovens do Levante Popular da Juventude, que chamaram a atenção para as dificuldades impostas pela escala 6×1 sobre a vida dos trabalhadores.

“Se a minha mãe saísse no domingo, eu não a via quase o mês inteiro. Ela trabalhava à noite, eu saía do trabalho 22h20 e entrava 14h20″, contou Vi Nunes Alcântara, 25, integrante do Levante, que compartilhou parte da sua experiência de trabalhar em um shopping com folga apenas um domingo por mês.

Experiências como a de Alcântara ressaltam a relevância dos temas para a saúde e a dignidade da população. “Precisamos lutar por instrumentos de política econômica que possam elevar o grau de justiça na sociedade para que possamos ter paz dentro de cada país e entre os países”, afirmou o deputado estadual e ex-senador Eduardo Suplicy (PT-SP), em entrevista ao Brasil de Fato. Presente na convenção, ele avaliou a mobilização como um passo importante rumo à construção de uma sociedade mais justa e solidária. “Então, precisamos pensar em quais são aqueles instrumentos que signifiquem a melhor qualidade de vida para a população.”

A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Manuela Mirella, reforçou que estudantes também compõem a classe trabalhadora e que a juventude terá papel essencial na mobilização. “O nosso papel aqui no plebiscito é lutar para dar dignidade ao povo trabalhador, inclusive nós estudantes, que também fazemos parte dessa parcela de trabalhadoras e trabalhadoras”, afirmou. “Queremos rodar os quatro cantos do nosso país com formação, levando informação, combatendo fake news e os ataques da extrema direita.” Para ela, é importante que todos consigam entender as pautas discutidas.

Para Simone Nascimento, do Movimento Negro Unificado (MNU), o plebiscito tem potencial de adesão por tratar de temas centrais para a vida da classe trabalhadora. “Nós vamos avançar até a urna abrir e a podermos ouvir o que a população vai dizer, o que o povo que vai dizer. Tem sido um processo que está frutificando e eu tenho certeza que vamos avançar mais”, disse.

Ela destaca que o processo de construção da proposta está fortalecendo a unidade entre os movimentos populares. “Hoje é um momento simbólico importante, mas vamos sair daqui construindo com os estados para que esse processo siga em cada ponto do país.”

Em seu relato, Alcântara reforçou a importância de se debater o fim da escala 6×1 sem o aumento da jornada de trabalho. Ela conta que, quando a escala no shopping mudou para 5×2, a carga horária diária aumentou: passou a cumprir as mesmas 42 horas semanais em turnos de até 12 horas, com deslocamento a pé por falta de vale-transporte. “Esses dois dias de folga parecem ser muito, mas no final é só um dia a mais para descansar do cansaço de todo dia”, observou. Hoje, Alcântara atua como freelancer em um bar e atua na organização do Levante: “A luta me dá uma luz muito grande.”

Resposta ao avanço da extrema direita

Militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Igor Felipe destacou que o Plebiscito Popular 2025 é a principal iniciativa unificada das forças progressistas neste ano. “Estamos dando a largada num processo de organização, mobilização e batalha de ideias”, afirmou. Para ele, o momento exige engajamento ativo dos movimentos populares, diante de um cenário político adverso à classe trabalhadora. “Temos um Congresso dominado por parlamentares de direita, um sistema pressionado pelo capital e pela extrema direita.”

Segundo Felipe, o plebiscito se estrutura em três grandes fases: a construção organizativa em cada bairro, escola, universidade e local de trabalho; a coleta de votos da população sobre os três temas centrais; e, por fim, a entrega dos resultados em Brasília às lideranças dos Três Poderes. “Vamos falar: ‘Aqui está o resultado da soberania popular, da vontade de milhões de pessoas e nós queremos que o governo e o Congresso e o Poder Judiciário atuem para que esses projetos sejam aprovados'”, projeta.

Ele relembrou que o instrumento do plebiscito popular já foi utilizado em momentos estratégicos, como nas campanhas contra a adesão à Alca e pela reestatização da Vale. Agora, ele vê a volta desse tipo de mobilização como uma nova etapa da luta por soberania e justiça social. “Há muito tempo que nós não conseguimos uma unidade em torno de bandeiras concretas que dialogam com a vida da classe trabalhadora brasileira”, avalia.

O evento marca o início de uma campanha nacional de consulta popular que deve se espalhar por todo o Brasil nos próximos meses, com ações nas ruas, formações e diálogo direto com a população sobre as propostas em debate.

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