20 Janeiro 2025
“Estes 15 meses foram o pior e mais difícil período desde que estou aqui, há 35 anos”, afirma o Cardeal Pierbattista Pizzaballa.
A entrevista é de Catia Caramelli, publicada por Il Sole 24 Ore, 19-01-2025.
O Cardeal Pierbattista Pizzaballa comenta o acordo para Gaza nesta entrevista. Para o Patriarca de Jerusalém dos Latinos, não podemos mais nos permitir voltar à situação anterior. Os problemas que estão na raiz da situação, a chamada questão israelense-palestina, devem ser abordadas com seriedade e credibilidade, e levará tempo para reconstruir a confiança.
Eminência, qual é o seu estado de espírito hoje?
Estou muito feliz, sinto uma sensação de libertação, se é que se pode dizer isso, porque nos sentíamos todos um pouco esmagados por essa guerra, por essa situação, o anúncio do cessar-fogo, da trégua, por mais frágil que possa ser, parece-me um ponto de virada importante e positivo, do qual todos nós precisávamos.
Como foram esses 15 meses?
Eu estou aqui há 35 anos e, com certeza, foi o pior e mais difícil período, sob todos os pontos de vista, não só por causa da violência da guerra, muito ampla, Gaza está praticamente destruída, mas também por causa do que aconteceu em 7 de outubro. Aconteceu algo que seria inimaginável antes, uma violência incrível, mas também pelo impacto emocional na população, o sentimento de desconfiança, a perda de qualquer possibilidade de relação, o ódio profundo que também é expresso na linguagem, na mídia.
Esse período foi bastante difícil, muito pesado até mesmo para nós, cristãos, especialmente para a Igreja, para mim. Encontrar a linha certa a ser seguida, tentar dizer as coisas como devem ser, mas sem destruir as relações, tem sido muito difícil.
O senhor fala de Gaza, que foi completamente destruída, e pede que as ajudas cheguem o mais rápido possível.
Neste momento, a população de Gaza é totalmente dependente de ajudas externas, alimentos, remédios, escola. Ninguém fala sobre a escola, mas são dois anos que as escolas estão fechadas e agora não podemos mais permitir que as crianças percam também um terceiro ano de estudo. Não faz sentido falar sobre reconstrução, sobre confiança, se não pensarmos na formação desses jovens que agora estão à mercê de extremistas ou abandonados.
Como bispos da Terra Santa, vocês pediram uma paz justa, para remover as próprias razões do conflito.
Sim. Acredito que depois deste ano tão terrível de guerra, de destruição, de ódio profundo, não podemos mais nos permitir voltar à situação anterior. Os problemas que estão na raiz da situação, a questão israelense-palestina, sejamos francos, devem ser abordados com seriedade e credibilidade.
O problema sempre foi adiado, mas agora não se pode mais adiar, devemos isso aos mortos, aos tantos mortos, devemos acima de tudo aos jovens e à próxima geração que não pode herdar de nós uma situação que, se não for enfrentada, só pode piorar. Há 7 milhões de judeus e 5 milhões de palestinos aqui que não desaparecerão, é preciso dar a eles um futuro, um futuro sereno para todos.
O senhor estava falando sobre os jovens, as crianças. Há muitas feridas, não apenas físicas, que precisam ser curadas, mesmo nos adultos. Como se pode trabalha para a reconciliação?
Certamente levará muito tempo, será importante, especialmente para as crianças, para os jovens que respiraram tanto ódio e cujos corações estão envenenados por esse ódio e essa guerra, será necessário trabalhar de forma conjunta. O ódio só pode ser superado com o amor. Será necessário obter ajuda, encontrar especialistas que nos ajudem não apenas a reabrir as escolas, mas também levando em consideração esse contexto tão ferido. Os tempos certamente serão longos, e a confiança também terá de ser reconstruída. Antes de haver paz, é preciso haver um mínimo de confiança. A confiança precisa de gestos, mas também precisa de pessoas com credibilidade, novos líderes, políticos, também religiosos, que sejam capazes de elaborar uma narrativa diferente da que construímos até agora.
Vimos, no último Natal, a Terra Santa sem peregrinos, sem turistas. Peçam a eles que retornem...
É uma urgência. A ausência de peregrinos torna tudo muito mais triste, porque sem os peregrinos as ruas ficam vazias. Acima de tudo, a presença dos peregrinos traz trabalho para muitas famílias, o sorriso para muitas famílias. Fala-se muito de esperança, de confiança. Precisamos, então, reabrir as nossas ruas. Espero que, com o cessar-fogo, os voos para a Terra Santa também sejam retomados, porque agora há poucos voos e se possa superar o medo de vir. Posso garantir que a peregrinação é segura e seria uma forma maravilhosa de apoio e ajuda a todas as populações da Terra Santa. A esperança não é feita apenas de palavras, é feita de pessoas, de rostos que se empenham, que estão dispostos a dar algo de si.