09 Março 2024
A situação humanitária na Faixa de Gaza está cada vez mais dramática. “Uma menina de 15 anos morreu de sede: é o décimo oitavo caso em uma semana”. Alarme para as duas paróquias que acolhem 830 deslocados: "Estamos ficando sem suprimentos". Na linguagem do xadrez é chamado de zeitnot. Indica quando os jogadores estão com pouco tempo disponível para fazer seus próprios movimentos. Essa é exatamente a situação em que se encontram os negociadores de Israel e do Hamas. O início do Ramadã no domingo paira sobre as negociações. Os Estados Unidos – juntamente com os mediadores Qatar e Egito – estão pressionando para que um cessar-fogo até essa data esteja em vigor. Cada um dos dois adversários, no entanto, teme que uma medida arriscada possa zerar a vantagem sobre o outro. E assim permanecem parados. Segundo Washington, a bola está nas mãos dos milicianos.
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 07-03-2024.
Em especial, do seu líder na Faixa, o esquivo Yahya Sinjar, que, no entanto, poderia ser interessado em continuar os combates em pleno Ramadã, na esperança de finalmente obter o apoio militar dos estados árabes, que até agora têm relutado em ir além das palavras. Do Cairo, porém, os representantes do Hamas reiteraram o seu empenho e flexibilidade para chegar ao acordo e repassam a responsabilidade pelo atraso a Israel. Sobre a pausa de cerca de 40 dias nos combates e sobre a troca entre reféns e detidos palestinos, as partes concordam. No entanto, quando se entra no específico das modalidades de libertação e da retirada da Faixa, a negociação para.
No último rascunho de proposta, o Hamas teria inserido – dizem fontes próximas às negociações – alguns nomes não negociáveis de prisioneiros a serem libertados. O primeiro da lista – que inclui vários expoentes importantes da Intifada – seria Marwan Bargouti, considerado por muitos aquele que, pelo apoio que desfruta também na Cisjordânia, poderia dar um novo impulso à Autoridade Nacional Palestina (ANP). Outra rodada está prevista para hoje, mas, mais uma vez, a delegação israelense poderia não estar presente porque os milicianos se recusam a dizer quantos dos 134 reféns ainda estão vivos. A continuação dos combates torna cada vez mais insustentável a situação no campo. Exatamente cinco meses após o início do conflito, as vítimas no enclave chegaram a 30.717, segundo dados fornecidos pelas autoridades sanitárias controladas pelo Hamas. Houve 86 mortes só nas últimas 24 horas.
Juntamente com os mortos nos confrontos, aumenta o número de pessoas que morrem de fome, sede e doenças tratáveis devido à implosão dos hospitais. Ontem o Ministério da Saúde de Gaza anunciou a morte na cidade de Gaza de uma jovem de 15 anos gravemente desidratada: o décimo oitavo caso em uma semana.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) denunciou uma extrema desnutrição infantil na Faixa já teria causado a morte de dez crianças. Para aliviar a pressão, a União Europeia está avaliando a criação de um corredor humanitário para as ajudas. “Sem um cessar-fogo não haverá mais alimento, é uma situação gravíssima", é o alarme lançado pelo secretário da Caritas Jerusalém, Anton Asfar, ontem em Roma ao se encontrar com o padre Marco Pagniello, diretor da Caritas italiana, que garantiu seu apoio técnico e financeiro. “A Caritas Jerusalém é uma das três organizações humanitárias presentes no norte da Faixa, bem como em Rafah e Khan Yunis, explicou Asfar. Até ao momento, apesar das enormes dificuldades e dos lutos sofridos, conseguimos prestar assistência básica às 803 pessoas acolhidas nas duas paróquias da Cidade de Gaza. Os suprimentos, porém, estão acabando. É uma situação gravíssima".
As duas Caritas também estão preparando uma série de intervenções de longo prazo de apoio econômico a Gaza e na Cisjordânia. Também nos territórios, com as autorizações de trabalho em Israel congeladas e centenas de barreiras que impedem a mobilidade de pessoas e mercadorias, a crise econômica é forte. E com ela aumenta a tensão. Para piorar ainda mais, nova autorização de Israel para 3.500 novas casas nos assentamentos de Male Adumim, Efrat e Kedar, ao longo da área de Jerusalém a Jericó. Uma escolha duramente contestada pela Peace Now: “Em vez de construir um futuro de paz e segurança, o governo prepara o caminho para a nossa destruição”.
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Gaza. Depois de cinco meses o acordo ainda não foi acertado. Caritas: sem trégua não haverá mais comida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU