O caminho do Sínodo. Artigo de Enzo Bianchi

Foto: Lola Gomez | CNS | Vatican Media

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31 Outubro 2023

"As palavras que ele faz ressoar sob as abóbadas do Vaticano teriam sido ouvidas com horror até vinte anos atrás. As invectivas contra o clericalismo e o autoritarismo na Igreja poderão ser invocadas para estigmatizar comportamentos eclesiásticos habituais, mas se não houver uma reforma dos componentes da Igreja, surgirão novas formas clericais que deturpem o Evangelho", escreve Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, membro da comunidade Casa Madia, em artigo publicado por La Reppublica, 30-10-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Ontem concluiu-se uma etapa do Sínodo que é certamente o ato mais importante depois do Concílio Vaticano II, porque visa mudar a forma da Igreja Católica. O Sínodo não terminou com o desfecho temido pelo teólogo espanhol Gordo, que previa a possibilidade de um aborto. Passou-se de uma fase inicial de escuta mútua entre todos os participantes (pela primeira vez bispos, religiosos, mulheres e homens leigos) para uma fase em condições de elaborar proposições e tomar decisões para toda a Igreja.

Essa é a fase mais difícil: será uma longa intersessão até outubro de 2024, não de interrupção, mas na qual será preciso trabalhar. A escuta mútua foi uma graça e uma bênção, mas será necessário também ouvir aqueles que são os “doutores” da Igreja, empenhados na pesquisa teológica. Parece-me que até agora os teólogos, os especialistas em epignosis eclesial, não deram a sua contribuição como aconteceu no Vaticano II. Seria injusto dizer que o Senhor não esteve no centro do debate, mas a cristologia que molda a Igreja não me pareceu hegemônica no debate sinodal.

É por isso que todos precisam confiar mais no Evangelho para poder mudar, inovar, reacendendo a paixão por Deus e pela humanidade. Infelizmente por falta de informações conforme pedido pelo Papa Francisco, sabemos pouco, mas temos certeza de que todos expressaram sua opinião sobre o Instrumentum laboris e, portanto, sobre as questões que surgiram como urgentes nas igrejas locais.

Claro, há demasiados temas para um Sínodo: da ecologia, à nova antropologia, à vida da Igreja.

Será necessário reduzi-los e atribuir cada tema a teólogos competentes que expressem possíveis formas de implementação e preparem decisões sinodais. Certamente o Papa escolheu um caminho que não é o seguido nos últimos tempos. As palavras que ele faz ressoar sob as abóbadas do Vaticano teriam sido ouvidas com horror até vinte anos atrás. As invectivas contra o clericalismo e o autoritarismo na Igreja poderão ser invocadas para estigmatizar comportamentos eclesiásticos habituais, mas se não houver uma reforma dos componentes da Igreja, surgirão novas formas clericais que deturpem o Evangelho.

Finalmente, neste último ano sinodal, creio que ainda existe a possibilidade de envolver no caminho muitos fiéis que até agora permaneceram de fora. Se fossem delineados pontos precisos a investigar tendo em vista uma decisão, é mais provável que simples cristãos se sentissem envolvidos e encorajados a participar. Até agora, de fato, os fiéis das nossas comunidades encontraram temas que mais os ofuscaram do que intrigaram e não tiveram vontade de se empenhar num caminho sinodal demasiado vago.

O relatório de síntese, votado por uma grande maioria que poucos esperavam, abre muitas questões a serem abordadas e indica modos concretos de reforma para toda a Igreja. Sim, a reforma está agora em curso e Francisco será lembrado, depois de João XXIII, como o Papa que, profeticamente e de forma convicta, quis e iniciou uma tentativa de reforma.

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