18 Setembro 2023
José Eduardo Borges de Pinho admite tensões no debate sobre sinodalidade e destaca dimensão ecumênica do tema.
A reportagem é publicada por Agência Ecclesia, 15-09-2023.
José E. B. de Pinho, teólogo português, considera que o processo sinodal lançado pelo Papa Francisco, 60 anos depois do Concílio Vaticano II (1962-1965), é um momento “significativo, muito marcante” para a Igreja. “É o grande acontecimento de recepção do Concílio da nossa geração”, refere o especialista em entrevista à Agência Ecclesia.
Para o professor jubilado da Universidade Católica Portuguesa (UCP), Francisco lançou um caminho inspirado pelo ensinamento conciliar que leva a Igreja a “repensar o seu modo de estar”, perante um mundo em mudança. “É normal que surjam algumas tensões”, admite.
Borges de Pinho fala num “perigo real” de derivas ideológicas e de “deturpação” dos verdadeiros objetivos do processo sinodal. “Não temos, na tradição católica, uma grande experiência de diálogo aberto e continuado”, observa, apontando a uma mentalidade mais “disponível para receber as coisas de cima para baixo” ou mesmo marcada por um “certo autoritarismo”. O teólogo considera que há pessoas e grupos que não estão disponíveis para “caminhar com o espírito e a letra do Concílio Vaticano II” e se “autoexcluem”.
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 4 a 29 de outubro de 2023, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.
José de Pinho sublinha que os trabalhos vão enfrentar desafios levantados por uma presença nos cinco continentes, que implica diversas “sensibilidades” e “visões culturais”. O entrevistado recorda que Francisco também convocou para este encontro participantes que olham para o processo sinodal com reservas e até ceticismo. “Temos de aprender a ouvir outras posições, mesmo não concordando com elas e dizendo claramente que não são caminho de futuro, sem meias palavras, e a manter as pontes de diálogo, na convicção de que o acolhimento de Deus pelas pessoas, na vida da Igreja, não obedece completamente aos nossos critérios”, sustenta.
O Vaticano apresentou a 20 de julho o Instrumentum laboris para a primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, o documento de trabalho que resultou do processo sinodal a nível das dioceses, conferência episcopais e continentes desde outubro de 2021. A assembleia vai ser antecedida por uma vigília ecumênica de oração, a 30 de setembro, na Praça São Pedro, unindo o Papa e líderes de 12 confissões cristãs.
Para Borges de Pinho, este é um momento de grande simbolismo, recordando que a sinodalidade tem “uma grande tradição” em termos ecumênicos, com tradução em “formas de partilha e participação” noutras tradições cristãs. “Hoje, mesmo na visão ecumênica global, há uma mudança”, superando uma visão centrada apenas no acordo sobre determinados temas, valorizando o que é possível fazer juntos no momento atual. “A Igreja tem de dar um salto qualitativo, na vivência da sinodalidade, também na sua faceta ecumênica”, acrescenta.
O especialista aponta a um “processo de aprendizagem, amplo”, por parte dos responsáveis católicos. “Os resultados vão demorar o seu tempo”, considera Borges de Pinho, defendendo que os frutos do processo sinodal “virão ao de cima”. O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
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Igreja: processo sinodal lançado pelo Papa é “o grande acontecimento de recepção” do Concílio Vaticano II, diz especialista português - Instituto Humanitas Unisinos - IHU