08 Agosto 2023
"Uma questão que está no centro da atenção das mulheres em todo o mundo é a retomada da prática de ordenar mulheres ao diaconato, sobre a qual não há nenhum ensinamento do magistério".
O artigo é de Phyllis Zagano, Ph.D., pesquisadora e professora adjunta de religião na Universidade Hofstra, em Hempstead, no estado de Nova York, nomeada por Francisco para compor a Comissão de Estudo sobre o Diaconato Feminino, publicado por 7 Margens, 27-07-2023.
Este texto é continuação deste artigo.
Estas respostas ao Documento para a Etapa Continental, enviadas aos gabinetes sinodais em março e abril de 2023, resultaram no Instrumentum Laboris ou Documento de Trabalho publicado em 20-06-2023. Produzido por uma equipe de 22 pessoas, o Instrumentum Laboris é o texto base para a primeira das duas assembleias sinodais a realizar em Roma, de 4 a 29 de outubro de 2023.
As próprias reuniões sinodais são inovadoras na medida em que, pela primeira vez, incluirão muitos leigos como membros votantes. A maioria dos membros serão bispos, representantes das dioceses e das cúrias. Além disso, as sete assembleias continentais foram convidadas a nomear 20 não bispos (padres, diáconos, religiosos não ordenados, leigos) com a condição de metade dos nomeados serem mulheres e de pessoas mais jovens serem também incluídas. Um total de 70 dos 140 nomeados foram escolhidos como membros votantes do sínodo. Haverá também dez religiosos com direito a votar: a União Internacional dos Superiores Gerais (UISG) feminina e a União dos Superiores Gerais (USG) masculina enviarão cinco representantes cada. Anteriormente, o grupo de homens nomeava dez representantes votantes e, mais recentemente, dois irmãos religiosos votaram no Sínodo da Amazônia. Os membros do Sínodo reunirão na Sala Paulo VI, em Roma, durante as assembleias de outubro de 2023 e outubro de 2024.
O que mais chama a atenção no Instrumentum Laboris é que se assemelha mais a um roteiro para o processo do que a um documento com declarações a serem consideradas. Não muito diferente dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, o Documento de Trabalho traça um caminho e ensina um método de discernimento da vontade de Deus. As várias questões são o resultado da oração, do debate e do discernimento que aconteceram previamente em todo o mundo. O Instrumentum laboris pede aos membros do Sínodo que considerem todos os documentos anteriores, especialmente o Documento para a Etapa Continental, os Documentos Finais das Assembleias Continentais e o relatório do “Sínodo Digital”, como meios para “continuar o caminho já em curso”. O Instrumentum Laboris não dá respostas. Faz perguntas.
Uma questão que está no centro da atenção das mulheres em todo o mundo é a retomada da prática de ordenar mulheres ao diaconato, sobre a qual não há nenhum ensinamento do magistério. O Instrumentum Laboris refere: “A maioria das assembleias continentais e as sínteses de várias conferências episcopais pedem que se considere a questão da inclusão das mulheres no diaconato”. Em seguida, pergunta: “É possível considerar esta questão e como fazê-lo?”
A possível ambiguidade intencional no Documento para a Etapa Continental está refletida no Instrumentum Laboris. O Documento para a Etapa Continental falava de “um diaconato feminino”, que pode significar mulheres ordenadas como diáconos. Ou pode significar mulheres num ministério leigo não ordenado. Devemos perguntar-nos se a frase “inclusão da mulher no diaconato” no Instrumentum Laboris é igualmente ambígua.
O presente caminho sinodal recupera uma tradição da Igreja antiga e faz eco do modo como os cristãos se uniram em comunhão para levar a cabo a sua missão. Hoje, há uma grande diferença resultante de uma maior presença das mulheres.
E uma das questões relativa à sua participação é o diaconato feminino. O terem sido ordenadas mulheres diáconas é um fato histórico, mas esse fato diz respeito a um momento e a um lugar particular da história cristã. A história, por si só, não é determinante. Se a Igreja de hoje concluir que mulheres diáconas são necessárias, isto pode ser parcialmente resolvido pelo Sínodo, sendo depois formalmente aprovado pelo Papa. Caberia às conferências episcopais solicitar mulheres diáconas, e cada bispo diocesano tomaria as suas próprias determinações sobre a concretização local.
Haverá argumentos significativos contra a ordenação de mulheres ao diaconato, mas dizer que as mulheres não podem ser ordenadas, apenas com acesso a um ministério quase diaconal, insulta a sua igualdade batismal. O falso argumento contra a restauração das mulheres ao diaconato ordenado que afirma que as mulheres não podem ser imagem de Cristo é a causa implícita, se não direta, da difamação e do desrespeito pelas mulheres em todos os continentes. Como assinala o Instrumentum Laboris, "uma Igreja sinodal deve abordar estas questões em conjunto, procurando respostas que ofereçam um maior reconhecimento da dignidade batismal da mulher e a rejeição de todas as formas de discriminação e exclusão enfrentadas pelas mulheres na Igreja e na sociedade".
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Mulheres diáconas? Parte II. Artigo de Phyllis Zagano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU