01 Agosto 2019
O dia 31 de julho marca a memória de Santo Inácio de Loyola, o fundador da Companhia de Jesus. O Papa relembra-o em um tweet. Com o padre Federico Lombardi falamos sobre o carisma do Santo, sua atualidade e sua ligação com o pontificado de Francisco
A reportagem é de Eugenio Bonanata, publicada por Vatican News, 31-07-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Santo Inácio de Loyola, que hoje relembramos, quando jovem soldado pensava em sua própria glória, depois, em vez disso, foi atraído pela glória de Deus, que deu sentido à sua vida". Assim se manifestou o Papa em um tweet publicado nesta quarta-feira na conta @Pontifex.
Os jesuítas sentem uma particular sintonia com Francisco, também jesuíta, embora a Companhia de Jesus desde o seu nascimento considere cada pontífice como seu superior: é o que afirma ao Vatican News Padre Federico Lombardi, presidente do Conselho de Administração da Fundação do Vaticano Joseph Ratzinger - Bento XVI, por ocasião da celebração de Santo Inácio de Loyola, enfatizando três pontos-chave do atual Pontificado: a Igreja em saída, o discernimento e a sinodalidade, simbolizados pelo povo em caminho sob a direção do Espírito Santo.
"Os jesuítas - ele explica - vivem o carisma de Santo Inácio em termos de serviço, seguindo Jesus e tentando imitá-lo da maneira mais real e profunda. E isso significa ajudar as pessoas a conhecer o Evangelho e a orientar bem suas vidas".
Observando mais detalhadamente às atividades realizadas pelos jesuítas, padre Lombardi recorda o empenho missionário, como aquele na China, na Índia e na América Latina; o binômio fé e cultura, que levou os jesuítas a fundar e administrar muitas universidades e escolas em todo o mundo; e a ação nas periferias do mundo, nos últimos tempos principalmente ao lado dos migrantes.
As a young soldier, St Ignatius of Loyola, whom we remember today, thought of his own glory. But then he was attracted by the glory of God, which gave meaning to his life.
— Pope Francis (@Pontifex) July 31, 2019
Padre Lombardi, qual a atualidade de Santo Inácio?
Temos duas dimensões: uma é a de ajuda, da inspiração, da busca espiritual pessoal de cada um. O livro dos Exercícios espirituais, que ajuda na busca da vontade de Deus na própria vida, é uma mensagem universal que Inácio dá e que é apreciada mesmo fora da Igreja Católica. Além disso, na concretização que se tem na Companhia de Jesus, isto é, nos religiosos que se unem como corpo para segui-lo, torna-se antes um carisma de serviço nas fronteiras da Igreja e do mundo onde há necessidade de ajudar as pessoas a encontrar o Senhor. Pois bem, é um serviço que também acontece sob a orientação do Papa e das indicações para as necessidades maiores da Igreja universal.
Quais foram os pontos particularmente significativos da ação da Companhia em sua história?
Não há uma atividade específica e exclusiva que os jesuítas tenham realizado. Mas, certamente, na história da Igreja, o empenho missionário dos jesuítas - por exemplo, os missionários da China, da Índia e da América Latina com as reduções, e assim por diante - representou verdadeiramente uma epopeia de anunciação do evangelho muito grande. E inclusive hoje a missão em todas as suas formas, embora tenham mudado, continua sendo de grande atualidade.
Outro aspecto que é bastante característico é que, como há um pouco dessa síntese de espiritualidade e cultura na formação de Inácio e de seus primeiros companheiros, foi natural que houvesse então uma grande atividade dos jesuítas no campo educacional. Disso decorreu, por exemplo, a criação de escolas e universidades: nos primeiros séculos da Companhia havia colégios jesuítas em quase todas as cidades da Europa, e mesmo hoje temos no mundo várias universidades católicas mantidas pelos jesuítas. Nos anos mais recentes da Companhia, a ênfase centrou-se mais na fé que opera na justiça e, portanto, em todos os aspectos de empenho nas periferias do mundo, nas situações mais difíceis. Agora é muito importante o serviço jesuíta para os refugiados e os imigrantes, que justamente se refere às próprias origens da Companhia de Jesus. No entanto, deve-se dizer que isso se tornou uma dimensão particularmente significativa que acompanha bem a ideia das periferias de que o Papa Francisco fala.
Qual é a influência de Santo Inácio no pontificado de Francisco?
Francisco é um jesuíta, ele diz isso, ele o reconhece, ele sente isso. Eu diria que, como jesuítas, há três aspectos em que nos sentimos muito sintonizados com Francisco e com o seu pontificado.
O primeiro é o fato da Igreja em saída da qual ele sempre falou: os jesuítas se sentem pessoas em missão, enviadas para servir ao Senhor nas fronteiras, nas periferias e em todos os lugares do mundo.
O segundo é sempre ir além, uma grande dinâmica, não se sentir presos, mas entender que o Senhor sempre nos chama a dar um passo adiante. Santo Inácio falou de uma glória de Deus cada vez maior, no sentido de que nunca consideramos que chegamos ao fim, que podemos ficar tranquilos e sentados porque tudo está feito. Em Francisco é forte esta sensação de dinâmica, do povo em caminho, do povo de Deus acompanhado pelo Espírito Santo que sempre vai além da sinodalidade e assim por diante.
O terceiro aspecto, bastante característico dos jesuítas, é o discernimento. Uma palavra que retorna continuamente em Francisco, isto é, conseguir ver na complexidade da realidade, tanto nas nossas vidas como nas realidades que a Igreja e a humanidade enfrentam, qual é a melhor maneira de realizar o plano de Deus e então realiza-lo por nós mesmos, como somos chamados por Deus em nossa vocação e na vocação ao serviço da Igreja.
O Papa Francisco que relações tem com a Companhia de Jesus?
A Companhia de Jesus se comporta com o Papa Francisco, como com todos os Papas, colocando-se à disposição. E considera o Papa como seu superior. Naturalmente com Francisco pode haver essa sintonia espiritual que também facilita a compreensão do sentido de suas mensagens e, por sua vez, sendo ele também jesuíta, existem as normais relações com pessoas que ele conhece e a quem ele se sente espiritual e historicamente próximo. Mas não são relações de privilégio especial, nem os jesuítas desejam ser privilegiados. Desejam apenas fazer o seu serviço de acordo com o que o Papa pede. Hoje o papa é um jesuíta e estamos felizes de servi-lo da melhor maneira.
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O Papa relembra Santo Inácio de Loyola, atraído pela glória de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU