14 Julho 2023
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, denunciou o “fracasso” de um sistema financeiro internacional que permite que 3,3 bilhões de pessoas vivam em países onde os governos gastam mais com o pagamento de juros de sua dívida externa do que em educação e saúde.
A reportagem é publicada por La Jornada, 12-07-2023. A tradução é do Cepat.
Segundo o relatório da ONU Um mundo de dívidas, a dívida pública mundial alcançou o valor recorde de 92 trilhões de dólares, em 2022, devido ao endividamento dos governos para enfrentar crises como a pandemia de covid-19. São os países em desenvolvimento que mais estão sofrendo esse peso.
“Metade do nosso mundo se afunda em um desastre de desenvolvimento, alimentado pela esmagadora crise da dívida”, lamentou Guterres ao apresentar o relatório sobre o estado da dívida no mundo.
“Cerca de 3,3 bilhões de pessoas, quase a metade da população (mundial), vivem em países que gastam mais com o pagamento de juros de sua dívida do que em educação e saúde”, lembrou.
No entanto, essas dívidas insustentáveis estão concentradas em países pobres e “não são consideradas um risco sistêmico para o sistema financeiro mundial”. “É uma ilusão, 3,3 bilhões de pessoas são mais do que um risco sistêmico. São um fracasso sistêmico”, argumentou.
De acordo com o relatório Um mundo de dívidas, o total da dívida pública mundial aumentou para 92 trilhões de dólares, em 2022, cinco vezes mais do que no ano 2000, quando era de 17 trilhões.
Os países em desenvolvimento devem quase 30% da dívida pública mundial, da qual China, Índia e Brasil respondem por 70%. Cinquenta e nove países em desenvolvimento enfrentam um nível de mais de 60% da dívida, em relação ao PIB, e que está crescendo mais rápido porque os juros que pagam são cada vez mais altos.
Além disso, a arquitetura financeira internacional torna o acesso dos países em desenvolvimento ao financiamento inadequado e caro, destacou o relatório da ONU.
Em 2010, os credores privados representavam 47% da dívida externa dos países em desenvolvimento, mas, em 2021, essa porcentagem subiu para 62%.
Na África, a participação dos credores passou de 30%, em 2010, para 44%, em 2021, ao que que a América Latina tem a maior proporção de credores privados detentores de dívida externa de todas as regiões, com 74%.
Do total, 52 países – cerca de 40% do mundo em desenvolvimento – “têm expressivos problemas de dívida”, lembrou António Guterres, que reivindica, sem sucesso, uma reforma das instituições financeiras internacionais. “É um resultado da desigualdade intrínseca de um sistema financeiro mundial obsoleto, que reflete as dinâmicas coloniais da época em que foi criado”, afirmou.
O relatório foi divulgado antes da reunião de ministros das finanças e governadores de bancos centrais do G20, que acontecerá de 14 a 18 de julho.
Os autores do relatório defendem que os credores multilaterais deveriam expandir seu financiamento com medidas como a suspensão temporária das sobretaxas do Fundo Monetário Internacional – comissões que são cobradas dos tomadores de empréstimos, que usam regularmente suas linhas de crédito – e maior acesso ao financiamento para os países com problemas de dívida, bem como um mecanismo de renegociação da dívida, sem dar mais detalhes sobre como esse mecanismo deveria funcionar.
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António Guterres: O sistema financeiro internacional é um “fracasso” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU