08 Mai 2023
Entre as primeiras causas da escassez de alimentos estão os conflitos civis. Mas também incidem fenômenos naturais ligados ao aquecimento global do planeta e aos choques econômicos agravados pela pandemia Coronavírus. A maioria dos países em sofrimento se encontra no continente africano: fragilidades que causam o êxodo de milhões de pessoas. O "Relatório Global sobre a Crise Alimentar" (Grfc) foi publicado ontem pela rede FSIN.
A reportagem é de Matteo Fraschini Koffi, publicada por Avvenire, 04-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Comentários e análises derivadas dos estudos de diversas agências internacionais descrevem uma situação radicalmente agravada no último ano. Guerras civis, crises econômicas e desastres ambientais são as principais causas dos altos níveis de insegurança alimentar registrados durante o ano de 2022 no mundo.
A maioria dos países analisados pelo relatório está localizada no continente africano. A fragilidade desses sistemas políticos e econômicos muitas vezes causaram o êxodo de milhões de pessoas que atualmente vivem como refugiados em outros estados ou são deslocados internos do próprio país.
Segundo dados de 2022, 40% dos necessitados vivem na Etiópia, República Democrática do Congo (RD), Nigéria, Iêmen e Afeganistão. As tensões ainda são altas em todo o território da Etiópia que, durante cerca de dois anos, suportou uma complexa e sangrenta guerra civil. “A Etiópia hospeda mais de 800 mil refugiados principalmente do Sudão do Sul, Somália e Eritreia - afirma o Alto Comissariado da ONU para os refugiados (ACNUR). No entanto, 4,2 milhões de etíopes são deslocados internos, especialmente na região de Tigray, que precisam de ajuda alimentar".
Na Nigéria, onde recentemente foi eleito um novo presidente, Bola Tinubu, a situação continua a se gravar. Por causa da expansão jihadista e da colaboração com grupos armados do crime organizado, os deslocados no nordeste do país no ano passado foram "pelo menos 3 milhões", destacava o Programa alimentar mundial (Pam).
Na própria área da Nigéria, no entanto, existem mais de 8,4 milhões de civis sofrendo de desnutrição, outra das consequências que afligem grande parte do continente africano.
"Cerca de 35 milhões de crianças abaixo dos cinco anos em 30 países estudados sofrem de desnutrição – estima o Grfc que concentrou seu trabalho em 58 países do mundo. Cerca de 9,2 milhões deles sofrem de desnutrição aguda". Ambas as formas são a principal causa de mortalidade infantil na África, apesar de alguns progressos feitos no setor sanitário. Segundo o relatório, dois novos estados africanos se somaram à lista das piores situações de insegurança alimentar em curso: “A Guiné e a Mauritânia figuram pela primeira vez entre as principais crises alimentares – afirma o Grfc. Seus níveis de insegurança alimentar aguda são superiores aos relatados em 2021”.
Ambos os estados continuam sofrendo os efeitos da instabilidade política interna do país, é o caso da Guiné, ou ligada a um estado vizinho, como na relação entre a Mauritânia e o vizinho Mali envolvido em um conflito civil desde 2012. “Pelo quinto ano consecutivo, o número de pessoas atingidas pela insegurança alimentar está aumentando – afirmou Simone Garroni, diretora da Azione contra la fame (Acf). São sobretudo as guerras e os conflitos que provocam a fome".
Em 38 países analisados, os pesquisadores do estudo encontraram um aumento substancial nos custos de produtos alimentares em mais de 10 por cento. A guerra entre a Ucrânia e a Rússia, grandes exportadores de trigo para a África, e os obstáculos causados pela pandemia de coronavírus renderam a situação ainda mais difícil. Mas também os vários fenômenos naturais que se abateram sobre numerosos países africanos, causando inundações, ciclones e secas, têm contribuído para o aumento dos preços dos alimentos. Caberá, portanto, à comunidade internacional agir o mais rápido possível para evitar que esse contexto se agrave em 2023.
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As guerras estão devorando o mundo. A fome (em aumento) multiplica as crises - Instituto Humanitas Unisinos - IHU