30 Junho 2021
Seis em cada dez pessoas que passam fome no mundo vivem em zonas de conflito. Mais de 82 milhões de pessoas abandonaram suas casas, em 2020, por causas relacionadas aos conflitos e a violência, das quais 40% são crianças. Oito em cada dez pessoas refugiadas vivem em países pobres, onde a insegurança alimentar e a desnutrição aumentaram pela crise climática e o impacto da Covid-19. Desde tempos imemoriais, os conflitos bélicos e atos violentos estão diretamente relacionados ao aumento da insegurança alimentar e os números da fome.
A reportagem é de Judith Vives, publicada por La Vanguardia, 28-06-2021. A tradução é do Cepat.
As guerras e conflitos provocam deslocamentos em massa de população que precisa abandonar sua casa e meios de vida para buscar refúgio. Isto reforça o círculo vicioso entre fome e conflito. “A fome é uma arma de destruição em massa barata e silenciosa. A segurança alimentar desativa a violência, repleta de futuro para a paz”, afirma Manuel Sánchez-Montero, diretor de Relações Institucionais e Incidência da organização Ação contra a Fome.
Em 1949, após duas Guerras Mundiais, foram assinados as Convenções de Genebra: são tratados internacionais que reúnem as principais normas para limitar a barbárie das guerras e para tentar salvaguardar a população civil da fome, entre outros objetivos. No entanto, hoje em dia, o vínculo entre conflitos e insegurança alimentar segue vigente.
Os conflitos continuam sendo a principal causa e a que experimentou um maior aumento no impacto na insegurança alimentar das pessoas, um aumento de 50% em relação a 2019.
Os programas da Ação contra a Fome contribuem para reforçar a segurança alimentar e o acesso a bens e direitos essenciais das comunidades mais afetadas, para que não percam a esperança, nem se vejam forçadas a participar da violência para sobreviver. “Um dos objetivos desta organização é proteger as pessoas da violência gerada pela fome e mitigar os efeitos dos conflitos através da segurança alimentar, fator que contribui para a paz”, afirma Sánchez-Montero.
Entre as pessoas afetadas por conflitos, 56% vivem em zonas rurais. Em situações bélicas, estas pessoas fogem sem poder fazer suas colheitas e deixando os seus animais abandonados. Além disso, as guerras provocam um aumento de preços dos alimentos e produtos básicos e geram pobreza, já que reduzem o PIB de um país.
No dia 24 de maio de 2018, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou por unanimidade a resolução 2.417, que condena o uso da fome como arma de guerra e considera ilegal negar o acesso humanitário à população civil que precisa de ajuda.
Três anos depois, junto ao impacto da mudança climática e os efeitos da Covid-19, os conflitos e a violência são os fatores que mais incidem no aumento dos números da fome. A queima de terras, o roubo de gado e o bloqueio da ajuda humanitária são táticas muito comuns nestas situações, e têm um efeito direto na fome.
As oito crises alimentares mais graves do mundo ocorrem em países afetados por conflitos bélicos: Iêmen, República Democrática do Congo, Afeganistão, Etiópia, Síria, Sudão, Sudão do Sul e Nigéria. Nestes países, cerca de 72 milhões de pessoas enfrentam uma insegurança alimentar severa.
“É uma questão de vida ou morte para milhões de pessoas. É fundamental romper o ciclo entre a fome e os conflitos”, afirma Shashwat Saraf, diretor da Ação contra a Fome na Nigéria.
Analisar a relação entre as guerras e a insegurança alimentar é essencial para poder promover a segurança alimentar como fator que contribui para a paz.
Por essa razão, a organização Ação contra a Fome desenvolveu uma análise metodológica em colaboração com o Instituto Hegoa, da Universidade do País Basco, e com o apoio de eLankidetza, a Agência Basca de Cooperação para o Desenvolvimento, que permite compreender a relação entre os atos de violência e a insegurança alimentar nas zonas de conflito.
Esta metodologia busca potencializar a coleta e a análise de dados, complementando o atual mecanismo de elaboração de relatórios, de acordo com a Resolução 2.417 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
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Assim os conflitos bélicos influenciam na insegurança alimentar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU